19 dezembro 2009

Censura

Se estão falando mal de algum coronel ao estilo dos do século XIX, que se cale a voz. Se o mau cheiro existe, que se aplique aerossóis para com ele conviver.

O episódio da censura imposta ao jornal Estado de São Paulo perpetrada pela justiça brasileira é uma tristeza.
Diz-se que vivemos numa democracia, onde o radical desta palavra tem ficado cada vez menor e o sufixo mais e mais sem sentido ao acompanhar tal tendência. Parcialmente democrático (o que é um paradoxo, pois povo é um todo) talvez o seja, quando não incomoda integrantes do estado, ele próprio um tipo de pessoa além das duas aceitas, física e jurídica.
Ou seja, se o beneficiário da denominação pertencer ao próprio estado, ah!, esses estão sob a tal 'democracia'.

O estado se considera uma pessoa, e com direitos apenas. Ao estado tudo é permitido, o que caracteriza bem um governante que tenha poderes monárquicos, absolutista.

O estado não precisa prestar contas e, como a Hidra de Lerna, tem cabeças preliminarmente em três lugares diferentes, mas espalhando - exemplarmente e liberalizante de obrigações - seus esporos germinativos por toda a União.

A anarquia não é a saída, mas o absolutismo estatal não pode também ter vez.

Se o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, o estado brasileiro não tem como galgar mais um degrau nesta direção.
A situação é tão difícil no plano moral que tal idéia nos parece, absurdamente, um alívio.

09 dezembro 2009

Uma ilha

Eu moro no Rio de Janeiro há muitos anos. Vejo que, a cada ano, os serviços pioram. Hotéis com mosquitos, quiosques de praia sujos, praia suja, areia suja, táxis caindo aos pedaços, ônibus sem ar-condicionado e sem padrão para facilitar as entradas e saídas, mendigos às centenas dormindo sob as marquises do Centro, ruas com sinalização viária caótica e por aí vai.

Em termos de belezas naturais, o Rio é imbatível. Somente nisto. Em serviços, deixa muito a desejar.
O mais cruel dessa história é que o carioca não reclama. Para ele tudo está bom do jeito que está.
Aliás, Rio de Janeiro é apenas uma faixa de uns dois ou três quilômetros de largura por uns cem, no máximo, de comprimento. É a parte das praias.
É assim que considera "Rio de Janeiro" os habitantes da Zona Sul. Chegam a dizer - com certo orgulho - que, além túnel (no caso, o Novo), não conhecem nada e este é um dos motivos do abandono geral.

Os da Zona Norte também acham que o Rio de Janeiro é o do cartão postal e assim a cidade deteriora a cada dia.

Entretanto, há uma ilha nesse mar de indiferença: se algum dia desejar um serviço de qualidade, vá almoçar na Quinta da Boa Vista.

Isto mesmo. O lugar desdenhado pela classe média empedernida da Zona Sul abriga um restaurante que na tão decantada Zona Sul não tem.

Chama-se Restaurante Quinta da Boa Vista. Lugar limpo, a preço compatível com o bom tratamento.

Ah! Eles não me pagaram nada para dizer isto, mas eu faço questão. Espero que nunca fechem as portas.

05 dezembro 2009

Queda da Bastilha

Muitos gostariam de ter uma Queda da Bastilha doméstica. Possivelmente, a fala do Ministro, veladamente, acenda o rastilho, diante do peso de sua autoridade; dê uma idéia aos mais exaltados.

Mas, ao episódio emblemático da Revolução Francesa, veio o Terror, onde os excessos do momento mancharam os ganhos libertários do espírito da revolução; poucos têm isto em memória.

Mas, simbolicamente, o episódio da invasão da Câmara do Distrito Federal nos leva a acreditar que o exemplo francês pode ser revivido, preferencialmente de forma firme, mas anti-hemorrágica.

No plano federal entretanto, onde merecem todos os estados ações parecida - pois o Efeito Arruda não é um caso isolado -, a popularidade de Lula une as partes conflitantes, num aparente distanciamento crítico por parte da população.

A agulha do carisma de Lula costura o manto sob o qual tudo se esconde, enquanto a linha econômica mantém fortemente tudo no lugar.

Mas isto está com os dias contados. Lula é um fenômeno e, assim, pontual.

Como será sob o próximo governante?

25 agosto 2009

Os simpatizantes do PT e mais seus partidários andam a cada dia mais nervosos com a candidatura forçada de Dilma Roussef.
Se lançam todos os meios para garantir o poder, a continuidade do PT em todas as esferas do Poder.

Explica-se o comportamento dos integrantes e aliados do PT. Mais de seus integrantes.

O que não se justifica, pode se explicar, claro.

Há ligações histórico-comportamentais com a Situação.

O PT não tem nomes a altura do próprio Lula. Lula confunde-se com o PT, ou é o único petista. Os outros são apenas filiados, sem representatividade. O Rei Sol não disse - ainda - 'Lè ètat est moi', mas nem precisa; isto poreja no petismo.

Há um medo - também explicável e muito justificado agora - geral no petismo com o intervalo 2010-2014 e, após o Alcácer Kibir da próxima eleição presidencial, esperarão o novo Dom Sebastião retornar para salvar-lhe a pátria.

E a realeza planaltina, agora mais eudeusado do que idolatrado, nesta miragem de fogo-fátuo, acende no coração dos seguidores a saudade prévia do messias de Garanhuns, cuja incerteza de volta lhes é acachapante.

