24 novembro 2011

Balanço geral

A gente deve se arrepender de muita coisa, mas já ouvi discursos de outras gentes que não se arrependiam de tudo que haviam feito.
Um grande erro, na minha opinião, não se arrepender de nada. Há sempre algo do qual a gente não gostou de ter feito.

Eu me arrependo de muitas coisas e, dentre elas, a de não ter feito nenhuma mulher feliz. Honestamente, tentei; mas de boas intenções, dizem, o caminho do inferno é pavimentado. Acho que nem tanto ao mar, nem tanto à terra, não exageremos, mas é simbolicamente por aí.

Agora, no ocaso da vida, não há mais tempo e não dá para ser diferente, agir diferentemente do que venho tentando há décadas. Não se ensina truque novo a cachorro velho.

E não adianta muito me arrepender, neste caso, pois não há saída, como dito: o jeito é continuar tentando, em tudo dar de si o melhor.

Pelo menos é honesto.

Em todo caso, este é o último post deste blog, que tantas alegrias narcisistas me deu.

Muito obrigado aos poucos que me leram: quantidade não é qualidade mesmo...

Adeus e boa sorte para você.

10 novembro 2011

Perdidos na noite

Não sabemos quais os Poderes, que instituições defendem o Direito. Os últimos acontecimentos, e os recentíssimos, nos deixam aparentemente apáticos, mas é porque não sabemos a quem recorrer.

E isto é péssimo para o moral de um povo, pois cidadania se entende como uma incorporação de direitos e deveres do cidadão no seu próprio país perante o mundo inteiro.

Não sabemos mais quem somos, o que somos.

Onde estão nossos líderes, os verdadeiros, os necessariamente inatacáveis para o serem?

Temos autoridades, mas não temos pastores, sequer um pastor, pois rebanho precisamos ser para podermos dizer que somos algo consistentemente.

O único consolo é que até agora nenhum oportunista, das centenas que constituem o estado brasileiro, posou de honesto eficientemente, pois seria o pior dos pesadelos ter uma esperança após esta longa doença e descobrir que o elemento patogênico mudara de máscara apenas.

17 agosto 2011

Perplexos

O senador José Pimentel, do PT, disse sutilmente, por outras palavras e segundo os jornais - ao lembrar o episódio da renúncia de Jânio Quadros que proporcionou mecanismos e desculpas para o golpe de 64 -, que o combate à corrupção poderia levar o país à ditadura.

Discurso deste jaez será típico a um desesperado, ao ver a marola da insatisfação coletiva - antes na planta dos pés de muitos políticos - subir-lhe ao joelho e ameçar correr ao pescoço.

As ações que se seguem às idéias é que podem ser nefastas, mas jamais as próprias em si mesmas. E, ao contrário do pensa o ilustre senador, a força do povo é muito maior do que qualquer ditadura, basta claramente ser contrária a ela.

Este meu artigo pega uma carona no de Miriam Leitão  e complemento o pensamento dela dizendo que os partidos realmente não ficarão contra Dilma, se ela realmente fizer força contra a corrupção de maneira eficaz, uma vez que político é como biruta de aeroporto - que não tem ideologia, a não ser a de seguir os ventos. Se o combate cair no gosto do povo, já, já os integrantes dos partidos, para ficarem bem 'na fita', vão começar a queimar seus próprios correligionários, expulsando e delatando antigos companheiros de jornada prevaricadora.

E o povo já teve a ditadura e sabe muito bem como ela é, pois os corruptos de hoje, o cala-a-boca-senão-te-arrebento e o sabe-com-quem-está-falando-? nasceram justamente lá.

E se o movimento é tímido, apenas uma ondinha, é porque não se tem, no tempo da UDN, um Carlos Lacerda para dar direção e voz firme à insatisfação.

12 julho 2011

Ele é o Méssimo!

Eu acho que, por ser velho, sou mais crítico com relação aos jogadores de futebol atuais. Mas, e a meu favor, sendo, não sou intransigente. Minhas observações ácidas se valem de estatísticas.

Vejamos do que falo.

Cantam em prosa e verso - principalmente a imprensa esportiva e, de resto, o mundo todo -, a genialidade de Messi, o jovem jogador argentino que defende as cores do Barcelona.
É um bom jogador, não nego; mas somente isto.

Hoje, doze horas após o jogo de Argentina e Costa Rica pela Copa América, Messi correu feito um energúmeno, deu passes como ninguém, mas não fez sequer um gol. Aliás, nesta copa, não fez nenhum.
Para não dizer que sou perseguidor à toa, lembre-se que, na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, também não fez nenhum.

