19 setembro 2008

Gênero de Primeira Necessidade

Uma vontade eu venho carregando há tempos.


Gostaria que todas as bibliotecas públicas funcionassem como as padarias, e como os cinemas.



Ficariam abertas 24 horas por dia, durante 7 dias.



Afinal, nem só de pão vive o homem. Já se sabe disto há dois mil anos, bem antes da biblioteca de Alexandria pegar fogo.

11 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times 23/07/1908

Quem inventou o verdadeiro avião? Santos Dumont ou os irmãos Wright?
Por força de Hollywood, nestes tempos de colonização maciça via cinema e internet, é bem capaz que um aluno do primeiro grau vá dizer que são os americanos, de tanta propaganda que estes fazem.
Mas, ao divulgarem os fatos, os do norte sabem muito bem que não aconteceu como foi contado.
Pressinto que, na calada da noite, também duvidam que foi feito.
Mas como costumam ganhar no grito tudo que é de sua conveniência, seguem a vida assim. Cabe a nós separar o joio do trigo e resistir.

É o que faço. Aqui vai mais uma reportagem passada no tempo exato dos acontecimentos. Não há, mesmo dentro das possibilidades fracamente isentas de qualquer imprensa, interpretações romantizadas pelo tempo decorrido.

Perdão aos amigos, pela péssima tradução, mas estou com preguiça de pesquisar o verdadeiro sentido das frases e expressões. É muito cansativo.
Serve apenas para fazer com que gastem menos tempo, se quiserem ler o artigo abaixo. Se não quiserem, podem ir diretamente para http://archive.timesonline.co.uk/tol/archive/ e fazerem seus cadastros gratuitos lá e lê-lo no original.

Deu no The Times, em 23/07/1908, uma quinta-feira, conforme abaixo, em itálico:

Uma curiosa mudança de opinião é notada na França, em relação aos irmãos Wright. Seus experimentos com o vôo artificial, executados nos Estados Unidos em 1903-1905, foram recebidos com uma dúvida quase universal. Na ausência de testemunhas conhecidas, os céticos não poderiam admitir que um resultado tão espantoso como um vôo de 38956 metros em 38min e 3 segundos pudesse realmente ser feito em 5/10/1905.
Expressam surpresa pelas evoluções aéreas não terem sido fotografadas e mencionam que Springfield, cenário dos experimentos, tem aproximadamente 48000 habitantes, o que parece [muito] estranho [não saberem] o que estava acontecendo em seus arredores. Por outro lado, seria [coisa um tanto] forçado, pelos poucos apoiadores dos Wrights, que não teriam nada a ganhar, impor uma fraude científica ao mundo [
comentário meu: a não ser ganhar notoriedade, o que não é pouco]. Até 1903, [ os irmãos Wright] tinham considerado a aviação como esporte, mas desde aquela época têm estado desejosos de tirar dela algum lucro. Naturalmente assim, mantiveram os detalhes de sua máquina secretos até o tempo em que se pudesse vendê-la. Em conseqüência, tendo uma combinação de invenções anteriores, poderia não ser fácil patenteá-la, e estavam justificadamente apreensivos que uma inspeção rápida poderia ensejar a sua cópia por um aeronauta experiente.
Ademais, foi argumentado que os Wrights têm um passado científico. Eles vinham trabalhando no problema do vôo desde 1900, e ninguém duvida de seus vôos planadores. Suas medidas de velocidade e duração de vôo foram feitas com instrumentos de precisão, por métodos que suas registros mostram serem completamente científicos. Se os detalhes precisos são ausentes, a culpa deve cair na natureza prática do caráter americano, que mostra pouco entusiasmo ou curiosidade em assuntos que não podem de imediato tornarem-se objeto de negociação. [
Outro comentário meu: é muita forçação de barra acreditar nisto. Eles usavam instrumentos de precisão, mas não fotografavam?] [Ainda pensando em objeção], por que não levaram sua invenção ao governo? A resposta era que o governo poderia não querer comprar uma máquina incapaz de ser patenteada e que poderia ser impossível de se manter sob monopólio.