17 agosto 2009

Cálice de Holanda


De tão gorda a porca já não anda, de muito usada a faca já não corta...

Chico disse isto há muitos anos e muito bem sobre a ditadura militar,sobre o uso intensivo de força.
Não se podia falar, mostrar erros; a lâmina estava sempre pronta.

O senado (assim, em letras minúsculas, e inclua-se nesta pequenez a excelência parlamentar que desejar assumi-la) tem nos proporcionado o que há de mais rasteiro em termos de moral. É a bola da vez, como se diz popularmente. Já outros integrantes do estado tiveram a sua oportunidade de mostrar o lado escuro das negociatas.

Ali forja-se uma nova conduta, que, por vasos comunicantes sem torneiras restritivas, passa o veneno para todo o sistema.
Dizia um camelô com uma visão de negócios muito além da de seus pares: uma pequena colher de veneno num balde de água límpida espalha-se por todo o conteúdo.

Nos tempos do regime de exceção (locução bonita para uma realidade plúmbea), as maiores patentes ocupavam, na lógica vertical militar, os maiores cargos e, por condução automática, descia a ladeira nos (des)mandos. Faltou chegar a sargento o título de algum dirigente de órgão estatal.
Não deu tempo. Se ficassem mais alguns poucos anos no poder, teríamos cabos ou soldados dirigindo o Detran.

A população tem a automática aceitação de que Brasília, por voto ou por golpe, dê a direção do que é certo ou errado. O que se faz no Distrito Federal, repercute nos degraus mais baixos da hierarquia social, de modo que, se os legisladores fazem e se regulam por tais e tais procedimentos, quem seremos nós, a gente comum definida por Lula, para contrariar?

Brasília, entretanto, não gosta muito disto. Acha que seus privilégios passam por uma isolada fruição. Não é possível que todos ajam da mesma forma, segundo eles. A lei escrita, o preto no branco, é para ser seguida por todos (os outros).

É nítido isto nos sarneys, que não são apenas os herdeiros de josé ribamar. Sob este sobrenome, tão emblemático, se abriga o estado (também em letras pequenas) inteiro, pois é uma família apenas.

A imprensa, a cada dia, nos mostra uma nova faceta do congresso, sem que nenhuma providência seja tomada por algum órgão competente. Todos são incopetentes diante do poder do estado, pois também são parte dele. É difícil meter a faca na própria carne e infinitamente mais galhardo espetar-se a de outrem.

De embainhada a faca do estado não o cortará jamais; de muito usada, a faca da opinião pública já não corta; a porca estatal segue e, de tão gorda, não consegue mais dar um passo, a não ser na direção do cocho.

04 agosto 2009

O Tietê Universal



A luz forte do sol lá fora fazia um grande contraste com o escuro do cômodo.

Poucas pessoas. Móveis rústicos, panelas penduradas e com teias de aranha. Gente magra.
Era um grupo de dez, doze, que mais pareciam estátuas. Desgrenhadas, sem beleza, mesmo entre as mais jovens.
Havia muito que não tomavam banho e o odor e as moscas também de há muito que haviam deixado de incomodar.

Aprenderam a falar palavras essenciais, num novo dialeto.
Algumas olhavam a luz de fora; outros distraíam-se com coisas miúdas ao alcance da mão.
Ninguém agitava. O silêncio era profundo.

___ Ninguém beber da água arranjei – falou Santiago, enquanto escondia o vasilhame de líquido barrento - com dois dedos de nível - dos olhos dos outros.

Ele não faria como os outros. Ficaria. Até o fim. Se estavam decididos, ele também ficaria firme na própria opinião. E sua firmeza era a de não fazer nada. Estava cansado da luta. Capitulava, mas de modo diferente do dos outros.
___ Covardes! - disse consigo.

E olhou para trás para certificar-se de que todos ouviram, por via das dúvidas.
Escutaram mas permaneceram calados. Santiago tinha a consciência de que escamoteavam a intenção para não despertarem suspeita; todo cuidado era pouco na hora de roubar.
Pura dissimulação.

Santiago pensou mais um pouco e achou que todo pensamento como aquele era de completa inutilidade.
___ Vai morrer último, devagar... – retrucou Pedro molemente, enquanto afiava a faca sem pressa.
___ Pior pra você – continuou Pedro.
___ Sua parte pra outros... – falou ainda mais.

Os homens falaram sem gestos, olhando-se fugazmente nos olhos.
O olhar fixo, aquele do reino animal, deveria ser sempre evitado; disposição de luta; desafio; e luta era, sobretudo, movimento.

O telhado crepitou.
O mais velho, cuja certidão de nascimento apresentava-se na cabeça branca, resmungou qualquer coisa.
___ Lembro água grande... – disse uma mulher, e interrompeu a fala para economizar o todo mais um pouco.

O silêncio veio tomar seu lugar ainda mais.

___ Na cidade hidrantes, fontes espirrando acima...
Uma criança tencionou limpar o suor do rosto, que a mãe não deixou, passando a língua para aproveitar a umidade.
___ Pára! – alguém disse de lugar incerto naquele metro-quadrado.
___ Mamãe... Com sede... - choramingou a criança.
___ Agora não demorar... Só mais pouquinho, meu bem...
___ Lembro desmatamento... – outra voz anônima.

