15 julho 2008

Geologia Política

O Brasil vive um momento intenso e triste.

Os novos escândalos nos três poderem abafam os anteriores. A República está doente. O cansaço toma conta e os fatos já não causam mais surpresas.

Mas, enganam-se os que pensam que a repetição traz esquecimento pela saturação dos sentidos, pela aparente resignação ao que não tem jeito de melhorar.

Não se esquece; é apenas uma questão de prioridade, de intensidade.
Os novos têm sido cada vez mais fortes e esta escala concentra a atenção nos últimos.

São como terremotos, que são decorrentes de pressões enormes e não pressentidas, mas que liberam energia de uma só vez, de surpresa.

Os terremotos políticos, entretanto, dão avisos e são estes que estamos vendo.

São as placas tectônicas políticas indo de encontro a outras, armazenando energia potencial nas falhas geológicas da impunidade.

Os prédios das instituições estão apresentando rachaduras, mas me parece que são poucos os que vêem.

08 julho 2008

No Brasil nada funciona!

Não é bem verdade, o título do post. Nem sempre.

Temos grandes razões ao criticar, principalmente, as agências governamentais recém-criadas, tais como a Anatel (eu mesmo já critico esta agência há muito tempo, que nos fornece apenas uma tela de chat com as operadoras de telefonia e nada mais), a Aneel, a ANP, a famosa ANAC, que viraram apenas cabides de emprego e advogados dos poderosos, os que deveriam ser fiscalizados.

Dentre todas essas agências, quero ressaltar o bom trabalho da ANTT. Representa o respeito dos órgãos públicos para com os cidadãos. Coisa rara e feliz de se constatar.

O negócio é o seguinte. Eu fiquei p da vida com a Viação Cometa que, numa viagem de Belo Horizonte para o Rio, em ônibus de ar-condicionado, o veículo teve uma quebra na BR-40 e a empresa nos deixou na estrada por três horas.

Eu até deixaria passar o incoveniente das horas, mas o ônibus reserva que nos enviaram era velho (além de antigo), sem ar-condicionado, com um banheiro sujo.

Pus a boca no trombone e denunciei a viação na ANTT.
Passou um tempo e eu já estava pensando que não obteria nada, como nada obtive na Anatel em situações de desrespeito como esta, quando hoje me chega um mail me dando satisfação do meu apelo.

Não vou entrar na Justiça contra a Cometa, pedindo indenização, conforme o último parágrafo da resposta da ANTT, mas já fico satisfeito em ver que contribui para o bem-estar, ou quase isto, dos usuários das empresas de ônibus.

Falta eu ganhar alguma parada agora com as empresas municipais do Rio de Janeiro. Estas eu acho que vai ficar para quando eu tiver tretanetos.

Eis a resposta da ANTT:


Em atendimento ao processo administrativo nº. xxx, contra a Viação Cometa S/A, informamos que após análise do bilhete de passagem encaminhado por V.S.ª, verificou-se que a tarifa cobrada pela denunciada não está compatível com a estabelecida nos Quadros de Tarifas dos serviços, que é de R$ 72,65 (aplicando o ICMS de Minas Gerais) e não R$ 76,48. Ressalte-se que no histórico da linha há comunicação de um desconto promocional de 6% à época da emissão do bilhete de passagem.
Esclarecemos, ainda que de acordo com o inciso XIV do Artigo 6º da Resolução n.º 1383/2006, é direito do usuário receber a diferença do preço da passagem, caso a viagem se faça total ou parcialmente em ônibus de características inferiores às daquele contratado, diante disso, comunicamos, que sua reclamação (veículo inferior ao contratado), foi inserida na tabela de fiscalização, e a partir do seu registro, serão averiguadas as irregularidades denunciadas pelos usuários do transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros e realizadas diligências fiscalizatórias em função dos índices atingidos em desfavor de uma única empresa.
Assim sendo, consoante ao bilhete de passagem constante do processo em epígrafe e com amparo no Art. 66 da Resolução/ANTT n.º 442/2004, a empresa será penalizada, conforme os termos da alínea "e", inciso III, art. 1º da Resolução/ANTT nº. 233/2003, código 305: por "cobrar, a qualquer título, importância não prevista ou não permitida nas normas legais ou regulamentos aplicáveis".
Finalmente, esclarecemos que o pedido de ressarcimento ou indenização por danos é um assunto da alçada do Poder Judiciário, que extrapola a esfera administrativa e foge à área de atuação desta Agência. Portanto, faz-se necessário procurar os órgãos com competência sobre a questão, PROCON e/ou Juizado de Pequenas Causas, pois, ainda que seja aberto o processo formal nesta Agência, ele versará sobre os aspectos operacionais da prestação do serviço, não podendo entrar no campo das indenizações.
Agradecemos à colaboração e colocamo-nos à disposição para demais esclarecimentos que se fizerem necessários.
Atenciosamente,
Ouvidoria da ANTT
GECOP/ANTT