Finalmente, a atenção foi direcionada aos testemunhos dos fazendeiros de Springfield, sob inquérito promovido pela Scientific American e pelas declarações do Sr. Octave Chanate, que garantia que seus eminentes alunos são homens respeitáveis. [
Mais um outro pitaco meu: Ridículo para servir como prova].
Estas discussões poderiam ter continuado, se o senhor Wilbur Wright não tivesse chegado à França, em 31 de maio último, a fim de executar o programa promovido pelo senhor Lazare Weiller.
Em conseqüência, o exército de céticos, com a exceção de poucos são-tomés, aderiu ao grupo dos que acreditavam.
O senhor Wright continuou a trabalhar com seu aeroplano, com o qual fazia experimentos no curso deste mês na presença do Comitê Weiller.
Pode já ter sido dito que num sentido ele tinha autenticado seus resultados em 1905, ao assinar um contrato que estipula que receberá 500.000 francos por suas patentes, se no curso de uma semana fizer dois vôos mecânicos de 50 quilômetros cada um, retornando ao ponto de partida, com o aeroplano transportando duas pessoas, embora uma delas possa ser substituída a sua vontade por um saco de areia de igual peso. Esses vôos serão executados sobre a pista de corrida de Mans.

O piso lá, ainda que reto e aberto, é de feição ondulada, plantado de árvores, medindo 800m em comprimento e 335 de largura.
O senhor Wright, contudo, está bastante satisfeito com o ambiente. Sua máquina, diz confiante, pode voar sob ventos de 18 milhas por hora, enquanto carrega duas pessoas, e o evento é um bom assunto para validar uma patente.
Ele e seu irmão, sustenta, são protegidos por suas patentes, especialmente as relacionadas à manutenção do equilíbrio, e se forem prejudicados saberão como se defender.
Do senhor Wright tem sido dito, em relação ao desempenho das máquinas de voar da França, que as considera como meras brincadeiras de criança, mas isto, diz, não é o caso, e declarou acompanhar os experimentos de seus amigos franceses com admiração, que conseguem voar a despeito dos rudimentares controles para uma estabilidade segura.
Os irmãos Wright acreditam que resolveram o problema da preservação do equilíbrio, que é o ponto crucial do problema da aviação. Sua invenção principal – o mecanismo que permite a inclinação das asas – dá-lhes a estabilidade transversal e, além disto, facilita a ação do leme pelo qual podem mudar o curso. Suas máquinas compõem-se de duas superfícies superpostas. O motor é posto entre essas duas superfícies, um pouco à direita da linha central e se comunica às duas hélices de madeira no nariz [do aeroplano] por uma corrente. O piloto e o passageiro sentam-se perto do motor, contrabalançando o seu peso.

Os lemes que alteram a elevação são postos na frente, e o leme de direção à ré, todos manipulados por meio de alavancas, O motor, que tem quatro cilindros, não difere essencialmente daqueles utilizados em automóveis e pesa 75 kg. Desenvolve 25 HP, com [o cilindro] medindo 108mm, e 100mm [de curso de pistão]. Não tem carburador e o combustível é introduzido diretamente no cilindro por uma bomba.
Ao partir contra o vento, o aeroplano desliza sobre cilindros e por trilhos de madeira de 40m de comprimento, e levanta [vôo] após uma corrida de 25m.
Em atmosfera calma, é lançado por uma série de mecanismos de catapulta. O senhor Wright sustenta que, para um aeroplano voar, não é necessário um motor extraordinariamente leve ou de grande força, e está bastante satisfeito com o motor de 25HP, pesando 3kg/HP. Ele e seu irmão não mais voam deitados sobre a máquina, mas definitivamente na posição sentada.

Em maio ultimo, tentaram novos arranjos em Kill Devil, na Carolina do Norte, perto de Kitty Hawk, onde fizeram seus experimentos planadores de 1900-1903. Estas últimas tentativas foram erroneamente divulgadas pela imprensa americana, que por toda parte espalhou as mais absurdas histórias sobre seus feitos e o senhor Wright condena as declarações fantasiosas dos jornalistas seus conterrâneos, que o descrevem como voando a 1000m acima do mar. Declara enfaticamente que jamais cobriu uma distância maior que 39km, voando a não mais que 35m.
O senhor Orville Wright, seu irmão mais novo, não saiu dos Estados Unidos, onde, em setembro, trará à presença dos delegados oficiais do governo americano uma outra máquina, pela qual pagarão 5000 libras, o que satisfaz as condições contratadas.