A mãe olhou em volta.

___ Se vamos acabar com isso, porque ainda estamos nessa idiotice de economizar palavras? O que tínhamos de economizar antes eram as nossas florestas, nossos rios... Agora só existe areia... Me dá logo essa caneca! – disse, estendendo a mão para Pedro.

Santiago olhou para ela; queria saber se tinha mesmo coragem de continuar com aquilo.

A mulher deu da caneca, passada pela mão de Pedro, à filha e deixou-a beber metade. A menina fez uma careta.

___ Ruim...

A mãe tomou o resto e também fez uma careta, devolvendo o vasilhame.

___ Não vou ficar por último – falou Pedro, tomando sua parte inteiramente.

Logo os demais quase disputaram a vez, se não fosse o velho hábito de economizar movimentos.
Em poucos minutos, somente Santiago restava vivo.
Fez um gesto despeitado com a mão na direção do grupo, como se espantasse uma mosca incômoda.

Voltou-se para fora.
Do alto do morro, viu o Pão de Açúcar elevar-se imponentemente sobre dunas de areia, a perder de vista por todos os lados.

20 julho 2009

O homem na Lua

O século XX deverá ser conhecido, no futuro, como o início de uma nova Idade. Tivemos a Antiga, a Moderna e tínhamos a Contemporânea, que será levada mais para adiante. Hoje, posso profetizar que inicamos a Idade dos Computadores.
Estão por toda a parte.

Há quarenta anos, exatamente no dia de hoje, o homem pisou na Lua. Com ele, um computador que o ajudava a alunissar o módulo destinado a isto. Acho que não tinha nem 16 Kbytes de memória RAM. Imagine só.
Hoje, se alguém pega um PC com menos de 1 Gbyte de memória, torce-lhe o nariz.

05 julho 2009

Salsichas

Não foi Bismarck a voz a comparar as negociações políticas com a fabricação de salsichas, diante da falta de higiene dos idos dos século XIX e inícios do XX? Se não foi, pouco importa, mas é muito interessante o dito.

Pela tal governabilidade, entenda-se o Poder.
Lula posa de pai dos pobres, mas não se preocupa com os desvalidos; trai-se nos improvisos de mau gosto, onde revela, sem sentir, o quanto de apreço tem às pessoas.

Seus planos são eleitoreiros, pois baseia-se na permanência da pobreza: enquanto instalada, fica bem na foto e o grande contingente de desvalidos, sem saber que o que recebe com uma das mãos entrega aos baldes com outra, vai votando, caindo no engodo.

A pseudo-oposição, enredada na falta de coragem de mudar pois segue na mesma ideia míope de que o Poder é melhor que a verdade, sente-se refém. Não imagina como - e nem se interessa, na verdade - achar um plano de erradicação de pobreza consistente sem mexer no que vêem.

Bismarck não tem mais razão: as salsichas hoje são limpas.

30 junho 2009

Ou o Brasil acaba com a saúva...


...ou a saúva acaba com o Brasil.


Slogan antigo, se não me engano da década de cinquenta. Vou verificar.


Mas não são de formigas que desejo falar. É de outro inseto.


Existe na natureza um minúsculo animal, cuja voracidade individual não é muito grande, não precisa de muito para sobreviver.

Entretanto, a colônia gera grandes estragos às estruturas das casas. São as térmitas, os cupins, que têm muitas variedades mas um único objetivo, o de alimentar-se dos vegetais celulósicos.


Numa ficção científica, uma casa ficaria carcomida totalmente e, por serem tantos indíviduos, substituiriam o lenho da construção com seus próprios corpos abarrotados de celulose. Ou seja, se nesta obra de ficção as térmitas fossem retiradas, a casa ruiria.


Segundo a Wikipedia, 'Todos os cupins são eussociais, possuindo castas estéreis (soldados e operários). Uma colônia típica é constituída de um casal reprodutor, rei e rainha, que se ocupa apenas de produzir ovos; de inúmeros operários, que executam todo o trabalho e alimentam as outras castas; e de soldados, que são responsáveis pela defesa da colônia.'


Quaisquer semelhanças com o nosso legislativo...

18 junho 2009

O que será preciso?



Os constantes escândalos do senado têm vindo com força crescente.

Lula, por seu turno, por cinismo e conveniência políticos, finge passar a mão na cabeça do presidente do senado, Sarney, dizendo que ele não pode ser atacado, pois não é uma pessoa comum.

A verborragia improvisada de Lula bate mais uma vez na insânia de classificar as pessoas em geral como comuns, que podem ser espezinhadas. Políticos tradicionacionalmente corruptos, não.
Outros falam em ataques às instituições, que elas são sagradas, que querem desestabilizar o estado.

A preservação das instituições...

Palavra bonita, que serve apenas para dificultar a justiça.

Onde estão as instâncias de julgamento competentes para pôr um fim no desatino político que o senado se tornou, assim como todo o legislativo, para ser justo?

Estão, os integrantes do estado, todos, com medo de apurar o que precisa ser verificado?
Estarão todos os poderes da República manietados pela contaminação de sua moral, de modo que não podem, ao chegar ao verdadeiro teor dos desmandos, contrair provas contra si mesmos, em quaisquer das esferas que necessitam de investigação?

Existe uma rede de malfeitores que permeia o estado como um todo?
Não há probidade em lugar nenhum?

