25 janeiro 2009

Blue rondó a la turque

Precisamos ter cuidado quando fazemos afirmações que se baseiem em nossas memórias. Nosso cérebro, dizem os entendidos, quando não encontra uma imagem armazenada e adequada às nossas necessidades, inventa coisas que juramos ter acontecido; teimamos com outras pessoas e ficamos muitas vezes irritados com a descrença daqueles que, provavelmente, têm razão de nos contrariar. Neste caso, não fui contrariado por ninguém, pois nada mencionei da minha busca; não haveria como dar uma pista para alguém lembrar-se de seu conhecimento.
Procurei até há pouco dias uma música que ouvira em 1986, que dela sabia ser de Egberto Gismonti. Nesses mais de vinte anos não tornei a ouvi-la, de modo que ficou como uma coisa mal resolvida dentro dos meus registros musicais.
Mas, assim como a fisiologia nos prega peças, parece-me que o acaso – ou a Providência – nos põem, mais cedo ou mais tarde, em rota de resolução das falhas involuntárias, como uma compensação natural, preparada, relojoeira do universo.
De repente, após esses vinte e tantos anos procurando Gismonti, encontrei a música, mas de outro jeito.
Outro dia, procurando músicas disponíveis à baixa na internet, estava pensando na música e, consequentemente, procurei no site http://www.deezer.com/ todas as compostas por Gismonti. Percorri os nomes que poderiam intuir ter relação ritmica com a música buscada., mas nada encontrei.
Desisti pela costumeira dificuldade de anos e passei aos compositores de jazz. Esperara duas décadas, não fazia mal esperar mais um pouco.
Lembrei-me de Dave Brubeck e experimentei algumas de suas músicas, de cuja produção gosto muito, para inacreditavelmente ouvir a tão esperada e desistida melodia!
Parei para inspecionar o rótulo, e procurei onde dizia Egberto Gismonti, já que a história íntima insistia com aquele nome, uma vez que minha busca inicial era pelo brasileiro. Se começara procurando por Gismonti e ouvira finalmente a música, só podia ser dele.
Mas não havia tal nome. Em lugar nenhum. Não era dele, mas sim do maestro americano e o nome da peça, descobria finalmente: Blue rondo a la turque.
Não dá para acreditar, por isto, em situações não conduzidas. Há milhares, senão milhões de músicas, e uma grande quantidade de autores. Como pude topar justamente com a buscada?
Reforcei minha consciência de que as coisas nos mostram que o óbvio não é garantia de verdade, pois algumas vezes a certeza é inventada para nos servir.
Ah! E ainda bem que não me parece óbvio que exista um misterioso e mágico relógio a corrigir as nossas vidas e, ainda mais bem, não vermos a presença de Deus por óbvia intuição.