As tentativas, que se darão no Fort Myers, na Virgínia, sob a supervisão do Signal Corps, incluem (1) um teste de velocidade média, 5 milhas de ida e 5 de volta, (2) um teste de poder de voar por uma hora à velocidade de 40 milhas por hora, com duas pessoas à bordo. Se fizer menos que 40 milhas em uma hora, o preço pago será reduzido e, se fizer menos do que 36 milhas [por hora] será rejeitado completamente.
Se a potência motora provar-se inadequada,o dinheiro da caução, de 10% ou 500 libras, depositado não será reembolsado. Se, por outro lado, a velocidade exceder-se ao estipulado, o preço será acrescido numa escala tal como próxima ao dobro, caso atinja 60 milhas por hora. O contrato reza uma venda simples da máquina, e não por qualquer licença sob patentes, ou por qualquer monopólio de fabricação.
Será conhecido brevemente durante o presente mês, ou nos primeiros dias de agosto, o que os irmãos Wright podem fazer. As condições de seus contratos são duras, contudo eles têm sido obrigados a aceitá-los. Por quê? Porque as atitudes que tomaram desde 1903 têm sido desnecessariamente misteriosas.

Enganam-se, com referência aos valores intrínsecos de sua invenção, e têm mantido o grande engano de acreditarem estar consideravelmente à frente dos experimentadores franceses, dispensando algumas boas vantagens oferecidas. Ademais, não há o como lutar contra os jornalistas e financiadores, uma vez que as imprensa tem estado desfavorável a eles. Somente pensaram em fazer contatos com diferentes governos, aos quais escreveram: “Aqui está uma máquina uma máquina que é capaz de voar 50km. Será sua por um milhão de francos, pagáveis após um teste de avaliação”. Mas governos desconfiam de patentes que possam facilmente ser copiadas. Não compartilham da confiança dos irmãos Wright e lhes dá apenas uma moderada atenção, que é substituída por indiferença desde a data do memorável experimento de Santos Dumont, em 12/11/1906. Desde aquele dia, a máquina de voar dos irmãos Wright perdeu o valor. Após Santos Dumont, vieram Farman, Delagrange, Blériot, Esnault-Pelterie e outros, os quais demonstraram vezes e mais vezes, à luz do dia, ante uma multidão entusiasmada, que o vôo artificial é um fato consumado. Estes são, pois, a marcha dos acontecimentos que obrigaram os irmãos Wright a baixar suas pretensões. Mas é justo reconhecer que suas atividades estimularam o entusiamo dos investidores franceses e a atenção do público para a aviação. Se seus equívocos lhes foram prejudiciais, para muitos trouxeram boa sorte, notavelmente para o senhor Blériot, que ganhou, no dia 6 deste mês, a primeira vitória moral sobre eles, ao manobrar um monoplano a uma altura de 20m perfeitamente balanceada

10 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 15/06/1854


Deu no The Times de 15/06/1854, uma quinta-feira, acerca da fundação da primeira ferrovia no Brasil, pelo Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza.

Em 30/04/1854, a primeira ferrovia no Brasil foi aberta ao público, a inauguração tendo a presença de Suas Majestades Imperiais e de um imenso concurso de personagens líderes do império. O diretor da companhia, senhor (sic) Iveneo Evangelista de Souza, que foi honorificado na ocasião pelo imperador com o título de Barão de (sic) Maria, assim como o engenheiro-chefe, um inglês, senhor William Bragge, que foi condecorado com a imperial Ordem da Rosa. As ações da estrada-de-ferro estão agora entre 5 e 10 mil-réis cada.



08 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História Geral - The Times, 24/12/1791

Todos sabemos a importância de Wolfang Gottlieb Mozart no cenário mundial, na história da arte, da genialidade do grande compositor.

Sabemos também que santo de casa não faz milagre e que só nos tormamos famosos postumamente.
Tanto isto é verdade que reproduzo aqui o obituário do The Times, o da véspera do natal de 1791. O nome de Mozart vem junto a alguns outros.

No dia 5, em Viena,  Wolfgang Mozart, celebrado compositor (sic) alemão.