06 julho 2008

O instante decisivo

Centro Cultural Banco do Brasil - 100 anos de Japão - 2008

Estive estudando, mais uma vez e sempre, os trabalhos dos grandes fotógrafos.
Cartier-Bresson, Werner Bishof, Rene Burri, Richard Kalvar, enfim a Magnum é minha referência.

Comprei uma câmera compacta para dar de presente a uma menina que entra na adolescência.
Saí, ontem, pelo Rio a fotografar várias cenas, o que aparecesse, mas sempre com os mestres na cabeça, a fim de experimentar a câmera a dar de presente e ter experiência com o equipamento para ensiná-la posteriormente.

Acredito ser a fotografia uma das portas de entrada para o mundo, pois através dela temos de prestar atenção no que é enquadrado pelo visor e dar nossa contribuição ao resultado. Neste esforço, tornamos-nos ativos e não simplesmente viajantes do tempo inútil. Creio ser um bom presente.

Noto que meus preferidos têm uma tendência aos grandes contrastes, no que se refere à parte plástica da produção fotográfica e, sobretudo neste campo, o da qualidade da imagem retratada, o foco mais especificamente.

Mas a qualidade da foto depende não só da habilidade do fotógrafo, mas creio que mais e profundamente à qualidade do equipamento, além de uma boa revelação e cópia, no caso das câmeras de filme. Mais diretamente, uma boa lente, uma boa foto, é o que depreendo.

Bresson preferia a Leica, peça de museu aquela, a do modelo do grande fotógrafo, embora a marca seja ainda fabricada. As primeiras possuíam lente de primeira qualidade, mecânica robusta, montagem esmerada. Hoje, é fabricada pela Panasonic sob o apelido de Lumix e é montada na China e é com esta que testo o presente a ser dado.

Nada a temer da habilidade chinesa, mas os alemães tinham muito cuidado e sendo eles os mais reconhecidos 'mecânicos' do mundo, não há como comparar uma produção artesanal nos tempos dos primeiro trabalhos de Bresson com a de hoje.

O triste disto é que, por exemplo, Gerhard Strauss, um conhecido meu da Alemanha, diz que por lá só compram máquinas japonesas, montadas talvez também na China, e que a Leica não vende mais naquele país: renderam-se ao Japão.

Eu gostaria de ter uma Leica mas, mesmo que tivesse uma jóia do início do século XX, não mais adiantaria, pois seria de filme e isto implica em muito mais coisas além da qualidade da foto capturada: os laboratórios de filme estão desaparecendo e os que existem são todos mecanizados, preparados para a quantidade e longe do melhor resultado.

Resta-nos as novas, digitais, de grande qualidade. Resta-nos desembolsar muito dinheiro para elas, mas isto sempre foi assim, mesmo com as de filme naqueles tempos dourados.

Para os brasileiros, sempre é tudo muito caro. Não fabricamos mas somos punidos com os impostos de importação, que, por esta barreira, deveria estimular a produção, pesquisa, mais tecnologia da indústria óptica brasileira, mas, como sempre, isto não acontece, e os impostos ficam apenas como pretexto de arrecadação, que não é pequena.