Será que a Lei, que se origina nos bons costumes, deverá se apresentar doravante em imagem negativa, ao contrário?

Estão substituindo o bem pelo mal e este passa a ser a lei vigente e, por isto, não há como punir ninguém, a não ser aqueles que se conduzam, pela lei 'antiga', corretamente, nesta 'realidade surrealista'?

O fundo do poço é muito malcheiroso.

17 junho 2009

A Biblioteca Nacional


Eu costumo ter má vontade com o Governo. Acho que exige mais do cidadão do que lhe dá.

Uma vez escrevi à Presidência da Biblioteca Nacional, aqui no Rio, apontando - um tanto indignado - com o tratamento que o leitor tem lá.

Naquela ocasião, reclamei:

1-Menores de 12 anos não podem freqüentar o salão de leitura (me expliquem por que, foi o que eu perguntei a eles)
2 -Funciona somente no horário comercial, em dias úteis (biblioteca pública, na minha opinião, deveria funcionar não só de domingo a sábado, como também 24 horas por dia. Se padaria e cinema abrem todos os dias, por que a Biblioteca Nacional não?)
3 -Você, na hora do seu almoço, uma hora de prazo, vai à Biblioteca e pede um livro para ler. Isto mesmo, não é possível tê-lo diretamente na estante. Há uma burocracia para isto. E olha que você nem está pedindo livro raro, não; livros comuns, didáticos, romances, qualquer um. Aí, depois de esperar uns quinze minutos (que você não tem), ocasionalmente vem a resposta de que o livro está sendo restaurado (será que todos os livros são raridades, incunábulos?)

Na época, a Presidência me convidou para ir lá, discutir. Ora bolas, não fui! Já havia apontado os erros!

Agora, vejam que minha birra com a BN não é à toa, pedi informações num serviço que eles têm na página da internet deles, que é alguma coisa como fornecer dados de estrangeiros que entraram no Brasil no século passado e no XIX também.

Como era para eu saber, o serviço não funciona. Vejam o que me respoderam, quando eu pedi informações, e já fornecendo dados poucos - evidentemente - sobre meu avô italiano que chegara ao Brasil no século XIX:


A(o) Senhor(a)
O Arquivo Nacional não dispõe de um banco de dados
[negrito meu] que contenha informações gerais sobre estrangeiros, nem de listas nominais de famílias, de modo que se possa encontrar rapidamente um determinado estrangeiro ou uma família.

O atendimento à distância só é possível quando o requerente fornece as indicações necessárias à realização de busca em diversos conjuntos documentais, observando os diferentes documentos de cada conjunto, a saber: listas de passageiros de navios, livros de registros de entradas de imigrantes nas hospedarias, prontuários de registros de permanência de estrangeiros no Brasil(carteira modelo 19) e processos de naturalização.

Para o exame das listas de passageiros são necessários: o nome completo do estrangeiro, o dia, mês, ano do desembarque ou o mês, ano e nome do vapor, como também o porto em que ocorreu o desembarque.
As listas nominais de passageiros, de uma maneira geral, não consta a cidade de nascimento do estrangeiro,

do porto de Santos, são somente a partir do ano 1894, havendo deste ano, apenas, parte da lista de passageiros do vapor Solferino;
* do porto do Rio de janeiro são somente a partir do ano 1873
As listas de passageiros anteriores aos anos acima indicados não se encontram sob a guarda deste Arquivo e não se têm notícias a respeito do destino dado às referidas listas.
Para o exame dos fichários nominais de prontuários de registros de estrangeiros(RE,SRE,Carteira modelo 19) são necessários: o nome completo do estrangeiro, a filiação e a cidade/ estado que o estrangeiro fez o registro. O registro de estrangeiro tornou-se obrigatório somente a partir do Decreto-lei nº 3010, de agosto de 1938 para todos os estrangeiros, em caráter permanentes no país que tivessem menos de 60 anos à época do referido decreto. Não existe este tipo de documento anterior a agosto de 1938
ATENÇÃO: Os registros de estrangeiros constituídos de letras e números não se encontram no Arquivo Nacional e poderão ser solicitados na Seção de Cadastro de Estrangeiro da Policia Federal nos Estados.
Os prontuários de registros de estrangeiros feitos na cidade de São Paulo, somente podem ser localizados pelo número do registro, cujo nº poderá ser solicitado a Seção de Cadastro de Estrangeiros, da Polícia Federal: rua Hugo D’Antola, 95 - Bairro– Lapa de Baixo– São Paulo. Tel. (0** 11) 3616-5000 Plantão- (0**11) 3616-5001.
Para o exame dos índices nominais de naturalização entre 1823 e 1959 são necessários: nome completo do estrangeiro, filiação, e, se possível, o ano do nascimento e do óbito.
Visite nosso sítio www.arquivonacional.gov.br /SERVIÇOS AOS USUÁRIOS/ ATENDIMENTO À DISTÂNCIA onde poderá obter informações a respeito da documentação disponível, a forma como está organizada e o que é necessário para que o atendimento seja possível. De posse das informações solicitadas, escreva para consultas@arquivonacional.gov.br .

