28 maio 2008

Nostradamus


...

Manhã amazônica.

O rio e o céu olhavam-se; dois Narcisos perdidos da Grécia a intercambiar olhares e suspiros apaixonados; o céu na água e o rio no céu, traduzidos em torvelinhos e nuvens; remansos e correntes, entrelaçamentos discretos, enlevados, embevecidos numa assexuada fusão de seus corpos naturais até a linha do horizonte.

Àquela hora da manhã, apenas os remos do barco fendiam o silêncio manso e preguiçoso das primeiras horas. Algumas poucas nuvens altas, e suas réplicas flutuantes na correnteza sutil da obesidade grávida das chuvas recentes, refletiam a luz do sol com a intensidade de poderosos a ter, nos primeiros movimentos estudados e avaliadores de estratégia de ataque, intenção preguiçosa de luta; eram dois gigantes a se medirem sem empenho.

As sombras das árvores, agora mais próximas, lançavam tintas - negras de luz - na água, reforçando, por contraste, a qualidade, a limpidez do rio em época de cheia generosa.

John Mackenzie embicou a canoa de alumínio para a margem mais próxima; lançou a garatéia, fixou-a num galho baixo e puxou o conjunto para a imobilização completa.
Saltou para a água rasa, chapinhou na direção da terra firme; arquejou sob o peso da mochila.

Vistoriou o terreno, desceu o volume no chão, desenlaçou o cordões que o fechavam e retirou a carga explosiva. Ativou o aparelho GPS, reviu as coordenadas e tornou a fechar a tampa. Destravou o visor, pressionou os botões de controle e marcou o tempo de explosão para dali a duas horas, tempo suficiente para se afastar com segurança.

Voltou ao barco e digitou no telefone de tecnologia espacial os números da base.

- Na posição! - disse, desligando.

Afastou-se, remando firme e ritmadamente.

Duas horas decorreram-se até que as primeiras fumaças manchassem o céu azul e, mesmo àquela distância, as primeiras labaredas apareciam no ar e ocultavam-se por detrás das grandes árvores como línguas rápidas e vermelhas.
Fogo a floresta enfrentara, desde a criação do mundo, muitos por ação do homem ao aplicar técnicas agrícolas primitivas para plantio de soja. Mas desta vez era diferente.

Mackenzie pensava no que ajudara a começar trinta anos antes. Muita coisa acontecera depois daquela primeira bomba incendiária.

Tomou um gole de água cristalina e refrescante. Fazia muito calor naquele mês de janeiro. Deu um suspiro longo.

...

- Eih! Acorda, Mackenzie... Dormindo acordado?

Paul Strudd, colega de Mackenzie, acabara de chegar sem fazer ruído. Agente de longa data na CIA (Central Intelligence Agency, dos Estados Unidos) como ele, não se importava senão com o cumprimento das ordens, sem entrar no espírito sobre a justiça das missões.
Obedecia, como todo bom soldado. Pago para ser apenas braços e pernas a serviço de vários cérebros remotos.
Paul também estivera naquela ação e também pusera outras bombas, coordenadas pelo Centro de Inteligência.

Mackenzie ignorou Strudd momentaneamente, embora tenha feito um sinal quase imperceptível para que se sentasse.

...

Aquele incêndio fora o primeiro de muitos a levar o caos à independência política do Brasil do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito anteriormente - duas vezes! - com milhões de votos por uma população ávida por mudança no sistema político arcaico, medieval, de sucessões verticais, familiares, hereditárias.

Tempos depois, o presidente viria a ser alvo de muitos críticas por aqueles que o elegeram e que se sentiram traídos, acusando-o de bandear-se para o lado dos conservadores.

Uma das razões pelas quais a CIA e outras agências coligadas tiveram sucesso na empreitada deveu-se ao excesso de confiança que, sem base na realidade, o Brasil daquele presidente reservara para si.

Para a CIA, o trabalho de desestabilizar o poder constituído não fora grande, diante dos improvisos e do amadorismo com que o sangue quente latino estava acostumado a tratar as coisas de ressonância internacional, negligenciando os movimentos crescentes e declarados das carências de energia e de água, preferindo o ufanismo às ações concretas para despontamento como um novo fornecedor mundial. E o Brasil poderia ter sido esse provedor independente.

O Congresso brasileiro, atuando contra seus próprios interesses, lutara entre si pelo poder interno, favorecendo por esta divisão a entrada de forças estrangeiras - primeiramente através do capital especulativo via Bolsa de Valores - com a vantagem de juros astronômicos que nenhum outro lugar no mundo retribuía. Assim, adquirindo ativos em território brasileiro, o BAN pôde consolidar-se em vários ramos da indústria, paralisando-a quando julgou necessário para sufocar as iniciativas de construção e reposição de material bélico.

De fato, uma bomba-relógio fora armada ao longo dos séculos por uma humanidade perdulária, inconseqüente, e posta ao colo dos brasileiros.

Sem perceber o perigo, as lutas internas, partidárias, desviaram a atenção dos integrantes do estado brasileiro para fatos distantes do próprio interesse nacional, da soberania e precipitaram os acontecimentos a favor do Bloco Atlântico Norte (BAN), que invadiu o território brasileiro num piscar de olhos, como os Estados Unidos fizeram no Iraque em março de 2003.

O BAN surgira na esteira filosófica da Comunidade Econômica Européia e do NAFTA (Tratado de livre comércio da América do Norte), criados anos antes, mas o novo centro político não se restringia a nenhum dos continentes de origem.
Constituíra-se numa Pangea política, drenando influência do hemisfério Norte e irradiando-a para o mundo inteiro.

Como antes na História, o plano invasor orquestrado pelas agências de inteligência governamental do bloco, o apoio internacional estava concentrado em um único quartel-general; muitos contra um. Como entre o Tigre e o Eufrates, coisa ainda recente na memória de todos, os fatos se repetiam.


Seguindo as primeiras e muitas outras ações incendiárias que mostraram ao mundo por esta medida artificial a inépcia dos governantes sul-americanos em controlar o que de súbito fora requisitado como patrimônio da humanidade - e pleiteado principalmente pelos países do BAN -, tropas infiltraram-se pouco a pouco ao longo dos limites do lençol dágua subterrâneo - o famoso Aqüífero Guarani - recurso mineral tal como o petróleo, de origem única e não renovável, de água doce, límpida, de excelente natureza, muitíssimo mais importante -, que se estendia por todo o Brasil central e meridional.

A movimentação das tropas através dos anos foram, primeiramente, disfarçadas em intercâmbio técnico militar nos países limítrofes ao Brasil, enquanto alguns integrantes permaneciam nos territórios com documentos falsos após os supostos exercícios.

Os homens treinados foram assim mantidos nos lados paraguaio, argentino e uruguaio, prontos para entrar em ação à primeira ordem do BAN, em perfeita sincronia entre os grupos para não despertar suspeitas ao Brasil.

