29 novembro 2008

Fome de Saber


Há cerca de umas duas semanas ou três eu ouvi uma notícia na Band News FM, do correspondente europeu da emissora, que uma biblioteca virtual estaria sendo disponibilizada. Guardei na ocasião apenas o nome principal, a fim de procurá-lo com mais detalhes via farejadores de páginas na internet.

Hoje, lembrei-me por acaso daquela notícia e fui buscá-la e eis que achei o endereço http://www.europeana.eu/.

Entrei, não consegui ler nada mas fiquei feliz por isto.
O aparente paradoxo eu explico: no dia em que iria funcionar pela primeira vez, houve dez milhões de acessos por hora, o que fez os servidores entrarem em pane!

A felicidade é por ter visto que muita gente no mundo todo tem muita vontade de melhorar, enriquecendo-se de conhecimento.
Segundo seus idealizadores, a Biblioteca voltará ao ar em meados de dezembro de 2008.

Gostaria que, dentre esses milhões, houvesse uns tantos brasileiros. Aguardo ansioso pela disponibilização.

18 novembro 2008

Sabedoria popular (I)


"Se alguém te piscar o olho, não te entusiasma muito: certifica-te primeiro da possibilidade de existir um tique nervoso"

17 novembro 2008

Andy Warhol

Ele deve estar me olhando de braços cruzados e sacudindo a cabeça de um lado para o outro, censurando meus 15 minutos de glória.

Ora bolas, Andy, dá um tempo... Também sou filho de Deus e preciso aparecer nos jornais, mesmo que de carona:

Clique aqui para ver o Blog do Noblat, de O Globo

14 novembro 2008

Os Cantores de Ébano

Quem não se lembra, pode ouvir agora.
Quem nunca ouviu falar, pode gostar deles.

Ouça:


11 novembro 2008

O Beija-flor Vermelho

Se desejar ouvir música, enquanto lê, clique na seta do 'player'.



Foto de Flavio Cruvinel Brandão
Para um menino de dez anos, um terreno de mil metros quadrados, dependendo de como esteja plantado, impressiona.
O nosso, o de nossa família, era uma floresta biodiversa, onde cresciam bananas, laranjas-da-ilha, limas, pêssegos e abacates; mexericas, orvalha, laranjas azedas e cana-de-açúcar; cana-da-índia, café, maçã e hortaliças comuns. Existia também um grande galinheiro.
Fico admirado que, num espaço não tão grande, pudesse caber tantas coisas e ainda por cima existir lugares livres para se andar por lá.

Acho que nosso quintal era mágico, especial. Só mesmo em contos de fadas para se imaginar coisas assim.

A floresta de bananeiras tinha uma clareira, se é que se pode chamar um lugar aberto daquela forma, uma parte ensombrecida no meio dos caules, por tal nome.
Era quase circular, um anfiteatro natural, com camadas de folhas como platéia, com troncos luzidios e generosamente úmidos a nos dar frescor, e também a nos espetar com pequenos acúleos se nos desavisávamos da proximidade com suas partes mais baixas.
Ali recendiam humores de terra molhada, não obstante alguns raios de luz solar se infiltrarem timidamente, como se pedissem licença àquela penumbrosa catedral insuspeitada.

O bananal ficava ali - vizinho de porta fitológica - com a imensa mangueira, a exigir dois homens para um abraço na parte mais larga do caule rotundo. Imensa mesmo.
Em seu galho mais reto meu irmão se pendurava pelas pernas dobradas e de cabeça para baixo balançava-se pegando pelas patas a vítima do nosso cachorro vira-latas, o Buganin, que chorava de dor pelo despropósito do trapézio improvisado.
Aquele cachorro preto e branco merece um dia uma crônica só dele. Fico devendo esta.

Ali era o meu reino. Escolhia do que desfrutar, pois havia frutas e frutos para todo o ano. Era só esticar o braço.
Lá eu era super-herói; transitava por entre o sacro e o profano, ora padre a improvisar missas, ora mestre de cerimônias de circo e teatro, barracas de panos velhos e furados.
Arranjava engenhocas com restos de ferros esquecidos, trincos e fechaduras, o que pudesse dar uma continuidade qualquer a uma linha ferroviária na imaginação.
Talvez daí possivelmente venha minha fascinação por trens, por marias-fumaças que sempre puxam tais reminiscências, que me fazem lembrar de minha mãe me ensinando coisas.

- O inventor do trem foi George Stephenson... - disse-me ela, uma vez.

Imagina? Uma dona de casa, no interior de Minas, sem nunca ter tido a oportunidade de ir à escola, me falando de tais coisas, citando um engenheiro inglês nascido no século XVIII.
Acho que herdei dela a curiosidade e o gosto de aprender coisas.

Belos dias climáticos aqueles.
Minha narrativa se passa numa tarde - dessas gloriosas tardes que só a idade de dez anos inventa, outonal, que tendia ao vermelho nas luzes e a azul no céu sem nuvens; entre duas e três horas, mais ou menos.
Eu tinha um estilingue, esse instrumento de auto-afirmação boba que os meninos do interior inventaram e propagaram a outros meninos e que arremedaram a sandice do tiro ao pombo dos ingleses e talvez da caça à raposa.
Se você não matasse passarinho você estava por fora.