Numa única linha. E ainda erraram a nacionalidade de Mozart.
Em seguida, o artigo informa o falecimento, agora em cinco linhas , de um boticário.

Nada contra os farmacêuticos que me lêem, mas o único profissional com este título de que tenho memória é o do segundo marido de Dona Flor, se não me engano Isidoro, e do inventor do Viagra, coisa que felizmente não preciso (talvez ainda) e de quem não retive o nome.

Quem viu o filme Amadeus, de Milos Forman, de 1984, pode ter imaginado que o diretor romanceou e carregou no drama nas cenas do funeral do compositor.

Por aqui dá mesmo para saber o quanto o mundo prestou atenção nas obras de arte musicais do genial austríaco enquanto ainda  com ele.

05 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 19/11/1889

Deu no The Times, em 19/11/1889.

Traduzi pelo que sei de inglês. Caso deseje ver o original, clique no título deste artigo.

As palavras entre colchetes são comentários meus.

Seguem, em negrito, as notícias:

A Revolução no Brasil

Viena, 18/11:

A imprensa austro-húngara unanimemente deplora a revolução que destronou Dom Pedro II, e o jornal Neue Freie Presse, entre outros, prediz que os brasileiros pagarão caro pelo que fizeram.

O mercado financeiro de Viena, que é altamente sensível à condição presente, tem sido influenciado pela revolução, embora sua influência possa somente ser sentida aqui indiretamente através do mercado francês.

A capital francesa parece ter investido bastante no Brasil. Apenas há uns poucos meses, um novo banco e uma grande empresa estabeleceram-se no Rio de Janeiro com capital francês.

Berlim, 18/11:

A bolsa hoje aqui, influenciada principalmente por reportagens de Londres, está sobremaneira inquieta sobre as notícias do Brasil, mas até o fechamento dos negócios recobrou seu tom normal.
De resto, a revolução, enquanto naturalmente forma assuntos de lamentação entre os políticos conservadores, é naturalmente aclamada com contida alegria pela imprensa radical.
Como observa o Kreuz Zeitung: "A imprensa liberal mal pode esconder sua satisfação pelo evento. Idéias republicanas, pensa-se, ganhou uma vitória imediata e considerável, e é uma feliz constatação que a América está agora livre desde os bancos de St. Lawrence até Cabo Horn.

Rio de Janeiro, 16/11:
O ministro das finanças do governo republicano provisório fez uma visita ao presidente do Brazilian National Bank, a quem declarou que todos os contratos acordados pela antiga administração imperial serão respeitados e continuados pelo novo governo.

Noite, 17,11:
Foi anunciado que o novo governo firmemente mantém a ordem pública. O Gabinete prepara um telegrama-circular a ser endereçado aos representantes brasileiros no exterior e transmitidos por eles aos governos estrangeiros. A província da Bahia notificou de sua adesão à república, e as notícias das províncias geralmente fazem saber da tranquila aceitação da nova ordem das coisas.

Nova Iorque, 19/11:
Um telegrama de Lima [Será o ministro Araújo Lima, ou é da capital do Peru?] diz que os seguintes despachos foram recebidos lá, do Rio de Janeiro, sábado à noite: "Ao imperador são dadas 24 horas para sair [do país]. A comissão revolucionária fez um juramento perante a Câmara Municipal. A república é uma realidade. Grande entusiasmo prevalece. Preto [Visconde de Ouro Preto], ex-ministro do interior, e Mayunck, banqueiro, foram presos.

Paris, 18/11:
O Duque de Nemours enviou um telegrama à rainha Victoria confirmando as notícias de que o imperador do Brasil e a família real embarcaram para a Europa sem sofrerem nenhuma experiência desagradável.

São Petersburgo, 18/11:

Em um artigo sobre a revolução no Brasil, o jornal semi-oficial Journal de Saint Pétersbourg, após demonstrar pesar de Dom Pedro diz: "O imperador do Brasil durante suas repetidas e longas visitas à Europa, ganhou universal simpatia por seus pares. Os acontecimentos que recentemente o derrubaram, pela ingratidão de alguns de seus súditos, serão profundamente deplorados em toda parte. Com relação ao Brasil, é provável que o país ficará desprovido de ordem e segurança no porvir.