Quando a incursão militar irrompeu, as largas fronteiras brasileiras, principalmente as desenhadas junto ao Paraguai e Bolívia, cujos governos litigiavam as questões energéticas hidráulicas e de gás natural, nas pessoas dos presidentes Fernando Lugo e Evo Morales, respectivamente, forneceram os pontos de acesso que surpreenderam as tropas desatentas brasileiras, carentes de recursos financeiros, técnicos e de material de guerra atualizados, contaminadas e dispersivas pela politização dos militares que jamais engoliram o fracasso de sua administração no campo político após o golpe apoiado pelos Estados Unidos, em 1964.

Do outro lado do mundo, paulatinamente e definindo-se claramente na década de 2030, esgotados os óleos fósseis para queima após sucessivas desacelerações industriais na criação de veículos movidos à gasolina e diesel, a tensão no mundo árabe deixou de vez a questão sionista-palestina para concentrar-se nas lutas internas pela necessidade de uma saída para a inutilidade daquela terra para a agricultura em grande escala.

A falta do óleo natural, dadivoso e explorado à exaustão, que não mais lhes davam condições de existirem como nações independentes e auto-suficientes no tradicional método de produção despreocupado e centenário, fê-los 'acordar para um pesadelo'.

Por um tempo, às primeiras privações, as populações do norte da África e da Ásia central migraram quase que como opção individual; mais tarde, massiva e descontroladamente, amontoaram-se nos países vizinhos, para o leste e para o sul, perturbando os históricos e precários equilíbrios geopolíticos das regiões.

Alterado dezenas de anos antes, o mundo percebeu claramente o que já sabia: o valor incalculável da água.

No início das migrações, a dessalinização das águas do mar veio como uma solução desesperada e sofrível, passando a requerer progressivos e massivos recursos financeiros,

que, drenando rapidamente os tesouros governamentais, fizera o método perder a eficicência e a razão de ser, o que ensejou o abandono de sua utilização.

As nações receptoras, hospedeiras forçados e incapazes de controlar sua própria gente, recebiam grandes grupos esfaimados, os quais as levaram ao vórtice iniciado quase que silenciosamente - embora perfeitamente marcado - na alta dos preços do petróleo trinta anos antes, por volta de 2008.

O mundo árabe sucumbiu definitivamente e seus povos juntaram-se aos africanos do norte e centro-africanos, tradicionalmente combalidos pelas guerras tribais da cobiça por petróleo e diamantes, dezenas de anos a fio, formando uma grande massa desesperada a vagar em trapos e macilentas pelas cidades inchadas.

Como gafanhotos ávidos, repelidos e sem saída, mudaram sua jornada para o Norte, do outro lado do Mediterrâneo, de onde foram rechaçados pelas armas dos países industrializados, que, por sua vez e de muito tempo antes, haviam limitado a entrada de estrangeiros que já não mais lhes serviam nas tarefas consideradas menos importantes.

Os conflitos se espalharam. Na vizinhança do sul da Europa, após alguns graves embates entre imigrantes e cidadãos, o alarme soou e o BAN nasceu de um dia para outro.
O bloco, percebendo a crescente deterioração da ordem mundial, teve a iniciativa de tomar para si o Aqüífero Guarany e também a Amazônia, a fim de garantir para os povos do Atlântico Norte a última reserva natural.

O mundo mudara para sempre e o centro político agora tinha o seu foco na América do Sul.


O etanol de cana-de-açúcar rapidamente forneceu energia do movimento ao mundo e a antiga OPEP - organização dos produtores de petróleo -, naturalmente sem ter do que tratar, desapareceu, substituída pela WEO - World Ethanol Organization - com sede no Rio de Janeiro e controlada pelo BAN.

Embora os confrontos bélicos não tivessem exigido todo o poder de fogo tecnológico do bloco, houve milhares de mortos no lado dos brasileiros, levando o país a transformar-se numa república vigiada, parlamentarista, onde o presidente era um brasileiro para efeitos apenas cosméticos e o primeiro-ministro indicado pelo bloco.

Os americanos e ingleses iam e vinham sem a necessidade de vistos em seus passaportes, o que não era concedido às demais origens. O controle alfandegário era severo.

À Venezuela, antigo produtor mundial de petróleo, foram enviados vários contingentes militares como grupo de paz, a molde do Haiti nos primeiros anos do século XXI, na verdade para evitar a entrada no país via fronteira de gente não desejada.
A fome alcançara Caracas, assim como a praticamente todos as outras capitais do Cone Sul.

O Aqüífero Guarani passou a fornecer água para o mundo inteiro, tanto in-natura quanto como veículo a cervejas, refrigerantes e outras apresentações alimentares, fazendo com que a linha dos lucros no gráfico do bloco disparasse ao vértice superior.

Enriquecendo-se rapidamente, o BAN entraria num novo projeto de irrigação no norte da África, aplicando técnicas desenvolvidas em laboratórios a céu aberto do Nordeste brasileiro a custo mínimo, pela oferta generosa de mão de obra nacional e também da importada dos demais países sul-americanos.

- Vamos? - disse Mackenzie.

John Mackenzie pôs o paletó e deu passagem ao amigo Paul Strudd.
Deixou alguns ethano-dólares na mesa e ambos atravessaram as pistas da Avenida Atlântica em Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil, em direção às instalações de banho com chuveiros de água mineral do Aqüífero Guarani.

Mais tarde, conversariam sobre o que fazer com a Antártica.

...

Medidas Provisórias Permanentes

O Brasil, ao longo de sua história, vê crescer a confusão entre os três poderes, tantas vezes falado.

O executivo legisla, o legislativo julga e o judiciário faz política.

Possivelmente, um dos grandes incentivadores deste fenômeno é o dispositivo da exceção que, no passado, chamava-se Decreto-lei e, no presente, de Medida Provisória.

As emissões de Medidas Provisórias proliferaram, suplantando os Decretos-lei em larga margem, embora só se devesse utilizar para necessidades urgentes e de grande relevância.

Como o estado é pantagruélico e naturalmente sem fiscalização eficiente, fez da exceção a regra e a mistura de poderes se deu.

O executivo lança confusão legal e legislativa, pois não há tempo para julgamento do mérito, pelo caráter imediatista das ações que vêm no bojo da Medida.

As casas legislativas, onde o debate sem pressa deveria ocorrer, são relegadas a meros coadjuvantes, minando, enfraquecendo a essência da República.

Urge acabar com este dispositivo.

Nossa vida

Hoje o STF (Supremo Tribunal Federal), que julga processos cujo cerne contenha alguma coisa a ser esclarecida no âmbito da Constituição, vai avaliar o uso das células-tronco.

O debate vem de longe e põe frente a frente as crenças religiosas, a Moral, a Ética e a sensatez dos homens.

Eu gostaria de saber alguma coisa sobre este assunto, a fim de participar como cidadão.

Mas, infelizmente, nem de longe eu teria como opinar.

É uma sensação nada boa, de impotência, mas é para isto que delegamos poderes, mesmo que indiretamente, aos juizes.

