23 dezembro 2010

Assange

Julian Assange, referido por Domenico Magnoli - do Estadão - como o herói sem caráter, não é um vingador das histórias de quadrinhos, no sentido laudatório da palavra.

Entretanto, faz de cada um de nós um pouco mais protegido perante o estado que tudo pode e nada tem a dizer sobre seus atos.

Evidentemente, os segredos precisam ser mantidos, desde que não sejam para enganar ninguém, que não sejam para prejudicar as pessoas, e isto, caro leitor, é o que mais os estados têm feito.

Seja a guerra do Vietnã e do Watergate, nos Estados Unidos, seja o mensalão - ponta de iceberg - no Brasil, se não fossem os vazamentos imaginem quantas pessoas não continuariam a ser prejudicadas.

Sob a capa da tão propalada segurança nacional, muitas maldades foram feitas; umas grandes, outras nem tanto, mas coisas ruins não se medem por intensidade de seus efeitos. Não devem existir, e pronto.

Assange pode ter feito mal, exagerado em sua necessidade de luz de palco, em seus minutos de fama, mas resta de sua ação um ponto positivo inegável: os estados vão tomar mais cuidado doravante, descobridores que são - tardiamente até - da penetrabilidade total dos arquivos hodiernos. Se se quiser, não há chave de criptografia que se baste.

Ou as agências de espionagem, e contra, venham a arrefecer seus ímpetos, ou diminuam seus registros gravados em papel e em outros meios.

Esperemos que o capricho com os registros seja a primeira opção.

14 outubro 2010

Olhando no sentido inverso

O resgate de todos os 37 mineiros chilenos, (33 mineiros ativos e 4 socorristas) teve momentos de grande impacto emocional, principalmente após a expectativa da saída do primeiro deles.

Hoje, a afirmativa de que são heróis me parece exagerada.

Claro que heroísmo existiu, pois ficaram mais de duas semanas sem nenhum contato com o mundo exterior, quando precisaram tirar de suas experiências trabalhistas a calma e a prudência - além da esperança - necessárias à preservação de suas vidas. Na verdade, os mineiros confinados eram mais vítimas, que é a parte passiva dos sinistros.

Claro, são merecedores de grande admiração. Sem dúvida.

Mas, heroi, heroi mesmo, foi o primeiro mineiro que desceu na cápsula, sem nenhuma garantia de que o equipamento e a técnica iriam funcionar.
Lá se foi ele, anônimo para as massas e aos políticos de ocasião - como sempre ávidos por palanque -, solidário, intimorato, levar sua vida ao socorro das de outros.

Ao herói solitário e discreto, 37 hurras!

03 outubro 2010

A esperança era verde

Hoje as eleições para os cargos de presidente da república, senadores e deputados mostraram situações interessantes perante às várias pesquisas de intenção de voto. Não se realizaram em muitos casos.
Nestas semanas anteriores a hoje, quase todas elas apontavam uma grande possibilidade de Dilma Rousseff vir a ganhar as eleições logo no primeiro turno. Isto não aconteceu. Dilma alcançou índice inferior a 46%. Inimaginável há poucos dias.

Dilma tinha, segundo o sentimento geral, apenas José Serra como oponente com alguma relevância, embora as favas, segundo muitos, já estivessem contadas a favor da petista.

O que muitos perceberam é que o maior adversário de Dilma é o próprio PT e seus braços longos na corrupção generalizada, e não propriamente a força eleitoral de Marina Silva que, surpreendentemente, alcançou aproximadamente 20% dos votos válidos.

Marina apenas foi a onda verde da esperança, ou um recado a todos.

Marina era a feliz esperança daqueles que não acham que o rouba-mas-faz é a tônica que todos devem reverenciar. Marina foi quase um voto de protesto, pois todos os seus eleitores sabiam que ela não chegaria ao segundo turno.

Marina não vai a segundo turno, que será dividido entre Dilma e Serra.

Na seara de Dilma, por todos esses oito anos de governo, Lula - o maior dos petistas de direito, mas não de fato por ter-se afastado do PT há muitos anos, constituindo-se num partido novo de referência personalista, cujo único membro é ele próprio - jogou uma capa impermeável sobre todos os desmandos e deixou tudo correr frouxamente, enquanto o populismo - sua característica mais forte - mantinha a cobertura no lugar.

Para o bem do Brasil, espero que Dilma vença.

Uma das táticas de guerra mais antiga é a divisão do exército adversário. Unido, não há como ganhar dele. Assim, infunde-se na tropa adversária maledicências, atrativos para parte dela, tudo em busca da redução da ideologia do grupo, pois idéias díspares num ajuntamento fechado é o elemento desconstrutor.