Lisboa, 18/11:

Um telegrama particular recebido aqui do Rio de Janeiro, anuncia que o imperador deposto partiu para a Europa a bordo do vapor brasileiro Alagoas, em seu destino para Lisboa. Um outro telegrama diz que Sua Majestade deixou [o país] a bordo do navio de guerra Riachuelo, sendo que o comandante do navio recebeu instruções seladas para serem abertas após a partida, indicando-lhe onde desembarcar o imperador, sendo seu destino provável um porto francês ou italiano no Mediterrâneo.
Acrescenta o despacho que Dom Pedro foi objeto de simpatia por parte da população e do governo provisório no momento da partida.
O Chargé D'Affaires [Diplomata em missão temporária] brasileiro recebeu o seguinte telegrama:

Rio de Janeiro, 18/11/1889.

Ministro Brasileiro, Londres
O governo está constituído como República dos Estados Unidos do Brasil.
A monarquia foi deposta. A família imperial deixou o país.
Tranquilidade e satisfação geral.
O Poder Executivo apresenta-se como governo provisório, que é chefiado
pelo Marechal Deodoro e eu, o Ministro da Fazenda.
A república rigorosamente respeita todos os acordos, obrigações e
contratos do estado.
Ruy Barbosa, Ministro da Fazenda.


04 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 18/11/1889

Deu no The Times, de Londres, em 18/11/1889, uma segunda-feira.



A reportagem é de um correspondente do jornal inglês na capital francesa, relatando uma entrevista que tivera com um antigo integrante da corte de Dom Pedro II, entre outras notícias veiculadas em outros países.

Traduzi pelo que sei de inglês, mas não ponha a mão no fogo por mim, ao acreditar no que fiz. Você mesmo pode tirar a teima, clicando no título deste artigo, que o remeterá ao jornal, onde poderá verificar o texto no original.


As palavras entre colchetes são interpretações minhas.

Acredito que o entrevistado na primeira parte era o Barão de Penedo.
Uma observação e uma curiosidade: o Barão de Penedo estava em Paris, segundo depreendo de minhas pesquisas, como representante da Feira Universal de Paris, quando foi inaugurada a Torre Eiffel, em 1889.

Eis as notícias, em itálico, abaixo:


Eu tive uma conversa com um brasileiro de alta posição, com o qual encontrei-me anteriormente com Dom Pedro II. Profundamente conhecedor de seu país e mesmo fortemente ligado ao imperador e sua família, julga os fatos com grande imparcialidade.


"A única coisa que me surpreende" - ele disse - "é que o evento [da proclamação da República] não se deu de noite para o dia. Por mais de sessenta anos, temos estado em latente revolução. Desde 1835, imediatamente após a proclamação de Dom Pedro II, da primeira regência de Diogo Feijó, da de Araújo Lima [Marquês de Olinda] até a presente data, o Brasil não foi outra coisa senão uma federação, constantemente em conflito, e composta de partes rivais aspirantes à supremacia.
Ocupamos um território quinze vezes maior que a França e não temos um-quarto de sua população. Como poder-se-ia esperar que um império poderia manter-se unido sob tais condições?
Já se viu que nossa antiga capital, Bahia, afasta-se do movimento do Rio. Verá que o império, que é tão vasto e tão pouco habitado, se dividirá cercado por várias repúblicas, o que fará aumentar o número de revolução periódicas na América do Sul. Seria tolice esperar que poderíamos permanecer como monarquia no meio de repúblicas. Era inevitável que sucumbiríamos ao contágio republicano. Nosso imperador, que amamos, nada fez para evitar que tomássemos este curso. Ele é instruído, ou melhor, é um estudante compulsivo, que devora tudo e nada digere. Era esperado, já há um bom tempo, que ele abdicaria, mas não o fez. O Conde D'Eu permanece um estrangeiro para nós, e nós culpamos firmemente o imperador por não ter presidido a libertação dos escravos. O soberano não devia ter ficado ausente da execução. Além disto, o imperador não olhou cuidadosamente para as classes sociais do império. Por um longo tempo, os brasileiros o consideraram como um monarca amador. Ninguém parece ter interferido nesta luta, exceto aqueles que defendiam seus estatus e aqueles que preservavam as próprias cabeças.
Creio que brevemente virão excessos e, ao mesmo tempo, uma séria e permanente revolução.
A Bahia está insatisfeita. Outros a seguirão, não para restabelecer a monarquia, mas proclamar a própria independência.
Há luta entre as províncias, e nenhuma delas obedecerá outra. É uma federação de províncias republicanas que está sendo preparada, a princípio pobre e, subsequentemente, rica.
O império é demasiadamente extenso para pertencer apenas a uma fraca dinastia. Enquanto dividida, cada província fará esforços independentes e se tornará rica.
Espero que meus compatriotas respeitem a família imperial que, sem dúvida, entenderá que o melhor a fazer para o país é exilar-se.
Há um grupo a ser adicionado ao 'Rois en Exil'. Mas muitos países europeus odiarão adicionar novos.
Meu país é jovem. Não faz quatro séculos desde a sua descoberta. O império não tem mais do que setenta anos. A república era inevitável, e seria melhor que fosse estabelecida agora do que mais tarde."