Caso não disponha das informações necessárias, a consulta deverá ser realizada, pessoalmente, na sede do Arquivo Nacional na Coordenação de acesso ao acervo na Praça da República, 173 – prédio P - Centro, de 2ª a 6ª feira, das 8:30 às 17:45
Atenciosamente.
Coordenação de Atendimento a Distância


Respondi a eles, meio irritado:


Senhores, obrigado pela resposta.
Mas, perdoem-me: me parece paradoxal a BN ter documentos que não servem à pesquisa no Serviço, pois, se o pesquisador soubesse de todos os elementos que lhe pedem para localizar o documento, forçoso seria dizer que não precisaria pesquisar.


Que podemos consultar os documentos - segundo entendi ao fim de sua resposta - pessoalmente, já é uma ajuda, mas um serviço online que exige todos os elementos para dar uma resposta me soa pelo menos risível.

De qualquer maneira, grato por sua atenção



Tenho ou não tenho razão de me irritar?

09 junho 2009

Através da vidraça

Fim à pobreza

Passei por ele quando me dirigia ao restaurante na hora do almoço.

Por sua postura, seu modo de estar ali, de pé, ao lado de um outra casa de comida a quilo mais modesta, pressenti que tinha alguma relação com o dono do lugar, ou com alguém que ali estivesse. Talvez esperasse alguém.

Entrei no restaurante, aspergi algumas gotas de azeite português no meu prato, legumes frescos, escolhi o arroz integral - e um pouco do branco só para o gosto -, pus uma meia concha de feijão branco, procurei o peixe, optei pelo escalope, pesei, peguei a comanda e sentei-me sob o ar refrigerado, enquanto via o jornal Hoje passando na tv.

A televisão maior, a da vida, abria-se antes meus olhos lá fora, enquanto o mundo, o meu, o protetor, fechava-se cá dentro.

E lá continuava ele, sussurrando - agora eu passara a ver - para quem lhe passasse bem perto, algo que não se precisava ter ouvidos para saber: "Pode me pagar um almoço?".

Todas as pessoas, sem exceção, não deram nada.
Correção, uma deu um sinal com a mão para que ele não a importunasse, enquanto entrava naquela lanchonete pegada ao restaurante.

Não comi com os olhos no prato. Dividiu-se a minha atenção entre os dois lados.

Tive antipatia dele. Por que será que este moleque, ao invés de ficar esperando com essa paciência sabuja algum bobo perdulário, com essa esperança mole da fome saciada pela mariposa eventual na sua teia, não ia tentar trabalhar em alguma coisa?

Mordi um pedaço de carne.
Sem sabor.

Devia ter uns dez anos e continuava lá, a olhar de um lado para outro, e esperando o próximo ouvido surdo.

Fácil de se ver, de se prever, era do tipo que não iria dar em nada. Se desse, seria para o latrocínio, para a aspiração de cola de sapateiro, do tipo que não alcança a maioridade vivo. Malandragem vazando pelos poros.

Mordi outro pedaço de carne.
Não tinha sabor. Convalescia de uma gripe vencida.
Só por isto não sentia gosto.

Ele falava, às vezes, sozinho. Reclamava - intuí - da falta de solidariedade, dessas que o governo gosta de fazer, dando peixes fáceis sem precisar de anzóis.
Não vai mesmo dar nada na vida.

Usava uma jaqueta vermelha, meio surrada, já tendente ao grená pela insistência, uma bermuda da mesma tonalidade e um tênis.
Não de todo mal, apenas com o uniforme inequívoco dos de rua.

Parecia frágil...
Este meu almoço não está me fazendo bem.

E se fosse meu filho? E se tivesse uma fome daquelas que paralizam qualquer iniciativa, até a de roubar?

Franzino. Com certeza sem pai e sem mãe; se tivesse, onde andariam eles? Bebendo em alguma birosca na favela? Com certeza nunca foi à escola, ou, se foi, não aprendeu nada por gosto à vadiagem.

Precisava falar com ele... Mas, ele estava já há algum tempo ali... As pessoas já haviam percebido o que ele queria, se eu chegasse para lhe dar dinheiro todos iriam me olhar... Não vou nada...

Que almoço comprido e pesado.

Vou, sim... Não posso me omitir... Lhe pago o almoço, ou pelo menos lhe pago um sermão...

Levantei-me para pagar o meu, que não me fez bem.
Caí em mim querer que, ao olhar por essa vidraça num outro dia, meu almoço futuro não me viesse a pesar novamente.

Paguei, saí e fui, resoluto, na direção dele. Tinha um plano para evitar os olhares, que, na verdade, escondia a minha falta de força, de personalidade própria.

Passei por ele e lhe disse: você quer almoçar?

Ele respondeu que sim. Eu disse vem comigo que lhe quero fazer umas perguntas.

Prontamente ele me seguiu. Dei alguns passos - uns vinte - e parei. Ele chegou.

-Olha - eu disse-, vou pagar o seu almoço, mas antes quero que você me responda umas perguntas.
-Você sabe ler e escrever?
-Sei, Tio.
-Pois bem, não aceite a vida do jeito que ela está passando por você. Lute para mudar. Não deixe a vida te levar.

Ele me escutava atentamente. Tinha uma pele bonita.

-De onde você é? Você mora na rua?
-Sou de Volta Redonda... Vim para encontrar um amigo meu, mas ele me deixou na mão... Me largou e desapareceu... Cheguei ontem na cidade. Não comi nada. Dormi na rua.
-Você tem pai e mãe?

Ele fez que sim.
-Que idade você tem?
-14 anos...
-Vai voltar para Volta Redonda?
-Não tenho o dinheiro da passagem.