Sob minha visão não será necessário à oposição fazer nenhum movimento neste sentido. Dilma foi imposta ao PT pela vontade de Lula, tendo as divergências da indicação sufocadas pelo líder, que agora sai de cena formalmente, mas com certeza se transformando em eminência parda, como uma conquista de um terceiro mandato sem ferir a Constituição.

Dilma, por obrigação, terá de andar por suas próprias pernas muitas vezes e, na primeira oportunidade que escorregar, os insatisfeitos de seu partido começarão a sussurrar de descontentamento, e Lula não terá mais visibilidade para pôr a mão de ferro que vinha usando.

A continuidade das coisas mal resolvidas pelas ações oficiais de Dilma, que nunca prezou o jogo político mas apenas a truculência das ordens verticais, burocrata acostumada a mandar, irão crescer no seio do PT, que, por fogo amigo inevitável, irá minar a base de apoio da presidente.

Para o país, é melhor assim que Dilma vença, para que sejam implodidos pela luta interna as práticas e os elementos que vêm sendo catalisadores da corrupção desenfreada.

A possibilidade de Serra vencer o segundo turno faria o PT tornar-se unido contra ele e a falta de governabilidade irá ensejar coisas não muito boas por aí.

Ou seja, com Dilma ou Serra, as coisas não serão nada fáceis para os brasileiros de bem.

Espero que eu esteja errado em todos os cenários sombrios que agora teço.

Boa sorte para todos nós.

12 agosto 2010

Coisas que nos escapam

- A mulher - digo para todos - é o ser mais importante do mundo!

E isto cai como uma grande novidade, quando não deveria ser.

Não que sejam apenas os homens a me olhar incrédulos, como se eu estivesse dizendo a maior das asneiras, heresia, inverdade: as mulheres também o fazem, possivelmente surpresas por alguém pensar assim, pois na grande maioria das vezes lhes é ensinado que mulher - ser inferior, fraco e tolo - deve andar dois passos atrás do homem.

Pena; por todos.

Já pararam para pensar, caros homens e mulheres, que só existe adjetivo para distinguir um homem rude de um outro de maneiras nobres?
Claro, é costume encontrarem-se homens rudes.
Na língua francesa, temos gentilhomme; em inglês gentleman; em português cavalheiro, fidalgo. Certamente, em outras línguas não citadas também poderemos encontrar sinônimos.

Agora, diga-me se existe isto para qualificar uma mulher como, por exemplo, cavalheira? Há? Não há.
Se você retrucar que existe gentil-dona, está enganado: isto é um título nobiliárquico, algo que se diz que uma mulher é tão fina que só pode ser nobre, nada mais que um rótulo da nobreza política.

Sabe por que não existe? Por serem, naturalmente, pessoas dóceis.

Bem, pelo menos em essência. E se conhecemos mulheres que não valham muito neste conceito - relhes, vis, baixas, perdidas... - perdão, a culpa não é minha.

16 junho 2010

A vida

Ontem nasceu Mariana, com 47cm e 2.790 g de peso. Uma princesinha miúda.

No princípio era o velho Mau, sem par.
Veio a Mar, olhos de mar; um alvo luar.
Nova Mar, conjugação do primeiro Mar,
'caba de chegar: -Limpa a casa! -Iluminar!

-Lavar! -Passar! -Esfregar! - Personalidade
- avisem todos! - já 'tá na cidade!
Chegam jovens e gente de qualquer idade:
Bilu-tetéia... Cuidado! A claridade!
Ri Mar, em prosa; em verso! Na felicidade
exclamação é obrigatoriedade.
Mãegestante? Agora? É Mãejestade!




16 abril 2010

Se não fosse em língua espanhola, poderia ser no Brasil...



Trata-se, provavelmente, de uma peça de teatro, de televisão, mas é muito parecido com a realidade.

05 março 2010

Deus olha por todos

Deus ajuda os pobres, enquanto o estado dorme.

Dorme, sem querer. Mas, tem sono leve e, quando descobre que o pobre está levando alguma vantagem, lança uma portaria, um decreto, uma lei, cria uma taxação, para tornar nula a vantagem conseguida.

E parece que o poder público agora descobriu que Deus forneceu água cristalina aos mais pobres, na calada da noite.
E, descoberto, já acionou a Feema, a secretária de meio-ambiente, possivelmente e muito mais rapidamente a da fazenda, lançará alguma cerca de arame farpado em volta do benefício.