Para sorte de muitos emplumados, minha mira não era costumeiramente muito boa, sugerindo aí uma tradução, possivelmente, da futura e perene pouca habilidade manual.
Olhava com curiosidade maravilhada ao trabalho dos mestres da construção, principalmente para duas atividades: a de pedreiro e a de carpinteiro.
Ficava admirado com a madeira reta, lisa, com o perfeito encaixe e com as paredes que se aprumavam indiferentes à lei da gravitação universal. Eram profissões de mágicos. Queria por momentos ser um e depois ser outro.
Hoje já não tenho tais inclinações, mas não deixo de admirar esses trabalhos.

Sendo ruim de mira, dava justamente valor à simetria, pois a linha de visada até à caça também depende disto.
Ia eu procurando sabiás, rolinhas, pardais, cambaxirras, o que viesse.
Precisava matar, senão não seria jamais um homem.

Um sabiá pousou no alto do muro, nos fundos. Mandei pedra!
Xi!!! Passou longe e o bichinho só faltou rir de mim. Nem se animou a voar, a não ser quando cheguei muito perto, olhos focados de predador sem fome. Ele, em dúvida, não sabendo de minha incapacidade ofensiva real, voou.
Uma rolinha, no embalo do susto, resolveu fazer o mesmo, não facilitar, e sumiu também num piscar de olhos.

Que frustração!

Mas, sortes das sortes!, o que me aparece, pairando generosamente o peito multicor ao sol, a meio metro de mim, sugando o néctar da flor pendente?
Adivinhou? Isto mesmo, um beija-flor.

Escolhi a pedra mais redondinha e mandei fogo!
Acertei!!! Acertei!!! - gritei por dentro, enquanto via o passarinho fazer um arco e passar por cima do muro do vizinho.

Subi cautelosamente e olhei para a geografia alheia e eis que, para minha satisfação, lá estava ele, morto, com as asas abertas como um pequeno avião pousado de emergência, um verdadeiro contra-senso, uma negação da natureza, que tem naquele pequeno animal a expressão máxima do uso de energia.

Minha vitória era vermelha e coagulada.

Que foi que eu fiz? - pensei, enquanto descia do muro.

Me tornara, percebi ali mesmo, um menino como os outros; apenas geneticamente Homo sapiens.
Conseguira atingir meu objetivo tribal.

Sou mesmo da classificação taxonômica Homo. Não há complementos laudatórios.
Não há nada.

10 novembro 2008

Zoë Mace

Zoë Mace, segundo sua página, em gratidão aos médicos e enfermeiras do hospital infantil de Oxford, mandou imprimir vários CDs com sua voz, a fim de levantar fundos para ajudar o hospital.
A razão é que sua pequena irmã, que sofre da Síndrome de Down e teve problemas de coração, foi tratada naquele hospital.
Zoë Mace nasceu em 1995. Imagina daqui a dez anos, quando ela tiver ainda mais técnica vocal:
Ouça aqui... e veja sua página aqui...

31 outubro 2008

Enrico Caruso

Tinha ouvido falar de Enrico Caruso. O tenor que quebrava, segundo a lenda, cristais com sua emissão vocal.
O mais famoso cantor de ópera do mundo, que morreu na primeira metade do Século XX.

Imaginava uma voz forte, grossa, tipo Jorge Goulart de minhas memórias meninas, mas não é nada disto.

Ouça que leveza:

Discover Enrico Caruso!

Dire Straits

Gosto deles.
O som, inconfundível, repousa a gente em muitas músicas.


Discover Dire Straits!



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29 outubro 2008

Geração da Esperança



A esperança é forte quando as tristezas, os desânimos também são.

É um antídoto contra a auto-estima esquálida, ou pelo menos tenta ser.

Tenho esperança de dias melhores para o nosso Brasil, mas a imprensa não colabora muito.

A dualidade homem vs. meio jamais será resolvida, pois não existe mundo sem os homens, assim como não há homens sem o mundo, entendendo-se como mundo a humanidade.
Quem faz o homem é a sociedade em que vive, ou é a sociedade que determina como o homem será?

Claro é que, embora sem solução, encontra-se a resposta justamente na ambiguidade, pois não há como dissociar-se ambos.

A uma ação corresponde uma reação, ensina Newton, e isto também vale para a humanidade.

Olhando o jornal O Globo on line de hoje, num pequeno retângulo escolhido a esmo da primeira página, só notícias ruins.

Todos sabemos que os jornais não trazem notícias de boa perspectiva, pois só notícia ruim vende.

Se os jornais vivem de propaganda, se o que estampam comercialmente vende sempre - segundo eles mesmos dizem para atrair patrocinadores -, então notícias de crimes e maldades também deverão se disseminar assim.