O Barão de Penedo, o ministro brasileiro aqui, que não recebeu telegramas a respeito da revolução, foi entrevistado por um repórter francês. Expressou surpresa por vários monarquistas leais, incapazes de traição, estarem à frente dos líderes.
Os republicanos, ele diz, são uma pequena minoria, e o imperador é universalmente amado. O gabinete liberal de Preto [Visconde de Ouro Preto] sucedeu-se ao gabinete de Oliveira [João Alfredo Correia de Oliveira], e as eleições gerais deram-lhe uma maioria esmagadora.


O novo parlamento estava em perfeita tranquilidade. O Barão de Ladário, Ministro da Marinha, era muito impopular. Era hábil, mas bastante impetuoso, e, ano passado, quando tinha que adquirir um encouraçado na Europa, ele subitamente rompeu as negociações com a companhia Marseilles e negociou com a Inglaterra.
O almirante Van den Cock [na verdade, Wandenkolk. O jornal faz um erro aqui], era o líder descontente da marinha e, enquanto Ladário tornava-se interinamente Ministro da Guerra, o descontentamento espalhou-se pelo Exército.


Deodoro da Fonseca é um general que goza de muito prestígio e é muito popular no Exército. É dito que ele é invejoso da situação do Conde D'Eu lá.
Preliminarmente, ele atraiu a atenção por sua hostilidade ao governo e dois anos antes organizara uma demonstração que ficara prestes a se tornar um motim e somente falhou por falta de organização.
Após tais distúrbios, ele caiu em desgraça e foi enviado à fronteira do Paraguay para chefiar um destacamento.
Há pouco retornou ao Rio.


O senhor Benjamin Constant não é francês, e é uma pessoa de muito pouca importância no estado.
Ele é um notável matemático, sem dúvida, seu cárater rude e sua oposição ao governo tiraram-lhe todas as chances.


Como um jornalista de oposição, poderia ter uma certa popularidade, mas não há o que explique seu estatus no governo revolucionário.


O filho do Barão de Penedo, em resposta a um outro jornalista correspondente, repudiou a teoria de um jornal de Paris que os antigos senhores de escravos haviam fomentado a revolução.


A emancipação, diz ele, ganhou simpatizantes ao Império, e foi apoiada pelos republicanos.


O movimento foi pressentido e a tenacidade e a audácia dos republicanos era bem conhecida. Mas, pensou-se que esperariam até a morte do popular imperador.


Bruxelas, 17/11:


Descobri aqui que a revolução brasileira em favor da escravatura coincide de uma maneira singular coma Conferência Anti-Escravatura de Bruxelas.
Também prova que as mercadorias ilegais são embarcadas sob a bandeira da assim chamada República do Brasil, que não está representada na conferência.