Parecia ter dez anos.

-Olha, não se mete com drogas...
-Eu não uso drogas, Tio...
-Tanto melhor... Olha, viver com más companhias é muito fácil. Difícil é não se meter em confusão... Mas trabalhe, leia tudo que você encontrar, procure as bibliotecas, elas existem e não custam nada...

Ele olhou para um lado e para o outro. Tinha uma expressão de gente boa. Não havia deboche no seu falar, nem o maneirismo característico da malandragem carioca. Era manso e não escondia de me olhar nos olhos.

-Agora, uma dica: Compre uma caixa de engraxate, trabalhe e guarde um dinheiro para você...

Ele fazia que sim, acompanhando o que eu disse.
Por fim, meti a mão no bolso e tirei uns dezoito reais.

Os olhos dele brilharam.

-Isso dá?

Ele fez que sim, não me lembro se ele me agradeceu, e eu fui andando. Olhei para trás, antes de virar na esquina e o vi falando com o dono da lanchonete, que pegava parte do dinheiro.

Agora, meu amigo leitor, você já viu alguém fazer uma abordagem mais desastrada, ridícula, sem nenhuma eficácia para ajudar alguém que precisava?
Já presenciou alguma vez um discurso tão inútil e ridículo?
Já parou para pensar no constrangimento que fiz esse menino passar?

Eu precisava fazer alguma coisa! E fiz! Uma humilhação!

O almoço, claro, serviu. Mas, e o amanhã? O que será deste menino? O que eu poderia fazer, o que eu posso fazer em novas circunstâncias?

Continuo eu do lado de cá da vidraça.
Agora prisioneiro.

Não sei o que fazer.

A Imprensa está bufando com a Petrobrás, porque a empresa decidiu publicar num blog próprio - coisa esquisita para uma perfuradora de rocha para a obtenção de óleo e gás - as perguntas feitas pelos jornalistas e suas próprias respostas.

A Imprensa reclama da quebra de confiança entre entrevistador e entrevistado, pela revelação antecipada de conteúdo do qual ela vive.

Há algo político no ar. Não há a menor dúvida. Uma briga de gigantes: estado versus Imprensa.

Quero fazer uma considerações a respeito.

Eu já fui petista no primeiro mandato do Lula.

Depois dos sucessivos escândalos de quem se dizia restaurador da moralidade caso fosse eleito passei a ser oposição. Carlos Cachoeira, aloprados, cuecas e mensalões atrapalharam o PT nessa jornada em busca da retidão de caráter.
Eles não sabiam, pobres dos petistas.

Depois disto, como não gosto do PSDB vaidoso, do DEM leviano, do PSDB fisiológico, do PDT oportunista, do PSOL gritante, passei a opositor ao estado em geral.

Neste caso específico, tampouco tendo a achar que a Imprensa detenha os direitos das perguntas.

Imagino, numa hipótese bem hipotética, eu sendo entrevistado por um jornal.
Só poderia dizer o que respondi depois do entrevistador publicar o que eu disse?
Afinal, a quem pertence a informação neste caso?
Não é a essência das posições a do informante?
Teria algum cabimento Bob Woodward reclamar do Garganta Profunda se este resolvesse dizer a outro jornal o que dissera ao jornalista do Washington Post?

Que a Petrobrás está completamente errada, não há dúvida. Ter mais de mil jornalistas é coisa muito suspeita, ainda mais se dizendo contratante dos profissionais para ajudá-la a enfrentar a CPI que não se instala por resistência da situação (PT).

Estranho: todos errados. Este país inova todos os dias em questões de moralidade.

02 junho 2009

A tragédia do voo 447, da Air France

Neste último domingo, dia 31/05/2009, por volta de 23:14, após horas de vôo normal, uma mensagem automática chegou aos controladores. Apontava despressurização da cabine (onde ficam os passageiros) e falha elétrica.
Às 23:20 o avião não fez o contato previsto.

Hoje, terça-feira, dia 02/06/2009, o Ministro Nelson Jobim, da Defesa, anunciou que uma faixa de cinco quilômetros de destroços foi encontrada no mar.

Nenhum dos especialistas (às dezenas na televisão) concordou com a hipótese de mau tempo, de turbulência, embora os boletins dissessem que havia uma zona instável naquela área.

Ora, as turbulências que recentemente fizeram um avião da TAM, que vinha de Miami, caísse muitos metros e machucado várias pessoas, não dão mais que acidentes aos ocupantes sem cinto de segurança, mas não fazem aviões cair.
Os acidentes normalmente são na aterrisagem e na decolagem. Nas velocidades de cruzeiro são raríssimas.

Eu vou arriscar uma hipótese: um meteorito.

Meteoritos vêm do espaço a grandes velocidades. A maioria nem chega ao solo, pois vem desintegrando à medida que se fricciona com a atmosfera. São as tais 'estrelas cadentes'.

Os astronautas na Lua tinham grande preocupação por aquele satélite não ter proteção atmosférica, pois lá o bombardeio é constante. Bastaria um grão de areia um pouco maior ter se chocado com o traje deles para que uma despressurização repentina se criasse.

Claro que os trajes têm mecanismos autovedantes, mas aviões não.

Despressurização em aviões é por rompimento da cabine de passageiros; falha elétrica, em casos como este, é por rompimento de cabos na sucessão de eventos.
Como atentado terrorista por bomba não seria muito provável pela quase total ausência na América do Sul, origem do voo, fica minha hipótese de difícil aceitação, mas que, convenhamos, não é absurda.