Esperemos que façam o melhor para os vivos, aos que ainda não nasceram, para e por nossa memória também.

27 maio 2008

Guia do Homem Sozinho (V)- Arroz de duas águas

Alô, herói anônimo, defensor dos frascos e dos comprimidos, que sobrevive muito bem sem uma mulher, essas coisas chatas que Deus pôs no mundo para atormentar os testosteronas!

(He he he... Me engana, que eu gosto...)

Vamos a nossa aula de culinária de hoje. Se você não morreu de fome até aqui, você ainda tem esperanças de sobrevivência, a não ser que vá ter uma indigestão por comer mal, por ter cozinhado mal.

Hoje nós vamos fazer o arroz de duas águas, com uma firula a mais: caldo de legumes. Enquanto eu escrevo aqui, vai lá comprar um tablete no supermercado. Quando você voltar, já acabei de escrever a receita.

De novo, o básico: lave o arroz e ponha numa vasilha com água, a fim de amolecer e hidratar os grãos, conforme você viu em 'posts' anteriores. Ponha água para ferver. Amasse o alho como de costume, ponha azeite tereré tereré...

Quando a água estiver quase fervendo, escorra o arroz.

Ponha uma panela no fogo e ponha o óleo e o alho, até dourá-lo. Isto feito, jogue o arroz lá dentro e mexa para pegar o gosto. Ponha sal a gosto. Para uma panela média, ponha a ponta de uma colher de sobremesa de sal; não dá erro.

Mexeu, tereré tereré, jogue a água fervendo sobre o arroz até ficar um ou dois dedos acima dos grãos, mas não despeje tudo; guarde um pouco.

Numa xícara, ponha o tablete de caldo de legumes e jogue água quente sobre ele, e quebre-o, esmague-o, espanque-o até ficar liquidificado. Depois, jogue na panela.

Tape a panela e vigie o glu-glu do cozimento e o creque-creque quando a água secar; apague o fogo no creque-creque.
Pára! Não destape a panela. Deixa fechada!

Ponha mais água para ferver em fogo baixo, mas não precisa aquilo tudo não. Se quiser, pode pôr a quantidade de água que quiser, afinal a casa é sua.

Depois de uns vinte minutos que o arroz já tiver descansado (essa coisa de cozinhar deixa o arroz exausto), jogue água fervendo até um nível pouco abaixo da superfície dos grãos: não vá encher tudo de novo, mané, senão seu arroz vai virar mingau de maizena.

Vigie de novo os glu-glus, creque-creques e está quase pronto.

Se quiser 'inovar', se tiver umas fatias de mozarela(*) esquecidas na geladeira, se ainda não estiverem verdes de mofo, ponha-as sobre a superfície do arroz ainda quente. Elas vão derreter e ficar mais uma decoração legal, afinal até os marmanjos têm um coração.

Boa sorte!



(*) Não dê uma de espertinho e vá querer me dizer que escrevi errado. Não escrevi não, tá legal? Aurélio pra você!

26 maio 2008

Inflação

A política nacional, nos últimos bons tempos, passa por um fenômeno estranho: o do implodimento, o da autodestruição de sua razão de ser.

Amiúde, a oposição se liga aos que estão no poder, a seus adversários, enfraquecendo-se; os membros de partidos, contra a orientação de seus pares, fazem alianças externas a sua 'ideologia', numa corrida insana ao poder pelo poder.

A confusão é geral, tanto no plano dos estados quanto na direção da capital da República.

Atônitos, os eleitores não enxergam programas de governo, aperfeiçoamentos filosóficos, mas apenas presenciam lutas de cunho imediatista, pecuniário e/ou midiático.

Resta-lhes torcer para uma agremiação qualquer, a molde de um time de futebol, por hábito, por paixão, sem mesmo saber sobre o que aspiram na representatividade escolhida.

Não é só o custo de vida que corrói o salário do trabalhador, em índices sorrateiros, quase silenciosos.
Os quinze minutos de Andy Warhol estão cada vez mais curtos, corroídos pela inflação de egos.

Triste Brasil

Acabou de passar um entrevista com o médico legista Sanguinetti, confrontando, detalhando e desautorizando o laudo sobre a morte da pequena Isabella Nardoni.

Triste Brasil.

Cada vez que, na mídia, surge um episódio que atraia a atenção de muitos, não faltam pessoas sob holofotes para colecionar seus minutos, dias, de glória a qualquer custo.

Assim vai a ação do sr. Promotor do caso Isabella, que, ao divulgar suas opiniões antes do julgamento, trouxe a sensação de pecar contra a ética, ao discorrer sobre pontos obscuros sobre os quais nitidamente não tinha convicção.

Assim se comporta, no mesmo tom, o 'perito independente', que tece com a segurança dos inconseqüentes outras opiniões, sem ter participado de necrópsias, criando um cenário definitivo que também só posteriormente será ou não verdade.

Todos trabalham para tecnicamente acusar ou livrar os réus.
Isabella, como pessoa, já não tem importância: é apenas um pequeno cadáver, uma página virada no livro da vida esquecida.

Além dela, que jaz esquecida no cemitério, infinitamente indefesa, roubada em sua dignidade, perdemos também a nossa no desenrolar deste triste episódio de vaidades afloradas.

Bandeira Nacional Brasileira

Se você pesquisar na internet, encontrará vários artigos que tentam explicar o porquê de nossa bandeira nacional ter as cores que tem.

Um artigo do Dr. Condorcet Rezende vem aclarar com muitos detalhes as raízes históricas deste tão belo símbolo de nossa pátria. Leia:

A BANDEIRA NACIONAL

Quando estávamos na escola, diziam-nos que o verde de nossa bandeira representava nossas matas; o amarelo, nosso ouro e o azul, nosso céu. Era uma conceituação poética, mas que nada tinha a ver com a verdade histórica. Quando cheguei ao curso ginasial, contou-me meu pai a história da Bandeira Nacional.


Proclamada a República na manhã de 15 de Novembro de 1889, cuidou o Governo Provisório do General Deodoro de definir os símbolos nacionais, entre eles, a bandeira. Vários projetos foram apresentados ao Governo, a maioria deles imitando bandeiras de outros países, especialmente a dos Estados Unidos, com a substituição das faixas vermelhas e brancas por faixas verdes e amarelas. Benjamin Constant, o verdadeiro fundador de nossa República, levou ao Governo o projeto da bandeira elaborado por Raimundo Teixeira Mendes, membro da Diretoria do Apostolado Positivista do Brasil e que viria a ser o Chefe do Apostolado depois do falecimento, em 1917, de Miguel Lemos, que fundara o Apostolado no Brasil.


