20 junho 2008

Eliot Beltrame Ness

Uma letra de Raul Seixas diz, em uma de suas músicas, 'Hei, Al Capone Vê se te orienta Assim dessa maneira nego Chicago não aguenta'.

Poderíamos substituir Al Capone por criminosos. Assim, no plural.

Mas somente quando o Rio de Janeiro (nós, na verdade, os cidadãos) se cansar de tropeçar em cadáveres, tal letra não fará mais sentido.

16 junho 2008

Brasil made in Paraguay

Paraguai 2 x 0 Brasil. Paraguai com 10 jogadores.

Desde os tempos de Zagalo, a quem se atribui valores de estrategista dos quais não compartilho, vimos que a dupla Robinho e Diego não rende absolutamente nada.

Robinho é sinônimo de galhofa, desde o tempo em que participou como novato das eliminatórias das Olimpíadas, anos atrás.
Naquele episódio, o clima de descontração no hotel em que se hospedavam foi incompatível com a seriedade que se exige no futebol. Comportamento de todos, mas o que a imprensa flagrou, dentre muitas molecagens, estava lá a tal dupla do vexame nas partidas.

Diego parece ter aprendido, amadurecido, mas seu futebol ainda não se tornou rosado, indicativo de boa fruta para consumo, mesmo que o pomar do futebol produza apenas frutos para o deleite dos olhos; Robinho está longe disso, no espectro da brilhante cromatologia do bom futebol. Continua moleque.

Na Copa do Mundo de 2006, em Neuchatel, colônia de férias aclimatadora de nossos milionários 'craques', novas brincadeiras. De marcante, Ronaldinho Gaúcho foi 'atacado' por uma torcedora, que se embolou com ele no meio do gramado, durante um treino-show da seleção brasileira. O resultado foi o que vimos e o sonho do hexacampeonato parou nas meias do Roberto Carlos.
Robinho? Estava lá, apareceu rindo no campo do treino-show, na desconcentração de Neuchatel.


Até gostaria de saber o porquê da convocação de Robinho.
Você aí, que me lê, me diga um lance que tenha ficado na sua memória, que justifique a contratação desse projeto de jogador. Se me disser apenas um já ficarei satisfeito.
Se você me disser que foi uma pedalada consagradora que ele deu em cima do Rogério, naquele tempo no Corinthians, em um jogo contra o Santos, não acha que é muito pouco?

Acho que você acha sim.

Mas, embora eu tenha dito que não sabia o porquê da convocação, retifico e digo que sabemos.

Tudo se chama patrocínio.
A CBF recebe um bom dinheiro da Nike, que patrocina o Ronaldo, por exemplo.
E se lembram da copa de 1998, quando Ronaldo teve aquela 'convulsão' e foi escalado mesmo assim, o garoto-propaganda?
A reciprocidade exigida da CBF fez-se valer.

Adivinhe agora por que Robinho joga na seleção brasileira.

11 junho 2008

Para anotar junto ao título de eleitor no Rio de Janeiro

Do blog do Ancelmo Góis, de O Globo, relação dos deputados do Rio de Janeiro que votaram a revogação da prisão de Álvaro Lins, ex-delegado, ex-chefe de polícia do Rio de Janeiro, acusado de ser mandante de crimes:

Votaram a favor da libertação:

1 - Alessandro Calazans PMN
2 - Anabal PHS
3 - Aparecida Gama PMDB
4 - Atila Nunes DEM
5- Audir Santana PSC
6 - Beatriz Santos PRB
7 - Chiquinho da Mangueira PMDB
8 - Coronel Jairo PSC
9 - Délio Cesar Leal PMDB
10 - Dica PMDB
11 - Dionisio Lins PP
12 - Domingos Brazão PMDB
13 - Dr. Wilson Cabral PSB
14 - Edino Fonseca PR
15 - Edson Albertassi PMDB
16 - Fábio Silva PMDB
17 - Geraldo Moreira da Silva PMN
18 - Gerson Bergher PSDB
19 - Glauco Lopes PSDB
20 - Graça Matos PMDB
21- Iranildo Campos PTB
22 - João Pedro Figueira DEM
23 - João Peixoto PSDC
24 - Jorge Babu PT
25 - Jorge Picciani PMDB
26 - Luiz Paulo PSDB
27 - Marcelo Simão PHS
28 - Marco Figueiredo PSC
29 - Marcus Vinicius PTB
30 - Mario Marques PSDB
31 - Natalino DEM
32 - Paulo Melo PMDB
33 - Pedro Paulo PSDB
34 - Rafael Aloisio Freitas DEM
35 - Rogerio Cabral PSB
36 - Ronaldo Carlos de Medeiros PSB
37 - Sheila Gama PDT
38 - Sula Do Carmo PMDB
39 - Tucalo PSC
40 - Waldeth Brasiel PR