18 outubro 2008

A Dignidade dos Bolsos

Possivelmente você diria que os bolsos são ornamentos dispensáveis do vestuário, ou que servem apenas para livrar as mãos da dificuldade de agir enquanto cheias. Quem sabe tão-somente um lugar geométrico da indumentária para ocultar coisas dos olhos de pessoas curiosas ou mal intencionadas.

Diria que não.

Ao mesmo tempo que servem aos motivos práticos de transporte de pequenas coisas, têm sua função moral. Eleva ou rebaixa a dignidade das pessoas.

Faz parte de um código social silencioso, mas não por isto desprezível.

Um bolso - ou vários -, caracteriza uma pessoa amigável, que guarda as coisas, que tem compromisso; se ausente, insinua indiferença, sugere falta de verdeira amizade. Parece-nos que tal pessoa não se lembrará de nós assim que virarmos a esquina, que nada lhe apega ao corpo.
Parênteses: excesso de bolsos também traz a desconfiança: aquele sujeito tem a avareza, quer carregar o mundo consigo; nada para os outros...

Um bolso é coisa séria.

Veja como é reprovável o ato de nele enfiarmos a mão, quando nos quedamos incomodados com alguém. Torna-se, neste caso, um receptáculo de maus sentimentos, ocultando as mãos que tudo falam.

Um bolso diz tudo, e sua ausência a expressão moral amordaçada.

Tudo isto para dizer que detesto a vulgaridade de uma calça jeans feminina sem os bolsos atrás.

19 setembro 2008

Gênero de Primeira Necessidade

Uma vontade eu venho carregando há tempos.


Gostaria que todas as bibliotecas públicas funcionassem como as padarias, e como os cinemas.



Ficariam abertas 24 horas por dia, durante 7 dias.



Afinal, nem só de pão vive o homem. Já se sabe disto há dois mil anos, bem antes da biblioteca de Alexandria pegar fogo.

11 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times 23/07/1908

Quem inventou o verdadeiro avião? Santos Dumont ou os irmãos Wright?
Por força de Hollywood, nestes tempos de colonização maciça via cinema e internet, é bem capaz que um aluno do primeiro grau vá dizer que são os americanos, de tanta propaganda que estes fazem.
Mas, ao divulgarem os fatos, os do norte sabem muito bem que não aconteceu como foi contado.
Pressinto que, na calada da noite, também duvidam que foi feito.
Mas como costumam ganhar no grito tudo que é de sua conveniência, seguem a vida assim. Cabe a nós separar o joio do trigo e resistir.

É o que faço. Aqui vai mais uma reportagem passada no tempo exato dos acontecimentos. Não há, mesmo dentro das possibilidades fracamente isentas de qualquer imprensa, interpretações romantizadas pelo tempo decorrido.

Perdão aos amigos, pela péssima tradução, mas estou com preguiça de pesquisar o verdadeiro sentido das frases e expressões. É muito cansativo.
Serve apenas para fazer com que gastem menos tempo, se quiserem ler o artigo abaixo. Se não quiserem, podem ir diretamente para http://archive.timesonline.co.uk/tol/archive/ e fazerem seus cadastros gratuitos lá e lê-lo no original.

Deu no The Times, em 23/07/1908, uma quinta-feira, conforme abaixo, em itálico:

Uma curiosa mudança de opinião é notada na França, em relação aos irmãos Wright. Seus experimentos com o vôo artificial, executados nos Estados Unidos em 1903-1905, foram recebidos com uma dúvida quase universal. Na ausência de testemunhas conhecidas, os céticos não poderiam admitir que um resultado tão espantoso como um vôo de 38956 metros em 38min e 3 segundos pudesse realmente ser feito em 5/10/1905.
Expressam surpresa pelas evoluções aéreas não terem sido fotografadas e mencionam que Springfield, cenário dos experimentos, tem aproximadamente 48000 habitantes, o que parece [muito] estranho [não saberem] o que estava acontecendo em seus arredores. Por outro lado, seria [coisa um tanto] forçado, pelos poucos apoiadores dos Wrights, que não teriam nada a ganhar, impor uma fraude científica ao mundo [
comentário meu: a não ser ganhar notoriedade, o que não é pouco]. Até 1903, [ os irmãos Wright] tinham considerado a aviação como esporte, mas desde aquela época têm estado desejosos de tirar dela algum lucro. Naturalmente assim, mantiveram os detalhes de sua máquina secretos até o tempo em que se pudesse vendê-la. Em conseqüência, tendo uma combinação de invenções anteriores, poderia não ser fácil patenteá-la, e estavam justificadamente apreensivos que uma inspeção rápida poderia ensejar a sua cópia por um aeronauta experiente.
Ademais, foi argumentado que os Wrights têm um passado científico. Eles vinham trabalhando no problema do vôo desde 1900, e ninguém duvida de seus vôos planadores. Suas medidas de velocidade e duração de vôo foram feitas com instrumentos de precisão, por métodos que suas registros mostram serem completamente científicos. Se os detalhes precisos são ausentes, a culpa deve cair na natureza prática do caráter americano, que mostra pouco entusiasmo ou curiosidade em assuntos que não podem de imediato tornarem-se objeto de negociação. [
Outro comentário meu: é muita forçação de barra acreditar nisto. Eles usavam instrumentos de precisão, mas não fotografavam?] [Ainda pensando em objeção], por que não levaram sua invenção ao governo? A resposta era que o governo poderia não querer comprar uma máquina incapaz de ser patenteada e que poderia ser impossível de se manter sob monopólio.