O projeto de Teixeira Mendes tinha um fundamento filosófico, baseado nas recomendações de Augusto Comte, fundador do Positivismo: nossa bandeira ligaria nosso passado ao presente e este ao futuro. Assim, Teixeira Mendes manteve o verde e amarelo da Bandeira Imperial, pois eram as cores da Casa de Orléans e Bragança; substituiu a esfera armilar por uma representação simbólica (e não astronômica) do céu da noite de 15 de novembro de 1889 e colocou por sobre a esfera azul, numa faixa branca, o lema "Ordem e Progresso" (em letras verdes), que é o lema positivista para o desenvolvimento político (verde e branco são as cores positivistas).


Assim, o verde e amarelo representam nosso passado; a esfera azul representa nosso presente e o lema "Ordem e Progresso" era a expectativa dos fundadores da República em relação ao nosso futuro.


Aprovado o projeto pelo Decreto n° 4, de 19 de novembro de 1889 do Governo Provisório, foi o primeiro exemplar de nossa Bandeira confeccionado pela mulher e pelas filhas de Benjamin Constant, encontrando-se hoje guardado no arquivo histórico da Igreja Positivista do Brasil,na Rua Benjamin Constant, 74, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.

Desde que aprendi a história de nossa Bandeira, tenho ouvido e lido muitas distorções da verdade histórica: algumas, por ignorância; outras, creio, por má-fé.

Já li que Teixeira Mendes esqueceu-se de incluir o "Amor" no lema da Bandeira. Quem o diz desconhece a diferença que Augusto Comte fazia entre o desenvolvimento social, cujo lema é " O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim" (ou seja, o "Amor"como regra, baseado na "Ordem" e ambos tendo o "Progresso" por objetivo) e o lema do desenvolvimento político "Ordem e Progresso", pois, segundo o notável filósofo, o "progresso" é o desenvolvimento natural da "ordem" e sem esta, não há" progresso".
(Conta-se que o saudoso Mario Henrique Simonsen, quando ainda na escola, teria feito uma redação sobre o lema " Ordem e Progresso", limitando-se a acentuar a conjunção"e". Ou seja "Ordem é Progresso").

Também já se objetou relativamente à posição das estrelas que representam o céu da noite de 15 de novembro de 1889. Ora,Teixeira Mendes fez uma representação simbólica, como convém a uma bandeira, e não uma reprodução astronômica. A Bandeira é um símbolo e os símbolos, por definição, não reproduzem a realidade, são apenas uma representação da realidade. Veja-se, por exemplo,a Bandeira do Japão. Todos sabemos que o sol não é, astronômicamente, como está estampado na Bandeira japonesa, mas ninguém de bom senso vai querer mudar a Bandeira japonesa para nela incluir a reprodução astronômica do Sol, o que, aliás, seria praticamente impossível !

Em seu Sistema de Política Positiva ou Tratado de Sociologia (palavra esta cunhada por ele, assim como "altruísmo"), diz Augusto Comte que o grande desafio político do futuro seria conciliar a "ordem" com o "progresso", de sorte que a "ordem" não seja tão retrógrada que impeça o "progresso" e este não seja tão anárquico que destrua a "ordem". Como a Revolução Francesa acabara com o chamado "Ancien Régime" mas nada criara para substituí-lo, Augusto Comte recomendava que se reorganizasse a sociedade sob a forma política republicana laica, com a absoluta separação do Estado e a Igreja, com ampla liberdade de manifestação do pensamento e de culto, e com a incorporação do proletariado à sociedade, pois, segundo ele, o proletariado de seu tempo vivia acampado à margem da sociedade.

Portanto, os que hoje falam em "inclusão social" estão atrasados pelo menos 150 anos em relação à proposta de reforma social de Augusto Comte. Mas era também preciso reorganizar a ordem moral, substituindo-se as crenças teológicas baseadas em dogmas revelados, pelas verdades positivas, baseadas na ciências, ou seja, na fé demonstrável.

Por isso, só posso atribuir à total ignorância, ou a má-fé, a afirmativa que, segundo me disseram, consta até de um "site" na Internet, que o azul e o branco em nossa Bandeira seriam uma homenagem à santa padroeira do Brasil e de Portugal. Sabendo-se que Raimundo Teixeira Mendes, que concebeu e projetou nossa Bandeira, era positivista ortodoxo, é evidente que não iria incluir na Bandeira qualquer alusão a figuras teológicas.

Vejo com certa apreensão que as novas gerações brasileiras estão esquecendo nosso calendário cívico. Muitos jovens já não sabem que efemérides se comemoram nos dias 22 de abril,13 de maio e 19 de novembro.Em outros países, notadamente nos Estados Unidos, o Dia da Independência (Independence Day), Columbo’s Day (Descoberta da América) e o Flag Day(Dia da Bandeira) são solenemente comemorados, pela importância que têm para a história do país e a identidade de seu povo.

É preciso que a sociedade brasileira se conscientize de que um povo que perde sua memória histórica e cívica acaba perdendo sua própria identidade e passa a ser presa fácil de doutrinas políticas exóticas e de políticos inescrupulosos.

É preciso que nossos professores, sobretudo os do curso primário,cuidem de ministrar aulas de história do Brasil e de educação cívica, como sempre se fez, chamando a atenção dos alunos para nossas grandes figuras históricas e para os fatos que nos levaram de colônia a império e deste à república, com ênfase nas vantagens, sobretudo de ordem social, que advieram dessa marcha política. Temos que continuar venerando as figuras de Tiradentes, José Bonifácio e Benjamin Constant, principais responsáveis pelo advento de nossa emancipação política e de nosso progresso social.

25 maio 2008

Primeira carta de São Paulo aos coríntios


Eu sempre pensei em como os cristãos se livram da soberba, quando fazem um balanço dos seus dias anteriores, um balanço sobre sua própria vida, e chegam à conclusão que não fizeram nada de errado e que até melhoraram.

Como somos pecadores por natureza, não admitir, mesmo que momentaneamente, ter feito algum pecado parece nos lançar num dos sete pecados capitais.

Hoje, São Paulo me trouxe a resposta, através de sua primeira epístola. Diz lá

Irmãos: Que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus.
[...] Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por algum tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. É verdade que a minha consciência não me acusa de nada. Mas não é por isso que eu posso ser considerado justo. Quem me julga é o Senhor. Portanto, não queirais julgar antes do tempo.
[...]

Ou seja, eu tenho é de andar direito e não me cabe chegar à conclusão sobre a propriedade dos meus atos, pois isto não é tarefa minha. Não sou juiz. E ninguém é.

Posso pensar que fui justo, nada me impede. Mas é só.

Dito isto, fiz algumas coisas boas esta semana, mas não me lembro o que foi. Fiz poucas condenáveis, com certeza. Mas não vou confessar aqui; não.

Boa noite.

Canibalismo

O PT tornou-se um partido de um homem só: Luiz Inácio Lula da Silva.

E, similarmente a muitas espécies no amazônico gigantismo das coligações, corre o risco da extinção. Não o Sr. Luiz Inácio, mas o seu partido.