O estado acha imoral toda a vantagem do cidadão. Imoralidades permitidas, somente a que ele faz; e, neste estado de coisas que vemos diariamente nos três poderes da república, quanto mais, mais ele fica querendo mais, legitimado nesta ânsia´apenas pela sua própria existência.
Ao estado basta existir. Tem leis próprias e maleáveis a sua necessidade.

Fiquei muito feliz de ler sobre a água do Alemão: foi a hora que Deus deu uma rasteira nos coletores de impostos.

19 fevereiro 2010

O avesso do avesso do avesso...

A Polícia Federal, segundo li, pediu a sala em que José Roberto Arruda estava preso. Transferiu-o para uma menor.
O advogado do ainda-governador saiu em sua defesa, queixando-se da decadente condição habitacional de seu cliente, que seu cargo merecia coisa melhor.

Que nós já não estranhamos mais as declarações de quem dá entrevista neste país, das pessoas que compõem o estado, isto é verdade.

A frase do advogado é emblemática, quando troca o valor moral das coisas e, frontalmente contra a razão, inverte tudo.

E o estranhamento adicional é que vem da boca de um profissional que, por dever, defende o Direito.

Possivelmente, não faz por mal, mas por descuido, de tão acostumado às práticas consideradas - lá por eles mesmos - normais e lícitas. São os costumes, o 'ethos' de uma pequena parte dos que têm algum poder.

Candidamente, cita o cargo do preso como um símbolo de majestade em si mesmo, como se a pessoa que o usa estivesse ungida com os santos óleos da divinização, sob a qual não há pecados que a manchem.

Sendo uma autoridade, com este título, não há como enxergar-se um malfeitor, mesmo que o titulado venha a posicionar-se no extremo oposto da moralidade e da lei.

A gente já os conhece, mas tem ainda a esperança de estar sob engano.

Pensamento do dia

"Tela de computador costuma queimar o almoço."

07 fevereiro 2010

Santo de casa



 Muitas pessoas que têm o dom artístico, ou que desenvolvam qualquer atividade que teria um potencial de destaque, queixam-se de que os estranhos ao sangue prestam atenção - com opinião a favor ou contra, mas prestam - em suas obras, mas  que seus próprios familiares não.

É bem verdade, tanto que há o ditado do título acima.

Mas, podemos ir mais longe e encontrar o comportamento do próprio 'artista' agindo da mesma forma: as opiniões dos familiares não são sequer notadas, por serem justamente da família.

Queixa-se da indiferença de irmãos, primos, tios e sobrinhos, mas não nota seus elogios, quando deles recebe alguma referência sobre suas obras; não dá valor a ela.

Vá se entender o ser humano.

28 janeiro 2010

Paraíso moral


No blog do Lauro Jardim, citado pelo blog do Ricardo Noblat, diz que a Petrobrás está fazendo uma licitação.

Diz o blog:

"Está destinado a dar uma tremenda confusão o resultado da mais esperada licitação do ano no setor de publicidade - a conta da Petrobras, no valor de 250 milhões de reais por ano.


Hoje, às 14 horas, na sede da estatal no Rio de Janeiro, foram abertos os envelopes para que as três escolhidas fossem conhecidas. Na disputa, dezoito ansiosas agências. As mais pontuadas foram a curitibana Heads (60,9 pontos de um máximo de 70 pontos), a Dentsu (55,7 pontos) e a carioca Quê (54,6 pontos).


Só que mais de duas horas antes, o site da revista Propaganda & Marketing, divulgou o resultado num furo de reportagem. E aí começa o imbróglio.

Para evitar possíveis vazamentos ou suspeitas, a Petrobras fizera o que é praxe em concorrências públicas: as propostas não são identificadas.


Ou seja, em tese, a comissão julgadora não saberia quem é quem e só na hora da abertura dos envelopes apareceriam os nomes das agências vencedoras. Não foi o que aconteceu.


O mercado publicitário está em polvorosa. Todos os derrotados prometem chiar alto com a Petrobras e possivelmente na Justiça.

Entre os vencedores, duas agências (Quê e Heads) já detêm a conta da Petrobras. A Dentsu é a novata (de origem japonesa, desfez sua parceria com a DPZ há dois meses), tirando o espaço que hoje é da F/Nazca. Isso se o resultado for mantido.
"
veja aqui


É inacreditável mais esta (se é que ainda achamos alguma coisa inacreditável neste sofrido país haitiano de instituições).

Em qualquer país civilizado, um vazamento deste pararia completamente o processo. Mas, aqui, não. Continua-se a fazer a abertura dos envelopes, esperando a semana passar.