Finalmente, a atenção foi direcionada aos testemunhos dos fazendeiros de Springfield, sob inquérito promovido pela Scientific American e pelas declarações do Sr. Octave Chanate, que garantia que seus eminentes alunos são homens respeitáveis. [
Mais um outro pitaco meu: Ridículo para servir como prova].
Estas discussões poderiam ter continuado, se o senhor Wilbur Wright não tivesse chegado à França, em 31 de maio último, a fim de executar o programa promovido pelo senhor Lazare Weiller.
Em conseqüência, o exército de céticos, com a exceção de poucos são-tomés, aderiu ao grupo dos que acreditavam.
O senhor Wright continuou a trabalhar com seu aeroplano, com o qual fazia experimentos no curso deste mês na presença do Comitê Weiller.
Pode já ter sido dito que num sentido ele tinha autenticado seus resultados em 1905, ao assinar um contrato que estipula que receberá 500.000 francos por suas patentes, se no curso de uma semana fizer dois vôos mecânicos de 50 quilômetros cada um, retornando ao ponto de partida, com o aeroplano transportando duas pessoas, embora uma delas possa ser substituída a sua vontade por um saco de areia de igual peso. Esses vôos serão executados sobre a pista de corrida de Mans.

O piso lá, ainda que reto e aberto, é de feição ondulada, plantado de árvores, medindo 800m em comprimento e 335 de largura.
O senhor Wright, contudo, está bastante satisfeito com o ambiente. Sua máquina, diz confiante, pode voar sob ventos de 18 milhas por hora, enquanto carrega duas pessoas, e o evento é um bom assunto para validar uma patente.
Ele e seu irmão, sustenta, são protegidos por suas patentes, especialmente as relacionadas à manutenção do equilíbrio, e se forem prejudicados saberão como se defender.
Do senhor Wright tem sido dito, em relação ao desempenho das máquinas de voar da França, que as considera como meras brincadeiras de criança, mas isto, diz, não é o caso, e declarou acompanhar os experimentos de seus amigos franceses com admiração, que conseguem voar a despeito dos rudimentares controles para uma estabilidade segura.
Os irmãos Wright acreditam que resolveram o problema da preservação do equilíbrio, que é o ponto crucial do problema da aviação. Sua invenção principal – o mecanismo que permite a inclinação das asas – dá-lhes a estabilidade transversal e, além disto, facilita a ação do leme pelo qual podem mudar o curso. Suas máquinas compõem-se de duas superfícies superpostas. O motor é posto entre essas duas superfícies, um pouco à direita da linha central e se comunica às duas hélices de madeira no nariz [do aeroplano] por uma corrente. O piloto e o passageiro sentam-se perto do motor, contrabalançando o seu peso.

Os lemes que alteram a elevação são postos na frente, e o leme de direção à ré, todos manipulados por meio de alavancas, O motor, que tem quatro cilindros, não difere essencialmente daqueles utilizados em automóveis e pesa 75 kg. Desenvolve 25 HP, com [o cilindro] medindo 108mm, e 100mm [de curso de pistão]. Não tem carburador e o combustível é introduzido diretamente no cilindro por uma bomba.
Ao partir contra o vento, o aeroplano desliza sobre cilindros e por trilhos de madeira de 40m de comprimento, e levanta [vôo] após uma corrida de 25m.
Em atmosfera calma, é lançado por uma série de mecanismos de catapulta. O senhor Wright sustenta que, para um aeroplano voar, não é necessário um motor extraordinariamente leve ou de grande força, e está bastante satisfeito com o motor de 25HP, pesando 3kg/HP. Ele e seu irmão não mais voam deitados sobre a máquina, mas definitivamente na posição sentada.

Em maio ultimo, tentaram novos arranjos em Kill Devil, na Carolina do Norte, perto de Kitty Hawk, onde fizeram seus experimentos planadores de 1900-1903. Estas últimas tentativas foram erroneamente divulgadas pela imprensa americana, que por toda parte espalhou as mais absurdas histórias sobre seus feitos e o senhor Wright condena as declarações fantasiosas dos jornalistas seus conterrâneos, que o descrevem como voando a 1000m acima do mar. Declara enfaticamente que jamais cobriu uma distância maior que 39km, voando a não mais que 35m.
O senhor Orville Wright, seu irmão mais novo, não saiu dos Estados Unidos, onde, em setembro, trará à presença dos delegados oficiais do governo americano uma outra máquina, pela qual pagarão 5000 libras, o que satisfaz as condições contratadas.