Imaginem a nefasta possibilidade de vir, de repente assim como foi com o Senador Jefferson Péres, o Sr. Luiz Inácio a falecer de repente ou vir a retirar-se da política, assim como fez Jânio Quadros subitamente, saibamos lá por quais forças ocultas, apenas como cenário para reflexão.
Quem iria, olhando-se à volta, pôr a mão na cana do leme do partido?

Pior do que isto, a composição de forças existente hoje no Brasil, sugere que não só o PT é um partido de um homem só como a política nacional não tem outro.

Para governar e alimentar as rêmoras, uma esdrúxula e perigosa ação concentradora se fez e, em si mesma, antropofágica.

Nem cataclismo como este imaginado, nem isto é possível, pois cortar a própria carne é coisa que o governo não sabe fazer. Há muito tempo.

Tudo irá ao limbo da ingovernabilidade. Esperemos que não.

24 maio 2008

Guia do Homem Sozinho (IV)- Frango rápido

Agora que você já sabe fazer um arroz e um feijão de responsa, tá na hora de você ousar: vamos à carne.

Calma, calma! A namorada não chegou ainda e você nem é para pensar tal coisa. Eu falava de frango.

É mais fácil do que você pensa.

Vá ao supermercado e compre três coisas: frango aos pedaços (sobrecoxa é uma boa), maionese tradicional e uma pacote de creme de cebola.
Não vá comprar sopa de cebola não, hein, cara! É creme!

Muito bem.

Lave o frango antes, pois ele não toma banho antes de morrer, sabia? É isto aí.

Sobre uma forma de assar qualquer que caiba os pedaços que você vai fazer, espalhe sobre ela as partes do galináceo.

Numa caneca grande, pote, qualquer coisa razoável para você virar o vidro de maionese dentro, misture a dita cuja com o creme de cebola. Faz uma argamassa com tudo. Vai misturando.

Agora, pegue a colher, tire um pouco desta mistura e ponha sobre cada parte do frango e besunte tudo que quiser. Isto é, as partes do frango, bem entendido.

Leve ao forno e espere ficar com cara de assado.

Meu irmão, se você não casou ainda, vai casar agora! Manda ver!

Guia do Homem Sozinho (III) - Feijão de dar inveja

Cara, você que não sabe cozinhar, quer dar um show com a leguminosa?

Arroz você já sabe fazer. Vamos ao complemento brasileiro, que dizem ser uma das melhores combinações da cozinha em todo o mundo.

Eu assino embaixo.

Se você mora sozinho e quer fazer um certo charme culinário com sua amada, faça aos poucos esta receita, pois, se você fizer muito do refogado, o sabor ficará prejudicado para o dia seguinte.

Feijão bom é aquele que vai à parada gay todo ano.

Combine o dia com sua amada e comece o preparo na véspera, pondo-o de molho.
Avise-a, nestes tempos tão preocupados com a estética, que será uma comida light. Ela irá desarmada e apreciará o seu feijão melhor. Vai por mim.

Assim, no dia anterior, lave o feijão e deixe-o de molho na água, de modo que o líquido fique acima dos grãos. Ele inchará muito e alguns grãos vão acabar ficando de fora, caso não tenha água suficiente.

No dia seguinte ao início dos trabalhos, ponha água para ferver numa vasilha à parte.

Ponha o feijão que estava de molho numa panela grande. Acrescente mais água e ligue o fogo.
Se for panela-de-pressão, tanto melhor: você não perderá tempo.

Um parêntese: eu prefiro cozinhar em panela aberta, em fogo lento, levando umas quatro horas para isto. Acho que, assim, o fogo 'agride' menos os grãos. Mas isto é cisma minha, nada científico.

Vamos considerar que seja uma panela-de-pressão. Não sendo, controle o processo pelo tato e pelo visual, pela consistência dos grãos.

Tape a panela e ligue o fogo brando. Não tenha pressa. Feijão odeia cozinheiros que comem cru.

Quando a panela começar a fazer aquelas saídas de vapor, fique de olho para não deixar de aparecer um pouco de líquido nos furinhos do rotor, após algum tempo. Se parar, é sinal que a água secou e você vai perder tudo, se você bobear. Dependendo da quantidade de água que você pôs na panela, após uns trinta minutos já será possível a primeira inspeção.

Tire a panela do fogo, mas não faça como as mulheres, que abrem a bica de água fria em cima da panela. Elas não sabem cozinhar. Só nós homens é que somos bons cozinheiros.
(A água fria vai te fazer gastar mais gás, pois vai levar um tempão para ferver a água da panela-de-pressão de novo).

Continuando, leve a panela para a pia ainda vedada e, com um garfo comprido para não queimar o pulso, levante o rotor da tampa, a fim de fazer o vapor escapar. Vai fazendo isto, até que o shh-shh pare de vez.

Parando de chiar, pode abrir a panela (Não tenha medo, mané, pois se você conseguir abri-la é porque não tem pressão dentro mesmo... Dããããã!!!).

Abrindo-a, veja a consistência do feijão. Pode ser que esteja cascudo. Meia-hora pode não ser suficiente.
É fácil ver se está mal cozido: mexendo com uma colher você sente na mão a dureza do bicho. De acordo com a consistência, você calcula a quantidade de água inicial, o tempo que levou para chegar ao nível que você vê e a quantidade que você acredita que vai dar para amolecer de vez os grãos. Mas não ponha água fria.

Despeje água quente, aquela que você começou a ferver à parte da panela-de-pressão e torne a fechar a tampa, voltando para o fogão para continuar o cozimento.

Vai fazendo isto - abrir e fechar a panela - até que você sinta, ao mexer com a colher, que os grãos estão mais moles do que o cérebro dos eleitores brasileiros.

Pronto. Você já tem o seu feijão para guardar na geladeira.
Aviso: Só tempere a quantidade que você irá consumir, a cada refeição. Não tempere tudo, nunca!

Agora é a hora do refogado, aquele que você irá levar à mesa.

Esmague o alho, de acordo com a técnica do arroz. Corte rodelas de uma cebola pequena e deixe-a separada do alho.

Numa outra panela grande, ponha duas colheres de óleo para aquecer. Quando quente, jogue o alho e espere que dourem. Após, jogue a cebola e mexa tudo.

Pegue uma escumadeira...
Não sabe o que é uma escumadeira? É uma concha com furinhos... Achou? Esta mesmo!
(Por que escumadeira? Para você pegar somente os grãos. Quando você refoga apenas os grãos, eles passam o gosto ao caldo, mas o contrário não se dá).

Pegue uma quantidade de grãos que você acha que você e seu amor irão consumir nesta refeição e jogue-a sobre o alho e a cebola. Ponha uma pontinha de colher de sopa de sal.

Misture bem e esmague alguns grãos, a fim de entranhar o tempero na polpa da leguminosa.

Não precisa muito tempo: mexeu tá pronto!
Dica: tire um pouco dos grãos - deve estar algo bem consistentes nesta fase - e separe-os numa colher. Quando esfriar - e não totalmente frio -, dê para a namorada experimentar. Vai ganhar ponto e prepará-la para o almoço. Vai por mim de novo!