É assim e toda a parte. O Sarney mentiu? Fica no cargo até que novos escândalos venham a mudar o foco; Arruda foi visto pegando propina? Fica no governo, esperando as manobras 'legais'. Coisa assim.

Ninguém vai preso por executar crimes à vista de todos.

O mundo tem paraísos fiscais. O Brasil tem isto também para alguns e se desponta como um paraíso moral.

27 janeiro 2010

Entrega de Chávez

The Crab Nebula From the Ground (left) and Its Interior With Pulsar
Source: Hubblesite.org

Um princípio básico da Astronomia diz que quanto mais quente e brilhante for uma estrela, menos tempo de vida ela terá, por causa da transformação voraz de sua massa em energia. Seu fim é uma explosão formidável; ou uma implosão fria, sob a qual esmaece e vira uma anã.

Diz-se que o nosso corpo vive mais quanto mais magro for: quanto maior a bagagem, mais curta a viagem.

Temos vários exemplos paralelos ao que acontece no âmbito das relações humanas. Hugo Chávez, com sua maneira explosiva e enérgica de lidar com o mundo, tenderia mesmo a desgastar-se; era apenas uma questão de tempo.

Como as estrelas, porém, se explodir, se sua queda for bastante dramática, o rearranjo trará benefícios gerais, gerando novos elementos e espalhando maiores possibilidades pelo universo em que estava contido.

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12 janeiro 2010

Leituras do momento político

O presidente Lula disse algumas vezes que ler não é com ele. Disse isto, por outras palavras.

Quem não lê não pensa direito, pois usa apenas as opiniões próprias; o homem individual não se basta.
Quando o assunto é rasteiro, ele se sai muito bem, mas quando as sutilezas e delicadezas da política exigem um plano de voo que tenha origem em cartas bem estudadas e bem aprendidas deixa muito a desejar.

O caso dos caças, que ele tanto falou sem pensar, imaginava, talvez, que falasse para o povo que entende a sua língua - povo este que deve ser o que gosta de ficar sem camisa tomando cerveja horas e horas nos pés-sujos, sem nunca pegarem num livro.

Agora o decreto que ele acabou de assinar, sobre direitos humanos e outros assuntos: uma peça engendrada por incompetentes e assinada sem ler, segundo dizem.
Lula, entretanto, num raro momento de reflexão, desta vez não se atreveu a dizer tal asneira. Que não leu, não leu, sabemos disto, mas sabe que isto não o exime de responsabilidade.

Sem o amparo da Filosofia, o homem regride e é uma tolice adicional não querer saber dela, conquista milenar que os grandes gregos nos legaram.

E Filosofia não é uma matéria fácil, razão pela qual é necessário ler muito a respeito, debater, observar e muitas vezes reler e reler.

Todo político deveria ter isto em mente, para poder melhor compreender - primeiramente a si mesmo - o homem, pois, supostamente em nossos dias, dele é representante.

Quando Lula diz que ler é dispensável, já se sabe o que de suas ações pode resultar, principalmente quando a coisa é séria; mas o presidente fica feliz quando fala em termos chulos, quando emprega metáforas futebolísticas também: é uma desculpa para obter alforria pelo que diz; mas não é boa.

Para ele e para muitos dos que o admiram a filosofia de botequim basta.

06 janeiro 2010

Tempos passados - 75 anos atrás

Olhando filmes antigos, vemos o quanto nossos antepassados, ligados diretamente a nós ou não, sofreram.

No filme em anexo, temos as condições insalubres de trabalho, tudo com cheiro de contemporânea (lá deles) modernidade.

Há gente fumando em ambiente cheio de papel; há gente lidando com chumbo derretido, venenoso, sem nenhuma proteção; há o barulho das máquinas que ensurdecia vagarosamente.

Daqui a setenta e cinco anos, verão nossos filmes e apontarão problemas que hoje não percebemos inteiramente, ou o planeta caminha para um retorno às más condições de nosso, hoje, passado, mesmo de forma diferente?

Agradecimento a todos que fazem algum serviço por mim

Neste ano que se encerrou, durante a virada do ano, pensei naqueles que fazem alguns serviços que nem de longe eu gostaria de fazer. Por exemplo, o do médico legista, o do enfermeiro, o do lixeiro, o do técnico que sobe em postes altíssimos; o dos que trabalham recolhendo cadáveres em enchentes, o dos que cuidam de crianças cancerosas.

Meu profundo agradecimento, por me livrarem de tais tarefas essenciais. Que Deus os proteja e fortaleça em suas tarefas.