Pela profundidade do oceano naquele ponto, talvez jamais saibamos o verdadeiro ocorrido.

Que Deus os receba a todos e que suas famílias não sofram mais.

24 maio 2009

A ESCADA AO CÉU



Era uma vez um jovem que precisava muito construir uma escada para escalar um muro. Do outro lado - não nos interessa - havia um grande prêmio. Não julgaremos o valor, apenas que para ele seria muito valioso. Poderemos, como uma concessão à ignorância que nos incomoda, dizer que se trata de uma princesa lindíssima. Um prêmio cobiçado assim.
Entretanto, não havia ferramentas para martelar, serrar e aplainar a madeira. Tampouco havia uma trena, um esquadro para medir as distâncias.

Mas, como sói acontecer com os seres humanos, a falta de recursos e a vontade de suplantar as dificuldades são a combinação perfeita para o sucesso.

Procurou quem lhe as emprestasse, pois, naquele reino - como a nossa história se passa com as fadas - não haviam sido inventados os instrumentos de carpintaria, coisa que ignorava. Isto é, ele precisava, por exemplo, de uma enxó providencial que só seria inventada séculos mais tarde.

É que nossa história tem tinturas de fantástico, o que cai bem com a temática sugerida.
Não se conformando com as restrições impostas pelo destino, saiu em busca dos insumos necessários a sua criatividade e, após meses e anos de suorento trabalho criativo e investigação incansável, levantou ele o madeirame e escalou-o comedidamente.
Forçoso no é comentar que as forças do homem muitas vezes é consistente com o momento edificador e muito menos com o realizador. Possivelmente, a Natureza é que faz o ajuste necessário entre a jornada palmilhada, a energia despendida e a recompensa final.

Nosso herói galgou os níveis de sua obra, alcançou o topo e espiou o seu destino.

Ainda não sabemos o que viu, mas vimos dele o semblante, triste, decepcionado.

Sob nossa suposição primeira, imaginemos que a princesa envelhecera e todo o esforço parecera-lhe inútil.

Não que tivesse preconceitos à idade feminina, de preferir apenas jovens, quando ele mesmo já viajara no tempo. Não. Apenas o sonho não envelhece, enquanto trabalhamos em nossas buscas. A comparação final é que é extemporânea.

Desceu, amargo. Já não sabia o que fazer da vida. Não se preparara para usar a escada, apenas fazê-la.
Moral da história: divirta-se e recompense-se com a luta diária, enquanto mira mais à frente. Se o objetivo final não lhe sorrir, pelo menos você se divertiu.




25 abril 2009

Sucessão ameaçada


As notícias sobre o linfoma retirado da axila de Dilma Rousseff acaba de ser noticiado. Foi encontrado a tempo, segundo a entrevista coletiva concedida agora há pouco, após um exame de rotina há coisa de trinta dias.

Que ela e todos os doentes de câncer existentes sejam curados. Que Deus esteja olhando mais de perto por todos.

Após os justos e humanitários votos de saúde à ministra, acredito que o panorama político muda.

Se, num primeiro momento, a simpatia à dor de Dilma leve-a a maiores índices nas pesquisas, o mesmo não deverá acontecer ao longo do tempo, pois - agora, mais que nunca - é comprida a estrada até as eleições presidenciais.

Se não há candidato no PT hoje, não haverá um vice atrativo de votos no futuro também, pois é nisto que o eleitorado irá pensar.

Fatalmente o eleitor irá cogitar um eventual vice assumindo, se as notícias forem dúbias sobre seu estado de saúde às vésperas das eleições.

O PT deve estar coçando a cabeça hoje, pensando no que fazer, se realmente endossa Dilma permanentemente ou se já vai preparando um outro nome.

E isto vai ser uma divisão não muito boa para a estratégia da sucessão.

23 abril 2009

Os temperos da cozinha brasileira


A sessão plenária do STF de ontem, dia 22/04/2009, ficará na história. Dois ministros discutiram assuntos fora da pauta. O respeito foi reciprocamente exigido entre ambos.

O Ministro Joaquim Barbosa acusou o presidente do STF, gilmar mendes, de não fazer as coisas com isenção e que frequentemente vinha destruindo o judiciário brasileiro.

A análise fria do acontecido leva-nos à conclusão que os ministros se excederam.
É verdade.

Muitos, do lado de cá, excederam-se na comemoração dos destemperos.
É.

Mas, se somos todos humanos, pois bichos não votam, é um alento vermos que existe alguma paixão no estado.
Até agora víamos os membros dos três poderes inertes, distantes da população.

O que se diz de gilmar mendes à vontade em todas as rodas em que a política vem à baila, em blogs, não atingiu os brios do estado; fizeram-se de desentendidos.
O habeas-corpus concedido de afogadilho pelo presidente do STF é comentado até hoje e muitos não engoliram a 'explicação' jurídica.

O legislativo, cada vez mais enredado em suas próprias ações, afronta o cidadão diariamente.

O executivo, em passado já ido, elevava o presidente do banco central ao status de ministro, a fim de fazê-lo ter o direito de foro privilegiado na acusação de remessa ilegal, sem falar em mensalões, aloprados e dólares ocultos.

Joaquim não fez mal. O Mendes o disse. Mas foi bom ver pela boca de outrem o que está nos engasga.