As tentativas, que se darão no Fort Myers, na Virgínia, sob a supervisão do Signal Corps, incluem (1) um teste de velocidade média, 5 milhas de ida e 5 de volta, (2) um teste de poder de voar por uma hora à velocidade de 40 milhas por hora, com duas pessoas à bordo. Se fizer menos que 40 milhas em uma hora, o preço pago será reduzido e, se fizer menos do que 36 milhas [por hora] será rejeitado completamente.
Se a potência motora provar-se inadequada,o dinheiro da caução, de 10% ou 500 libras, depositado não será reembolsado. Se, por outro lado, a velocidade exceder-se ao estipulado, o preço será acrescido numa escala tal como próxima ao dobro, caso atinja 60 milhas por hora. O contrato reza uma venda simples da máquina, e não por qualquer licença sob patentes, ou por qualquer monopólio de fabricação.
Será conhecido brevemente durante o presente mês, ou nos primeiros dias de agosto, o que os irmãos Wright podem fazer. As condições de seus contratos são duras, contudo eles têm sido obrigados a aceitá-los. Por quê? Porque as atitudes que tomaram desde 1903 têm sido desnecessariamente misteriosas.

Enganam-se, com referência aos valores intrínsecos de sua invenção, e têm mantido o grande engano de acreditarem estar consideravelmente à frente dos experimentadores franceses, dispensando algumas boas vantagens oferecidas. Ademais, não há o como lutar contra os jornalistas e financiadores, uma vez que as imprensa tem estado desfavorável a eles. Somente pensaram em fazer contatos com diferentes governos, aos quais escreveram: “Aqui está uma máquina uma máquina que é capaz de voar 50km. Será sua por um milhão de francos, pagáveis após um teste de avaliação”. Mas governos desconfiam de patentes que possam facilmente ser copiadas. Não compartilham da confiança dos irmãos Wright e lhes dá apenas uma moderada atenção, que é substituída por indiferença desde a data do memorável experimento de Santos Dumont, em 12/11/1906. Desde aquele dia, a máquina de voar dos irmãos Wright perdeu o valor. Após Santos Dumont, vieram Farman, Delagrange, Blériot, Esnault-Pelterie e outros, os quais demonstraram vezes e mais vezes, à luz do dia, ante uma multidão entusiasmada, que o vôo artificial é um fato consumado. Estes são, pois, a marcha dos acontecimentos que obrigaram os irmãos Wright a baixar suas pretensões. Mas é justo reconhecer que suas atividades estimularam o entusiamo dos investidores franceses e a atenção do público para a aviação. Se seus equívocos lhes foram prejudiciais, para muitos trouxeram boa sorte, notavelmente para o senhor Blériot, que ganhou, no dia 6 deste mês, a primeira vitória moral sobre eles, ao manobrar um monoplano a uma altura de 20m perfeitamente balanceada

10 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 15/06/1854


Deu no The Times de 15/06/1854, uma quinta-feira, acerca da fundação da primeira ferrovia no Brasil, pelo Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza.

Em 30/04/1854, a primeira ferrovia no Brasil foi aberta ao público, a inauguração tendo a presença de Suas Majestades Imperiais e de um imenso concurso de personagens líderes do império. O diretor da companhia, senhor (sic) Iveneo Evangelista de Souza, que foi honorificado na ocasião pelo imperador com o título de Barão de (sic) Maria, assim como o engenheiro-chefe, um inglês, senhor William Bragge, que foi condecorado com a imperial Ordem da Rosa. As ações da estrada-de-ferro estão agora entre 5 e 10 mil-réis cada.



08 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História Geral - The Times, 24/12/1791

Todos sabemos a importância de Wolfang Gottlieb Mozart no cenário mundial, na história da arte, da genialidade do grande compositor.

Sabemos também que santo de casa não faz milagre e que só nos tormamos famosos postumamente.
Tanto isto é verdade que reproduzo aqui o obituário do The Times, o da véspera do natal de 1791. O nome de Mozart vem junto a alguns outros.

No dia 5, em Viena,  Wolfgang Mozart, celebrado compositor (sic) alemão.

Numa única linha. E ainda erraram a nacionalidade de Mozart.
Em seguida, o artigo informa o falecimento, agora em cinco linhas , de um boticário.

Nada contra os farmacêuticos que me lêem, mas o único profissional com este título de que tenho memória é o do segundo marido de Dona Flor, se não me engano Isidoro, e do inventor do Viagra, coisa que felizmente não preciso (talvez ainda) e de quem não retive o nome.

Quem viu o filme Amadeus, de Milos Forman, de 1984, pode ter imaginado que o diretor romanceou e carregou no drama nas cenas do funeral do compositor.

Por aqui dá mesmo para saber o quanto o mundo prestou atenção nas obras de arte musicais do genial austríaco enquanto ainda  com ele.

05 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 19/11/1889

Deu no The Times, em 19/11/1889.

Traduzi pelo que sei de inglês. Caso deseje ver o original, clique no título deste artigo.

As palavras entre colchetes são comentários meus.

Seguem, em negrito, as notícias:

A Revolução no Brasil

Viena, 18/11:

A imprensa austro-húngara unanimemente deplora a revolução que destronou Dom Pedro II, e o jornal Neue Freie Presse, entre outros, prediz que os brasileiros pagarão caro pelo que fizeram.