Pegue agora a concha e ponha a quantidade de caldo que você achar boa para aquela quantidade de grãos refogada.

Deixe engrossar um pouco a fervura para homogeneizar o tempero e é só servir.

Prepare o terno, pois vai ser pedido em casamento por ela.

Guia do Homem Sozinho (II)- Arroz da mamãe

Se você tiver a bênção de poder arranjar chuchu novinho, desses pequenininhos que raramente se vêem pelos supermercados, compre lá rapidinho uns quatro que sejam.

Lave o arroz e deixe-o de molho na água, de modo que o cubra e deixe de lado por um tempo. Quanto mais deixar, melhor. Por volta de duas horas estará bom. Ele vai render mais assim.

Quando achar que hidratou bem os grãos de arros, num pires, pegue dois dentes de alho com casca e tudo e, com um garfo forte, vá espetando-os repetidamente. A casca sairá facilmente e você nem precisará de faca.
À medida que você vai espetando, o alho vai se fragmentando e você, no fim, aperte-os bem no pires, a fim de que fiquem em quadradinhos bem pequenos. Quanto menores, melhor sairá o óleo e o gosto vai se pronunciar. Se você gosta de alho, claro.

Ponha um pouco de azeite sobre o alho picado, a fim de estimular a saída do óleo. Se você não sabe, óleo de um tipo quase que 'liquidifica' um outro tipo óleo.
Não acredita? Um parêntese: quer tirar, por exemplo, graxa da mão que você pegou lá no motor do automóvel? Basta, com as mãos ainda besuntadas da graxa automotiva, passar óleo de cozinha, esfregar bem e depois usar detergente. Veja se não sai tudo. Mas isto fica para dica de outro assunto. O negócio aqui é culinária. Continuemos.

Lave os chuchus, (não seja porco, senão vai levar coisa para a panela além de células vegetais). Corte-os ao comprido e com lascas finas, com casca e tudo, já que é chuchu novinho. Se ele tiver uma cara arqueológica, é melhor descascá-lo e já lhe digo que não vai ficar a mesma coisa. Você controla como você quer.

Reserve-os num prato qualquer.

Escorra a água do arroz.

Ponha água para ferver. Assim que você presumir que ela irá entrar em ebulição, vamos ao arroz.

Ponha uma panela seca no fogão e ponha uma colher de sopa de manteiga ou margarina; ou duas de óleo. Acenda o fogo baixo.

Quando a manteiga/margarina/óleo começar a ficar com uma cara esquisita - antes de começar a sair fumaça e queimar, evidentemente - e parecendo querer sair da panela mas sem saber para onde ir, jogue o alho lá dentro e fique mexendo a panela com uma colher de pau, ou uma de pedreiro se você quiser dar uma de machão, o que você tiver ou for de seu gosto, até que o alho fique com uma cor dourada.

Dica: Alho é um bicho safado, você vai descobrir: se você jogar ele na panela quente e não mexer, ele é capaz de ficar horas com a cara branca. Mas, se você mexer enquanto frita, cuidado para não bobear e dançar rapidinho, pois ele doura e preteja em dois tempos. Cuidado.

Assim que dourar o alho, jogue o arroz e mexa para igualar o contato dos grãos com o alho-e-óleo. Despeje a água fervendo até ficar dois dedos acima da superfície do arroz e mexa mais um pouco.

Pegue uma colher de sopa e ponha sal de modo que apenas a ponta dela fique coberta deste composto iônico, o tal NaCl que bem conhece das cadeiras do segundo-grau.
Se não sabe o que é NaCl, é aquilo que gruda na pele quando você vai à praia, dá um mergulho e depois fica a secar ao sol. Aquela substância branca é o tal de NaCl (Sódio e cloro).
Jogue os chuchuzinos - não vá jogar as namoradas na panela, ok? - dentro da mistura.
Tape e voilá!, você é um feliz cozinheiro de arroz; mas não vá deixar queimar.

Deixe tapado, mas dê umas espiadas de vez em quando, e, quando começar a crepitar e não tiver glu-glu de água, você já pode desligar o fogo.

Não destape a panela, mas quando o fizer, vai ver que as fatias dos chuchus jovens estarão sobre a superfície do arroz e, quando for comê-los, verá que têm um gosto muito bom. Não desacredite dos poderes deste legume tão relegado a segundo plano.

Aliás, a vida é assim, não nos deixando saborear as coisas simples por costumeiro preconceito, palavra que via de regra não se refere a coisa inteligente.

Espere uma hora para servir, e chame o seu chuchuzinho-de-vestido para compartilhar sua maestria.

Guia do Homem Sozinho (I) - Arroz de apressado

Se você não sabe fazer nem ovo frito, vou te ensinar a fazer arroz de apressado agora.

Este tipo de arroz é para aquele cara que está morrendo de fome, mas está duro a ponto de não ter dinheiro para comprar um pão de cinqüenta gramas ali na padaria da esquina, de modo que nem alho o homem tem à disposição.

Mas, pelo menos deve ter arroz e um pouco de sal, óleo e margarina, senão vai ficar pior.

Mas, mesmo que tenha só um pouco de arroz e margarina já dá para matar a fome. Anota aí:

Põe uma panela com água no fogo do tamanho que você ache que vai dar samba pra matar a sua fome. O nível da água vai dizer o quanto de arroz você vai ter no fim.

Ponha um pouco de sal; é melhor pôr de menos, pois tirar sal da comida é impossível; pôr, é chato, mas é fácil.

Despeje uma caneca de arroz de modo que a superfície dos grãos fique um ou dois dedos abaixo do nível da água.

Ponha uma colher de sopa de óleo e dê uma mexida para tudo se misturar, mas não fique mexendo depois que levantar fervura, senão seu arroz vai ficar mais unido do que o PMDB ao Planalto. Mexa somente enquanto a água não ferver.

Deixe tapado para o arroz cozinhar e fique de olho, pois seca rápido; coisa de dez minutos, no máximo.

Depois de seco, ponha o ouvido perto da panela e escute o crepitar, se é de água no fundo ou de arroz seco: é fácil saber. Não se preocupe.

No momento que secar a água do fundo, apague o fogo e deixe a panela tapada o máximo que você puder agüentar a fome.

Quando o seu estômago tiver comido um dos pulmões, já pode servi-lo.

Quanto mais você deixar tapado, melhor ficarão os grãos, os tais 'soltinhos'.

23 maio 2008

Justiça e economia

Causa-me estranheza a decisão sobre o porte de drogas, de acordo com a matéria do jornal que você pode ler aqui.

Não há como se aceitar que uma lei básica da economia não seja levada em consideração como parte da regulação jurídica.

Economia é criação dos homens, assim como os costumes e as leis, e não pode ser desprezada nos julgamentos dos tribunais, pois sua essência se funde com tantas outras existentes nas relações humanas.

A Justiça não pode desvincular de si os efeitos econômicos irreprimíveis e naturais, apartando-os das normas jurídicas, sob pena de a lei cair em descrédito.