Muito de nós quer berrar nos ouvidos do estado o que Joaquim disse.

03 abril 2009

A Importância de Todos Nós


Vivemos preocupados com nosso dia-a-dia, se vamos pagar nossas contas, como vai a nossa saúde. Isto como indivíduos e com todo o planeta humano.

As dificuldades nos parecem grandes, e perguntamos frequentemente, quando algo não muito bom nos acontece, por que conosco.

Precupamo-nos com nossa morte futura, felizmente incerta para todos.

Para consumo próprio, fora a influência da fé cristã que não é muita mas que nela progrido dia após dia com a ajuda de Deus, e apoiado sobre um trecho de um texto que li alhures, e também para aqueles que forem sensíveis à dica, quando me assaltam idéias de soberba uso o Google Earth para medir a quantas andam a minha importância perante o universo inteiro.

Seremos realmente importantes individualmente? Se ficarmos sem dinheiro, se perdermos um grande amor, um bom emprego ou a saúde, isto modifica alguma coisa no cosmo como um todo a ponto de perturbar a boa ordem do relógio universal que regula nossas vidas?

Não. Não somos importantes assim.

Mas, antes de ser uma decepção ao antropocentrismo, é uma esperança. Quando nos ajustamos à nossa real grandeza, que não é deste mundo, nos libertamos.

O Google Earth nos ajuda nisto. Experimente usá-lo.

Um dos recursos é o de aproximar a imagem numa ampliação que dá para ver automóveis nas ruas; do lado oposto do mecanismo, podemos ver as montanhas, quando até as cidades desaparecem de nossa acuidade visual.

É justamente nesse afastamento que vemos o quanto somos pequenos.

Experimente. Localize sua cidade, seu bairro e sua rua; quiçá seu edifício. Aproxime ao máximo pelo mecanismo.
Agora, imagine que, naquele dia - que é incerto -, naquele exato momento da foto, você estava com um problema qualquer. Pare um pouco sobre a imagem e tente rememorar os detalhes de seu infortúnio felizmente passado.

Agora, afaste a imagem cada vez mais, até a cidade sumir, ficar indefinida. Pare aí.

Procure você lá, neste ponto. Tente agora imaginar sua a importância para toda a humanidade e para o sistema solar.
Vai lá... Eu aguardo... [Lá... lá... lá lá ri lá...]

Viu?
Então... Não se dê muita importância.
Mas dê toda a importância à humanidade, pois é ela que dá realidade a tudo. É com nossa consciência que traduzimos o que o cristianismo quer dizer com imagem e semelhança com o Altíssimo, o verdadeiro Criador.

25 janeiro 2009

Blue rondó a la turque

Precisamos ter cuidado quando fazemos afirmações que se baseiem em nossas memórias. Nosso cérebro, dizem os entendidos, quando não encontra uma imagem armazenada e adequada às nossas necessidades, inventa coisas que juramos ter acontecido; teimamos com outras pessoas e ficamos muitas vezes irritados com a descrença daqueles que, provavelmente, têm razão de nos contrariar. Neste caso, não fui contrariado por ninguém, pois nada mencionei da minha busca; não haveria como dar uma pista para alguém lembrar-se de seu conhecimento.
Procurei até há pouco dias uma música que ouvira em 1986, que dela sabia ser de Egberto Gismonti. Nesses mais de vinte anos não tornei a ouvi-la, de modo que ficou como uma coisa mal resolvida dentro dos meus registros musicais.
Mas, assim como a fisiologia nos prega peças, parece-me que o acaso – ou a Providência – nos põem, mais cedo ou mais tarde, em rota de resolução das falhas involuntárias, como uma compensação natural, preparada, relojoeira do universo.
De repente, após esses vinte e tantos anos procurando Gismonti, encontrei a música, mas de outro jeito.
Outro dia, procurando músicas disponíveis à baixa na internet, estava pensando na música e, consequentemente, procurei no site http://www.deezer.com/ todas as compostas por Gismonti. Percorri os nomes que poderiam intuir ter relação ritmica com a música buscada., mas nada encontrei.
Desisti pela costumeira dificuldade de anos e passei aos compositores de jazz. Esperara duas décadas, não fazia mal esperar mais um pouco.
Lembrei-me de Dave Brubeck e experimentei algumas de suas músicas, de cuja produção gosto muito, para inacreditavelmente ouvir a tão esperada e desistida melodia!
Parei para inspecionar o rótulo, e procurei onde dizia Egberto Gismonti, já que a história íntima insistia com aquele nome, uma vez que minha busca inicial era pelo brasileiro. Se começara procurando por Gismonti e ouvira finalmente a música, só podia ser dele.
Mas não havia tal nome. Em lugar nenhum. Não era dele, mas sim do maestro americano e o nome da peça, descobria finalmente: Blue rondo a la turque.
Não dá para acreditar, por isto, em situações não conduzidas. Há milhares, senão milhões de músicas, e uma grande quantidade de autores. Como pude topar justamente com a buscada?
Reforcei minha consciência de que as coisas nos mostram que o óbvio não é garantia de verdade, pois algumas vezes a certeza é inventada para nos servir.
Ah! E ainda bem que não me parece óbvio que exista um misterioso e mágico relógio a corrigir as nossas vidas e, ainda mais bem, não vermos a presença de Deus por óbvia intuição.