19 dezembro 2009

Censura

Se estão falando mal de algum coronel ao estilo dos do século XIX, que se cale a voz. Se o mau cheiro existe, que se aplique aerossóis para com ele conviver.

O episódio da censura imposta ao jornal Estado de São Paulo perpetrada pela justiça brasileira é uma tristeza.
Diz-se que vivemos numa democracia, onde o radical desta palavra tem ficado cada vez menor e o sufixo mais e mais sem sentido ao acompanhar tal tendência. Parcialmente democrático (o que é um paradoxo, pois povo é um todo) talvez o seja, quando não incomoda integrantes do estado, ele próprio um tipo de pessoa além das duas aceitas, física e jurídica.
Ou seja, se o beneficiário da denominação pertencer ao próprio estado, ah!, esses estão sob a tal 'democracia'.

O estado se considera uma pessoa, e com direitos apenas. Ao estado tudo é permitido, o que caracteriza bem um governante que tenha poderes monárquicos, absolutista.

O estado não precisa prestar contas e, como a Hidra de Lerna, tem cabeças preliminarmente em três lugares diferentes, mas espalhando - exemplarmente e liberalizante de obrigações - seus esporos germinativos por toda a União.

A anarquia não é a saída, mas o absolutismo estatal não pode também ter vez.

Se o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, o estado brasileiro não tem como galgar mais um degrau nesta direção.
A situação é tão difícil no plano moral que tal idéia nos parece, absurdamente, um alívio.

09 dezembro 2009

Uma ilha

Eu moro no Rio de Janeiro há muitos anos. Vejo que, a cada ano, os serviços pioram. Hotéis com mosquitos, quiosques de praia sujos, praia suja, areia suja, táxis caindo aos pedaços, ônibus sem ar-condicionado e sem padrão para facilitar as entradas e saídas, mendigos às centenas dormindo sob as marquises do Centro, ruas com sinalização viária caótica e por aí vai.

Em termos de belezas naturais, o Rio é imbatível. Somente nisto. Em serviços, deixa muito a desejar.
O mais cruel dessa história é que o carioca não reclama. Para ele tudo está bom do jeito que está.
Aliás, Rio de Janeiro é apenas uma faixa de uns dois ou três quilômetros de largura por uns cem, no máximo, de comprimento. É a parte das praias.
É assim que considera "Rio de Janeiro" os habitantes da Zona Sul. Chegam a dizer - com certo orgulho - que, além túnel (no caso, o Novo), não conhecem nada e este é um dos motivos do abandono geral.

Os da Zona Norte também acham que o Rio de Janeiro é o do cartão postal e assim a cidade deteriora a cada dia.

Entretanto, há uma ilha nesse mar de indiferença: se algum dia desejar um serviço de qualidade, vá almoçar na Quinta da Boa Vista.

Isto mesmo. O lugar desdenhado pela classe média empedernida da Zona Sul abriga um restaurante que na tão decantada Zona Sul não tem.

Chama-se Restaurante Quinta da Boa Vista. Lugar limpo, a preço compatível com o bom tratamento.

Ah! Eles não me pagaram nada para dizer isto, mas eu faço questão. Espero que nunca fechem as portas.

05 dezembro 2009

Queda da Bastilha

Muitos gostariam de ter uma Queda da Bastilha doméstica. Possivelmente, a fala do Ministro, veladamente, acenda o rastilho, diante do peso de sua autoridade; dê uma idéia aos mais exaltados.

Mas, ao episódio emblemático da Revolução Francesa, veio o Terror, onde os excessos do momento mancharam os ganhos libertários do espírito da revolução; poucos têm isto em memória.

Mas, simbolicamente, o episódio da invasão da Câmara do Distrito Federal nos leva a acreditar que o exemplo francês pode ser revivido, preferencialmente de forma firme, mas anti-hemorrágica.

No plano federal entretanto, onde merecem todos os estados ações parecida - pois o Efeito Arruda não é um caso isolado -, a popularidade de Lula une as partes conflitantes, num aparente distanciamento crítico por parte da população.

A agulha do carisma de Lula costura o manto sob o qual tudo se esconde, enquanto a linha econômica mantém fortemente tudo no lugar.

Mas isto está com os dias contados. Lula é um fenômeno e, assim, pontual.

Como será sob o próximo governante?