Permitir a demanda e construir mecanismos legais que barrem a oferta do mesmo produto é nitidamente um suplício de Tântalo.

Unasul

Será um novo Mercosul, ou uma novíssima Alalc? Esperemos que não.

Essas coisas demoram mesmo e não será sem tempo que o bloco sul constitua uma verdadeira reunião de interessados em progredir em todos os sentidos.

Divididos como sempre estivemos e infelizmente unidos na 'admiração' pela Europa e América do Norte, o resultado foi atraso ou estagnação.

O problema número um, entretanto, é a liderança. Falta-nos um nome.

Lula parece não entender o seu papel, favorável a ele em todos os sentidos. Chávez não inspira confiança a ninguém.

A família argentina é fraca, pois dividiu o poder no equívoco eleitoral.

Restam os presidentes da Colômbia e do Chile, mas que não têm território e visibilidade para tal empreendimento.

16 maio 2008

Marina Silva e a verde esperança


Possivelmente os amigos que encontram no alvoroço da imprensa uma leviana e interesseira aderência de última hora à causa ambiental pela saída da ex-ministra, quero opinar.

Sem me deter no dilema se a imprensa faz a cabeça do povo ou se é o contrário, acredito que há mais coisa entre o céu e a terra das manifestações gerais do que a nossa vã filosofia blogueira desconfia.

Marina Silva pode não ter sido uma articuladora, executora, planejadora eficaz, mas não é isto que interessa. Tampouco a causa ambiental que seu ex-ministério tem.

O símbolo Marina-Silva transcende sua pessoa e a causa ecológica.

Sua saída do governo nos toca como uma desesperança repentina, que muitas palavras escritas e faladas não têm o alcance e a precisão necessários ao entendimento disto.

Enquanto lá, Marina Silva passava até despercebida, mas sua saída nos deu uma medida do quanto desejávamos alguém no estado que não tivesse nenhuma pendência na justiça.

14 maio 2008

Trans-volumes

Centro Cultural Banco do Brasil
Centro Cultural Banco do Brasil - Rio de Janeiro
Durante minhas lúdicas atividades matemáticas, fiquei imaginando, após alguns rabiscos curiosos sobre relações do círculo há muito consolidadas, o que haveria por detrás de c=2.pi.r, de a=pi.r^2 e assim por diante, até a esfera e seu volume.

Fuçando aqui e ali, descobri a fórmula














2 . ( d - 1 )! . pi . r ^ d
f ( r ) =----------------------------
dd


Ou seja, a fórmula geral que dá as fórmulas particulares dos elementos de cálculo ligados aos círculos é uma função em 'r', na dimensão 'd'.

Ela unifica as três fórmulas que têm o círculo e a circunferência como origem, que são a do comprimento da circunferência, a da área do círculo e a do volume da esfera.

Para calculá-la, escolhe-se uma dimensão e faz-se a multiplicação da constante 2 pelo fatorial do número de dimensões anteriores à desejada pelo 'pi' e pelo raio 'r' elevado à dimensão desejada; tudo isto dividido pela dimensão desejada.

Vejamos um exemplo: qual seria a fórmula para duas dimensões, tendo o círculo como base (isto é, qual a área do círculo)?




















2 . (2 - 1)! . pi . r ^ 22 . pi . r ^ 2
-------------------------=--------------=pi . r ^ 2
22

Confirmou a fórmula clássica.

Qual seria a fórmula para o cálculo de capacidade de uma esfera?























2 . (3 - 1)! . pi . r ^ 32 . 2 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 3
---------------------=----------------=---------------
333

Reproduziu a fórmula do cálculo do volume da esfera.

Como eu cheguei à definição da fórmula geral, lá de cima?

Primeiro, era apenas diversão. Eu anotei as fórmulas consagradas há milhares de anos numa tabela. Ao lado delas, suas derivadas. Assim



















f(r)f '(r)
2 . pi. r 2 . pi
pi . r ^ 2 2 . pi . r
4/3 . pi . r ^ 3 4 . pi . r ^ 2

Fiquei satisfeito ao notar que a segunda linha da coluna das derivadas reproduzia a fórmula consagrada do comprimento da circunferência. Me fez desconfiar que havia alguma coisa a mais nisto.

Por curiosidade e apenas continuando o jogo, resolvi dividir a primeira coluna pela segunda, linha a linha. Na primeira linha, encontrei 'r' (ou r/1); na segunda, 'r/2' e, finalmente, na terceira, 'r/3'. Criei mais uma coluna para registrar isto:
































ABC
df (r)f ' (r)A/B
12 . pi . r2 . pir
2pi . r ^ 22 . pi . rr / 2
34/3 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 2r / 3

A primeira idéia que me veio foi a de que um objeto esferóide imaginário de quatro dimensões teria um sobrevolume, um trans-volume, dado por uma função que, dividida por sua derivada, reproduziria 'r/4' na coluna 'C' da tabela acima. Assim







































ABC
df (r)f ' (r)A/B
12 . pi . r2 . pir / 1
2pi . r ^ 22 . pi . rr / 2
34/3 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 2r / 3
4XX'r / 4

Olhando as colunas, a das derivadas era a única que tinha uma evolução qualquer. A primeira coluna não me dizia nada.
Momentaneamente, achei que não tinha para onde ir e larguei o 'brinquedo' de lado. Mas fiquei com aquilo no subconsciente.

Um dia, revi a tabela. Ainda não me dizia nada, qual caminho seguir. Mas quis brincar um pouco mais e resolvi ver a relação que existia entre a derivada da linha 2 com a anterior.

2 . pi . r
----------- = r
2 . pi

O mesmo fiz com a terceira linha e com a segunda.

4 . pi . r ^ 2
-------------- = 2r
2 . pi . r

Aqui uma luz se acendeu. Fiz mais uma tabela, com uma coluna a mais:












































ABCD
df (r)f ' (r)A/BB[d+1]/B[d]
12 . pi . r2 . pir / 1-
2pi . r ^ 22 . pi . rr / 2r
34/3 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 2r / 32r
4XX'r / 4?

Vislumbrei a possibilidade de a quarta dimensão produzisse uma derivada que, seguindo a 'tendência' da coluna 'D', fosse '3r'.
Caso fosse verdadeira a minha intuição, a derivada da quarta dimensão deveria ser

X ' = 4 . pi . r ^ 2 . 3r

ou

X ' = 12 . pi . r ^ 3

Assim, a tabela ficaria














































ABCD
df (r)f ' (r)A/BB[d+1]/B[d]
12 . pi . r2 . pir / 1-
2pi . r ^ 22 . pi . rr / 2r
34/3 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 2r / 32r
4X12 . pi . r ^ 3r / 4 ?3r ?


Tendo a coluna 'C' também aparentemente a tendência de evolução regular, poderia ser 'r/4' e este valor 'me daria' a chave para descobrir a fórmula da coluna 'A', na quarta dimensão.