Rio, 16/11:


Uma revolução eclodiu ontem aqui. O primeiro sinal de uma iminente inssureição foi uma revolta militar, quando alguns soldados dispararam três tiros contra o Barão de Ladário, Ministro da Marinha, que caiu seriamente ferido.
Não se sabe, num primeiro momento, se o movimento fora uma mera revolta ou uma grande revolução com aspectos políticos, mas, pela tarde, tornou-se claro que nada menos era do que a deposição do governo imperial e a proclamação da república.
O ministro, achando que o Exército apoiava a revolução, renunciou, e o governo provisório ficava estabelecido.
O general Deodoro da Fonseca, que não muito antes teve de aplicar medidas disciplinares por insubordinação e que fora enviado ao comando da província de Minas Gerais, é a principal figura no novo governo, que é composto como segue:
General Deodoro da Fonseca, presidente sem palácio;
Aristides Lobo, ministro do interior;
Quintino Bocayuva, ministro das relações exteriores;
Dr. Barboza [Ruy Barboza], ministro da fazenda;
Campos Salles, ministro da justiça;
Benjamin Constant, ministro da guerra;
Contra-almirante Vander-holtz [na verdade, Wandenkolk], ministro da marinha;
Demétrio Ribeiro, ministro da agricultura.


Dentre os membros do ministério, o senhor Bocayuva, o ministro das relações exteriores, é jornalista; Dr. Barboza é membro da câmara dos deputados, que foi dissolvida, e o senhor Constant é professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro e também um jornalista democrata.


O Conselho de Estado foi abolido. A opinião pública inclina-se a favor do novo governo, e a população está quieta.
As condições do Barão de Ladário não é considerara crítica. Acredita-se que as questões sobre a futura forma de governo será submetida a um plebiscito.


Meio-dia:


O governo provisório emitiu um manifesto declarando que a monarquia foi abolida. Anuncia sua intenção de evitar quaisquer discórdias e também declara que apoios têm chegado de várias províncias do Brasil.
O antigo premiê está detido. O imperador será tratado com a maior consideração.




16 horas:


O imperador desde o rompimento da revolução está preso em seu palácio em Petrópolis. Sua majestade recebeu a notícia de sua deposição e, ao mesmo tempo, foi informada de que sua pensão [civil list] estava em andamento. O imperador replicou que só se renderia à força.


A maioria das províncias parecer ter aderido à republica federativa proclamada pelos insurgentes nesta cidade. A província da Bahia, contudo, opôs-se ao movimento revolucionário.


O ministro republicano das finanças declarou que todos os contratos feitos pela administração imperial serão mantidos.
A cidade está calma.
O mercado está paralizado atualmente.


21 horas:
O imperador e a família real sairão [do país] para a Europa amanhã.


17/11:
O imperador partiu para a Europa no vapor desta manhã.


Nova Iorque, 16/11:
Notícias recebidas pelo comércio confirmam as declarações já feitas a respeito da revolução que eclodiu no Rio de Janeiro.
Uma destas comunicações diz que a Marinha e o Exército combinados depuseram o governo imperial , enquanto outra diz que a situação é crítica e que o imperador foi deposto.


O Evening Post, em notícia proveniente de Washington, publica as opiniões de um cavalheiro intimamente ligado a políticos brasileiros. Diz que a revolução é puramente militar, e é preocupante a falta de tropas fora do Rio de Janeiro para enfrentar os rebeldes.


A Força da capital tem aproximadamente 6000 homens, e o restante do Exército 10000 espalhados pelo país.


O general Deodoro da Fonseca foi acusado de insubordinação em julho último e o Ministro da Guerra propôs levá-lo à corte marcial, mas o imperador recusou-se a deixar que as coisas tomassem este curso.


Washington, 15/11:
O ministro brasileiro aqui, em resposta às perguntas feitas sobre as notícias de irrompimento da revolução no Brasil, declarou que tinha recebido um comunicado oficial sobre o assunto. Declarou que soubera do movimento republicano no Brasil, mas era de opinião que as lutas que se passaram por todo o país foram sobrestimadas, embora fosse possível que as coisas tivessem mudados nos últimos meses no país.


16/11:
O departamento de estado recebeu um comunicado confirmando o irrompimento da revolução no Rio de Janeiro e dos ferimentos do Barão de Ladário, Ministro da Marinha, pelas tropas revoltosas.


Lisboa, 17/11:
A corveta Bartholomeu Dias está pronta para zarpar para o Brasil.


Oporto, 17/11:
O Commércio [jornal português] publica um telegrama do Rio de Janeiro afirmando que o Visconde de Ouro Preto, o antigo premiê, foi intimado a deixar o país e embarcará hoje no vapor Ralilio.