Acresce-se a isto a crítica que fazem os saudosos dos filmes, e entendidos do assunto, que a qualidade da película é ainda a melhor.
Acredito ser questão de tempo a forma digital superar o filme - tudo nesta vida passa -, até uma nova tecnologia no futuro vier substituir o que é novo hoje.

Vou registrar aqui, para futura comparação e curiosidade sobre este momento que um dia será passado distante: as minhas câmeras sonho-de-consumo de hoje são a Nikon D40 ou Canon EOS Rebel. Digitais.


Mas, por outro lado, também quero deixar patente que a Canon A430, compacta, modesta, é uma senhora câmera, melhor que qualquer outra feita por aquela indústria japonesa no seu nicho de mercado. Quer conferir? Acesse o site da Márcia Calixto e veja por si mesmo.

Voltando ao assunto iniciado lá em cima, ontem, andando pelo centro, tentei imitar os fotógrafos citados e fiz algumas fotos, como esta do blog.

À maioria achei que não ficou ruim; não, mas admito que preciso de mais técnica.

Esta foto foi feita com a Panasonic Lumix LS75, de 7,3 megapixels, lente Vario.

Seremos respeitados no futuro

Eu fico imaginando, às vezes, se moro no planeta Terra ou no Marte. Vejo coisas ruins que são inacreditáveis, embora simples, simples de serem evitadas.

Ontem fui ao Maracanã ver meu time do coração jogar. Foi bom. Ele venceu de 3 a 0, e afastou o Náutico dos primeiros lugares, posição que reserva para si há cinco rodadas.
Este ano, o Flamengo vai muito bem na tabela do Campeonato Brasileiro. Acumula 22 pontos, coisa que não via há décadas, se não me falha a memória.

Mas não é inacreditável o Flamengo ganhar e nem de estar na primeira colocação na tabela. É sobre o Maracanã.

Estamos no século XXI e o respeito às pessoas parece, no Rio de Janeiro, não ter chegado ainda por aqui, basta você querer comprar uma entrada para assistir a um espetáculo neste estádio-ícone do futebol mundial.

A primeira coisa, as bilheterias não têm placas avisando o tipo de ingresso que você poderá comprar nelas, pois cada nicho tem sua finalidade. O da esquerda de tudo vende entradas para as arquibancadas de cor branca; o imediatamente à direita deste, só vende arquibancada verde ou amarela.
Não teria grande importância isto, caso o torcedor tivesse a informação no guichê, embora um deles tenha um fila inexplicável e outro apenas com o atendente pressentido por detrás das grades, pois não lhes vemos o rosto. Logicamente, o usuário-torcedor vai, por sugestão, à fila maior, pois imagina que onde há quantidade é maior a vantagem e chega à boca do guichê para descobrir que o que ele pode pagar ou deseja não é ali, mas umas tantas janelinhas à direita ou à esquerda.

Um problema maior, infelizmente, existe e este é o ponto inacreditável: o guichê está, rigorosamente, a 45 cm do chão. Isto mesmo. Você leu certo. Um anãozinho teria de se curvar levemente para comprar sua entrada.

Para se comprar uma entrada, tem de se ajoelhar e penitenciar-se ao escárnio da Suderj (que me perdoe parcialmente a Suderj, se não for com ela isto).

É ridículo e aviltante ver-se homens barbados genuflexarem-se diante do poder público. Mais um, aliás.

É a síntese deste nosso feliz Brasil. Feliz por natureza, mas que, constantemente é vilipendiado, pisado, chacoteado pelos dirigentes, em todos os níveis que o cidadão trata com o estado.

Mas o brasileiro, este sofredor da torcida Brasil, está acostumado com isto. E esta é a tragédia maior.

Uma placa, grande, à entrada do estádio faz a propaganda da final da Copa do Mundo de 2014. Pelas exigências da Fifa, certamente fará obras e, após esta interferência externa, é bem provável e quase certo que aquela organizadora do futebol mundial não irá aceitar tal coisa.

Aí, no futuro, a contragosto da CBF, SUDERJ e não sei de quantas siglas outras mais que compõem o estado brasileiro, seremos cidadãos.


Flamengo 3 x 0 Náutico - 05/07/2008