Votaram contra:

1 - Alcides Rolim (PT)
2 - Alessandro Molon (PT)
3 - Cidinha Campos (PDT)
4 - Comte Bittencourt (PPS)
5 - Fernando Gusmão (PCdoB)
6 - Flavio Bolsonaro (PP)
7 - Gilberto Palmares (PT)
8 - Inês Pandeló (PT)
9 - Marcelo Freixo (PSOL)
10 - Nilton Salomão (PMDB)
11 - Olney Botelho (PDT)
12 - Paulo Ramos (PDT)
13 - Rodrigo Neves (PT)
14 - Sabino (PSC)
15 - Wagner Montes (PDT)

Faltaram à sessão:

1 - Alair Correa (PMDB)
2 - Altineu Cortes (PT)
3 - Alvaro Lins (PMDB)
4 - André Corrêa (PPS)
5 - André do PV
6 - Armando José (PSB)
7 - Graça Pereira (DEM)
8 - Jodenir Soares (PTdoB)
9 - José Távora (DEM)
10 - José Nader (PTB)
11 - Marcos Abrahão (PSL)
12 - Nelson Gonlçalves (PMDB)
13 - Pedro Augusto (PMDB)
14 - Roberto Dinamite (PMDB)
15 - Zito (PSDB)

04 junho 2008

Dessegurança pública

O Coronel Jairo, deputado estadual do Rio de Janeiro, vice-presidente da ALERJ, segundo a imprensa, está sendo acusado pela polícia de ter, entre seus assessores, alguém de apelido Betão, que estaria diretamente envolvido no seqüestro e tortura de jornalistas do jornal O Dia na favela do Batan, em Realengo, em 14/05/2008.

O deputado nega, como fazem todos os culpados e inocentes e como de costume na política brasileira. É direito deles dizerem o que bem entendem.

Como defesa, Coronel Jairo diz que não tem tal assessor e que também nem vai à comunidade de Batan, pois 'é perigoso', embora grande parcela de seus votos tenham vindo de lá, segundo também a imprensa.

Esta fala do deputado me lembra a de um outro representante do povo, há muitos anos. Um general reformado, secretário de estado de segurança pública de um governo de que já não me lembro mais.
Naquela vez, o assunto era o assassinato de vários torcedores paulistas que, ao quererem voltar à rodovia Presidente Dutra, erraram o caminho e entraram numa favela na Avenida Brasil, onde foram mortos por traficantes, que imaginavam uma invasão de outros.

Como desculpa, o de triste memória general, disse palavras tais - não exatamente - como:

- Todos sabemos que não se pode entrar lá... Como foram entrar assim?

Naquele dia, há mais de dez anos possivelmente, percebi que o estado brasileiro havia perdido o controle sobre a aplicação de leis. Naquele dia, instituía-se um poder político paralelo, sem constituição escrita, mas com uma carta-magna fundida em chumbo.

Hoje, lá, as milícias expulsaram os traficantes, mas somente para tomar o poder territorial.
Nada mudou, a não ser a mão que aplica a violência.

Como dantes, os representantes do povo continuam a respeitar o novo país criado pela ausência do estado brasileiro, cujas fronteiras políticas, limítrofes ao Brasil, são traçadas com uma linha vermelha, coagulada pelo tempo.

Um dia acaba. Não há mal que sempre dure.

03 junho 2008

O valor das coisas

Eu passei pela porta de um dos poucos cinemas que ainda existem fora das quatro paredes de um 'shopping' e fiquei pensando há quanto tempo eu não ia a um cinema. Não soube dizer quando; só sei que faz mais de ano. Talvez mais de dois.

E eu, que gosto muito de cinema desde que me entendo por gente a ponto aspirar ser um profissional da área, por que esse aparente desinteresse?

Uma das possibilidades era o preço do ingresso; outra, a segurança, a favor e contra, avaliando-se os cinemas em 'shoppings' e os de 'porta de rua'; uma outra, a qualidade dos filmes.

Fico com esta última.

Nas leis econômicas, há o conceito de preço e o de valor. Preço é quanto se deseja cobrar por alguma coisa, ou pagar, dependendo de sua posição como um dos intervenientes no negócio; valor, é o que as forças econômicas dão como resposta à satisfação desejada por ambas as partes.

Suponhamos que haja apenas três pessoas no mundo: você, uma outra pessoa física e uma pessoa jurídica.
No nosso cenário, o objeto de desejo das pessoas físicas é um automóvel. Você deseja adquirir um automóvel, por exemplo, por R$ 1,00. A montadora quer vendê-lo por R$ 100.000,00; o mesmo veículo material.

Seu concorrente, entretanto, se dispõe a pagar R$ 30.000,00, o que lhe tiraria da competição.