O mercado financeiro de Viena, que é altamente sensível à condição presente, tem sido influenciado pela revolução, embora sua influência possa somente ser sentida aqui indiretamente através do mercado francês.

A capital francesa parece ter investido bastante no Brasil. Apenas há uns poucos meses, um novo banco e uma grande empresa estabeleceram-se no Rio de Janeiro com capital francês.

Berlim, 18/11:

A bolsa hoje aqui, influenciada principalmente por reportagens de Londres, está sobremaneira inquieta sobre as notícias do Brasil, mas até o fechamento dos negócios recobrou seu tom normal.
De resto, a revolução, enquanto naturalmente forma assuntos de lamentação entre os políticos conservadores, é naturalmente aclamada com contida alegria pela imprensa radical.
Como observa o Kreuz Zeitung: "A imprensa liberal mal pode esconder sua satisfação pelo evento. Idéias republicanas, pensa-se, ganhou uma vitória imediata e considerável, e é uma feliz constatação que a América está agora livre desde os bancos de St. Lawrence até Cabo Horn.

Rio de Janeiro, 16/11:
O ministro das finanças do governo republicano provisório fez uma visita ao presidente do Brazilian National Bank, a quem declarou que todos os contratos acordados pela antiga administração imperial serão respeitados e continuados pelo novo governo.

Noite, 17,11:
Foi anunciado que o novo governo firmemente mantém a ordem pública. O Gabinete prepara um telegrama-circular a ser endereçado aos representantes brasileiros no exterior e transmitidos por eles aos governos estrangeiros. A província da Bahia notificou de sua adesão à república, e as notícias das províncias geralmente fazem saber da tranquila aceitação da nova ordem das coisas.

Nova Iorque, 19/11:
Um telegrama de Lima [Será o ministro Araújo Lima, ou é da capital do Peru?] diz que os seguintes despachos foram recebidos lá, do Rio de Janeiro, sábado à noite: "Ao imperador são dadas 24 horas para sair [do país]. A comissão revolucionária fez um juramento perante a Câmara Municipal. A república é uma realidade. Grande entusiasmo prevalece. Preto [Visconde de Ouro Preto], ex-ministro do interior, e Mayunck, banqueiro, foram presos.

Paris, 18/11:
O Duque de Nemours enviou um telegrama à rainha Victoria confirmando as notícias de que o imperador do Brasil e a família real embarcaram para a Europa sem sofrerem nenhuma experiência desagradável.

São Petersburgo, 18/11:

Em um artigo sobre a revolução no Brasil, o jornal semi-oficial Journal de Saint Pétersbourg, após demonstrar pesar de Dom Pedro diz: "O imperador do Brasil durante suas repetidas e longas visitas à Europa, ganhou universal simpatia por seus pares. Os acontecimentos que recentemente o derrubaram, pela ingratidão de alguns de seus súditos, serão profundamente deplorados em toda parte. Com relação ao Brasil, é provável que o país ficará desprovido de ordem e segurança no porvir.

Lisboa, 18/11:

Um telegrama particular recebido aqui do Rio de Janeiro, anuncia que o imperador deposto partiu para a Europa a bordo do vapor brasileiro Alagoas, em seu destino para Lisboa. Um outro telegrama diz que Sua Majestade deixou [o país] a bordo do navio de guerra Riachuelo, sendo que o comandante do navio recebeu instruções seladas para serem abertas após a partida, indicando-lhe onde desembarcar o imperador, sendo seu destino provável um porto francês ou italiano no Mediterrâneo.
Acrescenta o despacho que Dom Pedro foi objeto de simpatia por parte da população e do governo provisório no momento da partida.
O Chargé D'Affaires [Diplomata em missão temporária] brasileiro recebeu o seguinte telegrama:

Rio de Janeiro, 18/11/1889.

Ministro Brasileiro, Londres
O governo está constituído como República dos Estados Unidos do Brasil.
A monarquia foi deposta. A família imperial deixou o país.
Tranquilidade e satisfação geral.
O Poder Executivo apresenta-se como governo provisório, que é chefiado
pelo Marechal Deodoro e eu, o Ministro da Fazenda.
A república rigorosamente respeita todos os acordos, obrigações e
contratos do estado.
Ruy Barbosa, Ministro da Fazenda.


04 setembro 2008

ECOS DO PASSADO - História do Brasil - The Times, 18/11/1889

Deu no The Times, de Londres, em 18/11/1889, uma segunda-feira.



A reportagem é de um correspondente do jornal inglês na capital francesa, relatando uma entrevista que tivera com um antigo integrante da corte de Dom Pedro II, entre outras notícias veiculadas em outros países.

Traduzi pelo que sei de inglês, mas não ponha a mão no fogo por mim, ao acreditar no que fiz. Você mesmo pode tirar a teima, clicando no título deste artigo, que o remeterá ao jornal, onde poderá verificar o texto no original.


As palavras entre colchetes são interpretações minhas.