X = r/4 . 12 . pi . r ^ 3 = 3 . pi . r ^ 4

'Descobri' a fórmula da quarta dimensão fazendo a operação inversa à que foi feita nas linhas da coluna 'C'. A nova tabela fica













































ABCD
df (r)f ' (r)A/BB[d+1]/B[d]
12 . pi . r2 . pir / 1-
2pi . r ^ 22 . pi . rr / 2r
34/3 . pi . r ^ 34 . pi . r ^ 2r / 32r
43 . pi . r ^ 412 . pi . r ^ 3r / 4 3r

Até então, eu ficava preso a uma fórmula de uma dimensão qualquer para poder descobrir a fórmula seguinte, de acordo com as progressões mostradas nas colunas 'C' e 'D'.
Eu não tinha como dizer, por exemplo, qual seria a fórmula para o cálculo do tal trans-volume da sexta dimensão, sem, antes, calcular o da quinta.

Haveria uma fórmula universal que me desse o cálculo em qualquer dimensão desejada?

Fiz vários ensaios, tentando vislumbrar alguma regra óbvia na evolução dos coeficientes da primeira coluna. Não havia. Na coluna 'B' também não. A coluna 'C' não me interessou muito, pois, embora tivesse uma evolução clara, não mostrava progresso vertical, de uma fórmula a outra. Mostrava a relação de mesma linha.

A coluna 'D', entretanto, intuitivamente, pareceu-me ter uma direção interessante: ela me mostrava que as derivadas progrediam numa escala linear. E a constante numérica me parecia ser, a cada linha, a dimensão a que ela se referia, menos 1.

Resolvi dividir o coeficiente numérico de uma derivada qualquer pela constante numérica da coluna 'D' na linha a que ela se referia: encontrei o coeficiente numérico da derivada anterior à linha em que eu estava.

Por exemplo,

12 . pi . r ^ 3
--------------- = 4 . pi . r ^ 3
3

Era 'quase' a fórmula da derivada anterior. Resolvi, também por intuição e como sempre até aquele momento, acreditar que, parcialmente, poderia fazer o expoente de 'r' ser igual à dimensão da fórmula base em questão, menos 1.

Nasceu, assim, a primeira idéia para a fórmula geral. Como todas as derivadas contemplam a dupla de variáveis 'pi' e 'r', e que 'r' tem sempre expoente igual à dimensão atual - 1, pude imaginar

f ' (r) = ... . pi . r ^ (d - 1)
d

Como seria o coeficiente numérico? Perguntei-me se a evolução da coluna das derivadas era sempre par. Parecia ser. Então, algo teria a ver com o fator 2. Tentei

f ' (r) = 2 . ... . pi . r ^ (d - 1)
d

Foi uma boa idéia. Olhando os coeficientes das derivadas nas tabelas anteriores e reescrevendo cada uma delas, vi que os coeficientes numéricos deveriam ser





























dCoeficiente fixoCoeficiente móvel
121
221
322
426

Uma intuição definitivo me 'disse' que o coeficiente móvel '6' seria o fatorial de '3', que era a dimensão anterior à que ele se referia. Se fosse verdade, o coeficiente móvel da segunda dimensão deveria obedecer à mesma regra. E era, pois

(d - 1 )! = (2 - 1)! = 1

E, por fim, a primeira dimensão também obedecia

(d - 1)! = (1 - 1)! = 0! = 1.

Assim,

f ' (r) = 2 . (d - 1)! . pi . r ^ (d - 1)
d

Qualquer derivada fica assim determinada, bastando-se indicar em qual dimensão (d) será levada a calcular.

Mas o meu objetivo final é achar uma fórmula de uma dimensão 'd' qualquer que seguisse a regra constituinte de todas as já consagradas.

Em meu socorro veio a coluna 'C'. Bastava multiplicar-se uma derivada qualquer pelo seu valor correspondente na coluna 'C' que poder-se-ia obter a fórmula da coluna 'A'.

Então

f (r) = [f ' ( r )] . r / d
d

Substituindo a representação da derivada acima por sua expressão, temos


















[2 . (d - 1)! . pi . r ^ (d - 1)] . r
f (r)=------------------------------------
dd

Simplificando e terminando a história, temos a fórmula geral, conforme mostrada no início deste artigo:















2 . ( d - 1 )! . pi . r ^ d
f ( r ) =----------------------------
dd

10 maio 2008

Morte e Vida Severina

Com a morte da menina Isabella, morreram também várias famílias.

Potencialmente, a própria, futura: impediram-na de um dia ser mamãe.

Morreu a da mãe da Isabella; morreu a dos avós, dos dois lados da menina; e morreu a do pai e da madastra.

Morre, diariamente, por mãos de assaltantes, várias outras famílias, 'sem importância', sem dinheiro, anônimas.

Por balas perdidas e pela ação policial, outras mais, igualmente desconhecidas, a não ser dos números estatísticos, que ninguém vê.

Vicejam os crimes do colarinho branco e, com eles, a ineficácia das punições.

Cresce a impunidade, onde estranhamente réus são condenados à pena máxima e, sob recurso, liberados.

Cresce o PIB, em taxa modesta; cresce o lucro dos bancos.

Mas o que mais cresce neste país são os cemitérios e não só de corpos físicos, mas de pequenas e constantes porções da Esperança.

Mas ainda a temos. Tem sete vidas, ou mais.

Nada dura para sempre. Nem uma histórica indiferença do estado pelo cidadão comum.

08 maio 2008

PANO! RÁPIDO!

Na ida à Comissão de Infra-estrutura do Senado, a Ministra Dilma Roussef seria alvo prévio de saias-justas; contra ela.

O que se viu, entretanto, foi uma ilusória batalha ganha pela convidada; mais pela indigência de idéias por parte daqueles que desejavam sabatiná-la do que pelos méritos técnicos da ministra. Ilusória, sim, pois a tão propalada volta por cima dada por Dilma não teve consistência alguma. Era apenas a leitura de relatórios de projetos do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.

A infeliz alusão a mentiras ditas por ela enquanto torturada no regime militar, feita pelo senador Agripino Maia com o intuito de encostá-la na parede sob a alegação de que tal procedimento ela não deveria ter ali na Comissão, foi um sinal claro despreparo do parlamentar.

A cada dia, reforça-se o sentimento no eleitorado que no Brasil não existe ideologia.
É o poder pelo poder. Não há argumentos, não há controvérsias que sejam baseadas em dados irrefutáveis. Fala-se. Dá-se bom-dia a cavalos.

Havendo uma câmera, um microfone, usa-se o espaço de tempo como palanque, não se importando com o que será dito.

O senador Agripino Maia gosta das frases longas, da pronúncia bem articulada, que não fazem eco, pois o alvo é o seu próprio 'eu' que, por ser rarefeito na sua essência, não repercute para bons ouvintes.

Doravante, se tiver mesmo sabedoria política, não será tão leviano. Espero. Para bem que uma verdadeira oposição faria ao cenário político.