Pelo outro lado, a montadora, à falta de outros interessados, baixa seu preço para R$ 30.000,00 e, assim, estabelece-se o valor.

Ou seja, valor depende de duas ou mais pessoas; depende do mercado. Preço? É somente um referencial, um ponto de apoio sobre o qual o consumidor/fornecedor se candidata à satisfação de seus anseios consumistas.

Portanto, valor é o preço que satisfaz a todos os agentes do negócio.

Mas, para que tudo isto?

A causa de minha ausência das salas de cinema, e a de muitos, na minha percepção, é o valor dos filmes.
O preço é caro, pois não traduz o valor que deveria satisfazer a ambas as partes; atenderia, possivelmente, a Hollywood, mas não a mim. E acho que a muita gente. Parece-me evidente que os cinemas não andam lotados. Já, já, terão de, pelo menos no Brasil, baixar o preço, a fim de satisfazer a vontade de faturar e a vontade de consumir.

E por quê?

A verdade é que a qualidade dos filmes não justifica o preço de entrada.

Antes, os filmes tinham encanto. Neles, buscava-se o sonho, a ilusão ou a diversão às durezas da vida. Transportávamos-nos à tela e nos vestíamos de personagens fascinantes.

Com o advento das técnicas voltadas exclusivamente à plástica móvel, os tão-falados efeitos especiais, os grandes estúdios retiraram, à revelia dos expectadores - e hoje apenas espectadores -, a essência da magia, que era o desnude do personagem, o de nossa empatia onírica.

Através da construção, dedução, do anseio, da busca pelo eco de nossa própria personalidade em comparação à do protagonista do filme escolhido, tínhamos o prazer detetivesco de nos descobrirmos.

O moderno detalhamento de efeitos, de precisão sub-atômica na qualidade da imagem, fez com que os produtores se sentissem descompromissados com a qualidade emocional das novas películas, de tocar o nosso espírito, roçar nossa sensibilidade através de uma obra emocionante do ponto de vista humano.
Há robôs amiúde, máquinas demais, monstros em excesso; e humanidade de menos.

Não obstante, como novidade, valeram bastante as pirotecnias iniciadas com Guerra nas Estrelas, de George Lucas, em 1977, mas o ciclo terminou com Titanic, de James Cameron, exatamente vinte anos após a trilogia espacial.

Poderíamos pensar que o cinema perde em interesse diante das facilidades de se ver um filme sob as cobertas com a amada - vizinha de cotovelo -, com pipoca e guaraná - além da facilidade de se congelar o DVD para fazer otras cositas más...

Mas não é.
Seria, caso o sabor que se obtém de um bom filme fosse determinado pelo meio de reprodução, se em celulóide ou pelo hermético plástico da mídia circular, digital.

Não. Por sua natureza gregária, o homem precisa de mais.

A sala de cinema é um evento social e, portanto, multiplicador de sensações. Se riem, nos perguntamos o que foi que perdemos para não acharmos tanta graça; se rirmos e eles não, por que pagamos mico por sermos simplórios?; se acharmos graça todos juntos, que satisfação por estarmos integrados e convivas!

Há muito que não nos oferecem isto.

Infelizmente, não é uma doença apenas da sétima-arte, não; vejam os livros em profusão que falam da gente da ásia central.
A maioria trata de temas que prometem a mística do oriente, mas nem de longe trazem à luz inovações que possam raspar os contos das mil e uma noites. São, via de regra, imediatistas, superficiais, verdadeiras máquinas caça-níqueis.

Cá, em terra brasiliensis, há os livros de auto-ajuda que, por excesso, não mais ajudam quem os escreve, pois fica difícil vender quando há a quantidade absurda de títulos sobre o tema. Todos querem ganhar dinheiro facilmente, inclusive quem compra os que tratam de conselhos financeiros.

Nas diversas faces da literatura, acho que por volta de 2000, Paulo Markun, por exemplo, publicou uma pseudo-biografia de Anita Garibaldi. Por falta de material e por excesso de interesse financeiro, Markun publica a biografia de Giuseppe Garibaldi e diz que é de Anita, para nos enganar. Me enganou pela metade, pois outra pessoa comprara o livro. Ruim para ambos, entretanto.

Paulo Coelho, por sua vez, segue ganhando muito: bom para ele.

Enfim, meus amigos, digam-me: encontraram arrebatamento a preço mesmo irreal? Degustaram um bom filme nos últimos anos? Um bom livro? Emocionaram-se com alguma obra cinematográfica? Leram algo que realmente, ao fechar a última página, lhes deixassem com o olhar perdido, ainda vagando nas pradarias das folhas deixadas para trás?

Se tiveram tais momentos, ótimo! Espero estar errado aqui, de cabo a rabo.

E, por favor, me informem!

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