Acredito que o entrevistado na primeira parte era o Barão de Penedo.
Uma observação e uma curiosidade: o Barão de Penedo estava em Paris, segundo depreendo de minhas pesquisas, como representante da Feira Universal de Paris, quando foi inaugurada a Torre Eiffel, em 1889.

Eis as notícias, em itálico, abaixo:


Eu tive uma conversa com um brasileiro de alta posição, com o qual encontrei-me anteriormente com Dom Pedro II. Profundamente conhecedor de seu país e mesmo fortemente ligado ao imperador e sua família, julga os fatos com grande imparcialidade.


"A única coisa que me surpreende" - ele disse - "é que o evento [da proclamação da República] não se deu de noite para o dia. Por mais de sessenta anos, temos estado em latente revolução. Desde 1835, imediatamente após a proclamação de Dom Pedro II, da primeira regência de Diogo Feijó, da de Araújo Lima [Marquês de Olinda] até a presente data, o Brasil não foi outra coisa senão uma federação, constantemente em conflito, e composta de partes rivais aspirantes à supremacia.
Ocupamos um território quinze vezes maior que a França e não temos um-quarto de sua população. Como poder-se-ia esperar que um império poderia manter-se unido sob tais condições?
Já se viu que nossa antiga capital, Bahia, afasta-se do movimento do Rio. Verá que o império, que é tão vasto e tão pouco habitado, se dividirá cercado por várias repúblicas, o que fará aumentar o número de revolução periódicas na América do Sul. Seria tolice esperar que poderíamos permanecer como monarquia no meio de repúblicas. Era inevitável que sucumbiríamos ao contágio republicano. Nosso imperador, que amamos, nada fez para evitar que tomássemos este curso. Ele é instruído, ou melhor, é um estudante compulsivo, que devora tudo e nada digere. Era esperado, já há um bom tempo, que ele abdicaria, mas não o fez. O Conde D'Eu permanece um estrangeiro para nós, e nós culpamos firmemente o imperador por não ter presidido a libertação dos escravos. O soberano não devia ter ficado ausente da execução. Além disto, o imperador não olhou cuidadosamente para as classes sociais do império. Por um longo tempo, os brasileiros o consideraram como um monarca amador. Ninguém parece ter interferido nesta luta, exceto aqueles que defendiam seus estatus e aqueles que preservavam as próprias cabeças.
Creio que brevemente virão excessos e, ao mesmo tempo, uma séria e permanente revolução.
A Bahia está insatisfeita. Outros a seguirão, não para restabelecer a monarquia, mas proclamar a própria independência.
Há luta entre as províncias, e nenhuma delas obedecerá outra. É uma federação de províncias republicanas que está sendo preparada, a princípio pobre e, subsequentemente, rica.
O império é demasiadamente extenso para pertencer apenas a uma fraca dinastia. Enquanto dividida, cada província fará esforços independentes e se tornará rica.
Espero que meus compatriotas respeitem a família imperial que, sem dúvida, entenderá que o melhor a fazer para o país é exilar-se.
Há um grupo a ser adicionado ao 'Rois en Exil'. Mas muitos países europeus odiarão adicionar novos.
Meu país é jovem. Não faz quatro séculos desde a sua descoberta. O império não tem mais do que setenta anos. A república era inevitável, e seria melhor que fosse estabelecida agora do que mais tarde."


O Barão de Penedo, o ministro brasileiro aqui, que não recebeu telegramas a respeito da revolução, foi entrevistado por um repórter francês. Expressou surpresa por vários monarquistas leais, incapazes de traição, estarem à frente dos líderes.
Os republicanos, ele diz, são uma pequena minoria, e o imperador é universalmente amado. O gabinete liberal de Preto [Visconde de Ouro Preto] sucedeu-se ao gabinete de Oliveira [João Alfredo Correia de Oliveira], e as eleições gerais deram-lhe uma maioria esmagadora.


O novo parlamento estava em perfeita tranquilidade. O Barão de Ladário, Ministro da Marinha, era muito impopular. Era hábil, mas bastante impetuoso, e, ano passado, quando tinha que adquirir um encouraçado na Europa, ele subitamente rompeu as negociações com a companhia Marseilles e negociou com a Inglaterra.
O almirante Van den Cock [na verdade, Wandenkolk. O jornal faz um erro aqui], era o líder descontente da marinha e, enquanto Ladário tornava-se interinamente Ministro da Guerra, o descontentamento espalhou-se pelo Exército.


Deodoro da Fonseca é um general que goza de muito prestígio e é muito popular no Exército. É dito que ele é invejoso da situação do Conde D'Eu lá.
Preliminarmente, ele atraiu a atenção por sua hostilidade ao governo e dois anos antes organizara uma demonstração que ficara prestes a se tornar um motim e somente falhou por falta de organização.
Após tais distúrbios, ele caiu em desgraça e foi enviado à fronteira do Paraguay para chefiar um destacamento.
Há pouco retornou ao Rio.