O que entendo disto é que sem Xavi e Iniesta do Barcelona, Messi não consegue produzir gols, e aqueles não são argentinos.
Então, a tal genialidade de Messi tem seis pernas, e apenas no clube.
Na Copa do Mundo e nesta Copa América, tem apenas duas e não tem bastado.
São pernas amputadas de um sansão prateado.

Fenômeno muito parecido temos cá em nossas províncias. O grande fenômeno da mídia esportiva, principalmente a paulista, é o atacante do Santos, Neymar.
Para mim, menor que Messi na capacidade objetiva que um bom jogador precisa ter. É o Grande Firulador atual.

Há muitos anos havia um jogador do Fluminense, o Cafuringa que, quando pegava a bola na ponta-direita, fazia um carnaval na defesa adversária, dava bailes e mais bailes nos zagueiros, para não fazer gol nenhum. Virou motivo de chacota dos próprios torcedores tricolores, após tantos e tantos jogos sem marcar nenhum tento.

Mais recentemente, tivemos outro firuleiro juramentado: Denílson.
Como o anterior, impressionou durante um tempo, chegou à Seleção Brasileira. Não durou muito, reconheceram sua inutilidade.
Agora é comediante na TV Bandeirantes. Isto é, não mudou de profissão.

Mais recentemente ainda, a imprensa paulista produziu outro Pelé midiático: Robinho.
De concreto, de jogada marcante, após dez anos de profissão, todos os seus admiradores se prendem no drible que ele deu no Rogério, lateral-direito do Corinthians, num jogo contra o Santos pelo campeonato paulista. Isto bastou para que a imprensa o elegesse o novo Edson Arantes e ele foi para a Seleção, de onde não mais saiu.
De outro lance? Ninguém se lembra.

Há poucos meses, Juca Kfouri, outro defensor dos grandes feitos robiáticos, reconheceu que Robinho não era aquilo que se pensava dele. Mas foi o único. Os outros, parece, continuam acreditando no grande passista, par de uma porta-estandarte imaginária, especialista em volteios.

Veja, meu amigo, como firula é sinal de distinção para nossos torcedores e profissionais da mídia.

Neymar, por seu turno, recebeu a faixa de Grande Firulador. Tem gostado disto e a mídia, sua criadora, ambém. Não poderia fazer diferente.
Igual a Messi, corre feito o capeta, mas é inútil. Faz gols óbvios, quando a bola sobra pererecando a sua frente.
É um bom jogador? É. E daí?
Daí que, daqui a alguns anos, vão dizer: é... Neymar não é isto tudo que pensávamos...

Mas, voltando ao início, eu posso falar por estatísticas. Ninguém desta geração, desde 1970 para cá, presenciou, foi contemporâneo como eu fui, do que é jogar futebol como Pelé, Zico, Gérson, Rivelino e Maradona.
Alguns pegaram o tempo de Edmundo e Romário, que, diante daqueles, não foram tão excepcionais assim.

Na entressafra, à falta de faisão, come-se gafanhoto e se acha uma delícia. Ou fabrica-se o que comer para ter do que falar à mesa.

08 julho 2011

Triste início do fim

O episódio Palocci e o recente Alfredo-Nascimento expõem aos olhos de todos claramente o que é o governo Lula, que continua do mesmo jeito; na forma, mas não na exibição.

Sabíamos o que acontecia, mas nos sentíamos até 'respeitados' com a clandestinidade dos atos. É como se houvesse uma vergonha da politicagem em agir nos subterrâneos do poder. Negavam até o fim.

Com a entrada de Dilma, e sendo impossível representar Lula como se ele fosse, a contenção à publicação imposta pelo presidente desvaneceu-se por inabilidade cênica, e a 'vergonha' desapareceu naturalmente.

Tanto isto é verdade que, como disse - segundo o blog do Ricardo Noblat - o deputado Lincoln Portela, líder do PR na câmara dos deputados, acerca da indicação de Paulo Sérgio Passos, "Ele é competente, sério, probo e íntegro, mas entre isso e ser ministro há uma distância a percorrer". Isto é, para ser ministro, estas qualidades não servem; é necessário coisa contrária a isto.

Tal fala poderia ser classificada como ato falho, se houvesse um mínimo de preocupação com o que se faz na república.
Eles não têm mais a necessidade de esconder nada.

Coisas deste tipo, nos últimos seis meses, nascem como samambais no verão.

Estiveram sempre lá, embora.

04 junho 2011

Quase tudo dito e feito

Escrevi, antes da vitória de Dilma em outubro de 2010, que a presidente teria muitas dificuldades em seu mandato, principalmente por fogo amigo, diante do saco de gatos que é a base governista. Haveria muita demanda, muito ciúme, muito interesse. A oposição formal, por sua vez, não lhe faria força contrária, que sairia destroçada no pleito, que não mais existiria na prática. Não me orgulho de ter acertado.

Disse também que Lula constituiria-se por todos os indícios numa eminência parda no novo governo, caso Dilma vencesse.

Dilma venceu e eu errei: A crise Palocci - Antônio Palocci é suspeito de enriquecimento ilícito - trouxe Lula sem o menor constrangimento à cena política, roubando da presidente o papel central nas ações que seriam obrigações naturais da mandatária do maior cargo do executivo.
Lula não se tornou uma eminência parda: ele é, virtualmente, o presidente da república. Lula, com a desenvoltura característica de um elefante na cristaleira quando se trata de proteger seus próprios interesses, sua marca registrada, visitou deputados e senadores do PT, a fim de convencê-los a apoiar e não a rachar o bloco dos convenientemente simpáticos ao combalido ministro de sua própria indicação. Tudo isto sem nenhuma reserva. Pelo contrário, comentando absurdamente sobre o comportamento e (im)competência política de Dilma, sobre sua fraqueza - embora parecesse dizer isto entre aspas -, com um tom leve de um assassino em série que morde sua vítima sutilmente, enquanto inocula-lhe um veneno fatal, enterrando de vez a força da eleita. Reduziu-a a uma zumbi, que não sabe onde está, mas que preferiria, disto sim ela tem consciência, estar longe dali.

Dilma não existe para Lula, foi o que ele provou, foi o que Dilma viu, mas que todos fingem estar tudo bem . Afinal, que saída têm todos eles? Sabiam disto desde o início da indicação da burocrata. Torceram os narizes na época, mas obedeceram.

Quem pariu Mateus que o embale!

Mas, Dilma não pode demitir Palocci sob pena de ver, por uma possível  - mas improvável - represália do então defenestrado ministro,  seus pares e políticos da situação apontados como prevaricadores, pois todos têm rabos presos com todos.
Palocci não faria isto, evidentemente, pois político sempre olha o futuro e a necessidade de acordos futuros, mas alguma coisa certamente deixaria vazar, traído que se sentira por ter comunicado seus feitos a todos previamente.
Não cabe na cabeça de ninguém que Dilma e seus colegas desconhecessem as ações de Palocci. Apenas, como sói acontecer há décadas, o senso de proporção está desaparecido da política, e faz-se tudo sem se preocupar com a justiça, pois ela não pune gente graúda.

Neste caso e como no governo formal de Lula, espera que o indigitado peça demissão, isto é, torce pelo auto-sacrifício. É sua última esperança neste estado de coisas. E deve ser atendida.
Palocci, para preservar-se na futura atividade "civil" que irá exercer após sua saída do governo, para não fixar ainda mais na memória de todos os dois episódios em que teve parte ativa (Francenildo e agora a suspeita de tráfico de influência), sairá espontaneamente.

Isto porém não salvará Dilma.  É tarde demais e Lula apressou o processo. Seu governo está chegando ao fim e muito provavelmente ela alegará alguma doença para renunciar ao cargo de maneira honrosa , q ue muito levianamente aceitou, embevecida também pelo poder de Lula, que nunca a apoiou realmente, mas claramente a preparara como escada para sua volta triunfal em 2014.


O que nos resta, para, como eu disse antes no outro texto de outubro de 2010, melhorar o país, é que Lula também saia com prejuízo desta história da qual é o mentor, para que seu magnetismo de serpente não mais consiga paralisar todos aqueles que dele discordem, mesmo tendo interesses na vitória sob sua sombra. Sua sede de poder, sua saudade de glória contínua, foi seu canto de cisne. Ele exagerou agora e também enterra suas pretensões, pois até às próximas eleições presidenciais haverá muitos outros candidatos.

Há uma outra saída para a presidente, entretanto. Remota, mas há.

Quem sabe Dilma, acuada como está no canto, qual fera perseguida e por isto mesmo passando a perigosa, resolva ser presidente. Mandar Lula às favas; o PMDB e seus acordos leoninos, e a banda evangélica e seu porta-voz chantagista Garotinho para o inferno; Temer para o espaço e, de lambuja, Sarney para um sarcófago carcomido.
Neste impensável gesto, terá apoio dos eleitores e virará o jogo a seu favor, trocando o conluio para governança, o contrato que fizera com o diabo em troca de poder, pelo respeito que todo verdadeiro líder recebe de seus admiradores.

Quem sabe Dilma surpreenda a si mesma.