O senhor Benjamin Constant não é francês, e é uma pessoa de muito pouca importância no estado.
Ele é um notável matemático, sem dúvida, seu cárater rude e sua oposição ao governo tiraram-lhe todas as chances.


Como um jornalista de oposição, poderia ter uma certa popularidade, mas não há o que explique seu estatus no governo revolucionário.


O filho do Barão de Penedo, em resposta a um outro jornalista correspondente, repudiou a teoria de um jornal de Paris que os antigos senhores de escravos haviam fomentado a revolução.


A emancipação, diz ele, ganhou simpatizantes ao Império, e foi apoiada pelos republicanos.


O movimento foi pressentido e a tenacidade e a audácia dos republicanos era bem conhecida. Mas, pensou-se que esperariam até a morte do popular imperador.


Bruxelas, 17/11:


Descobri aqui que a revolução brasileira em favor da escravatura coincide de uma maneira singular coma Conferência Anti-Escravatura de Bruxelas.
Também prova que as mercadorias ilegais são embarcadas sob a bandeira da assim chamada República do Brasil, que não está representada na conferência.




Rio, 16/11:


Uma revolução eclodiu ontem aqui. O primeiro sinal de uma iminente inssureição foi uma revolta militar, quando alguns soldados dispararam três tiros contra o Barão de Ladário, Ministro da Marinha, que caiu seriamente ferido.
Não se sabe, num primeiro momento, se o movimento fora uma mera revolta ou uma grande revolução com aspectos políticos, mas, pela tarde, tornou-se claro que nada menos era do que a deposição do governo imperial e a proclamação da república.
O ministro, achando que o Exército apoiava a revolução, renunciou, e o governo provisório ficava estabelecido.
O general Deodoro da Fonseca, que não muito antes teve de aplicar medidas disciplinares por insubordinação e que fora enviado ao comando da província de Minas Gerais, é a principal figura no novo governo, que é composto como segue:
General Deodoro da Fonseca, presidente sem palácio;
Aristides Lobo, ministro do interior;
Quintino Bocayuva, ministro das relações exteriores;
Dr. Barboza [Ruy Barboza], ministro da fazenda;
Campos Salles, ministro da justiça;
Benjamin Constant, ministro da guerra;
Contra-almirante Vander-holtz [na verdade, Wandenkolk], ministro da marinha;
Demétrio Ribeiro, ministro da agricultura.


Dentre os membros do ministério, o senhor Bocayuva, o ministro das relações exteriores, é jornalista; Dr. Barboza é membro da câmara dos deputados, que foi dissolvida, e o senhor Constant é professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro e também um jornalista democrata.


O Conselho de Estado foi abolido. A opinião pública inclina-se a favor do novo governo, e a população está quieta.
As condições do Barão de Ladário não é considerara crítica. Acredita-se que as questões sobre a futura forma de governo será submetida a um plebiscito.


Meio-dia:


O governo provisório emitiu um manifesto declarando que a monarquia foi abolida. Anuncia sua intenção de evitar quaisquer discórdias e também declara que apoios têm chegado de várias províncias do Brasil.
O antigo premiê está detido. O imperador será tratado com a maior consideração.




16 horas:


O imperador desde o rompimento da revolução está preso em seu palácio em Petrópolis. Sua majestade recebeu a notícia de sua deposição e, ao mesmo tempo, foi informada de que sua pensão [civil list] estava em andamento. O imperador replicou que só se renderia à força.


A maioria das províncias parecer ter aderido à republica federativa proclamada pelos insurgentes nesta cidade. A província da Bahia, contudo, opôs-se ao movimento revolucionário.


O ministro republicano das finanças declarou que todos os contratos feitos pela administração imperial serão mantidos.
A cidade está calma.
O mercado está paralizado atualmente.


21 horas:
O imperador e a família real sairão [do país] para a Europa amanhã.


17/11:
O imperador partiu para a Europa no vapor desta manhã.


Nova Iorque, 16/11:
Notícias recebidas pelo comércio confirmam as declarações já feitas a respeito da revolução que eclodiu no Rio de Janeiro.
Uma destas comunicações diz que a Marinha e o Exército combinados depuseram o governo imperial , enquanto outra diz que a situação é crítica e que o imperador foi deposto.


O Evening Post, em notícia proveniente de Washington, publica as opiniões de um cavalheiro intimamente ligado a políticos brasileiros. Diz que a revolução é puramente militar, e é preocupante a falta de tropas fora do Rio de Janeiro para enfrentar os rebeldes.


A Força da capital tem aproximadamente 6000 homens, e o restante do Exército 10000 espalhados pelo país.


O general Deodoro da Fonseca foi acusado de insubordinação em julho último e o Ministro da Guerra propôs levá-lo à corte marcial, mas o imperador recusou-se a deixar que as coisas tomassem este curso.


Washington, 15/11:
O ministro brasileiro aqui, em resposta às perguntas feitas sobre as notícias de irrompimento da revolução no Brasil, declarou que tinha recebido um comunicado oficial sobre o assunto. Declarou que soubera do movimento republicano no Brasil, mas era de opinião que as lutas que se passaram por todo o país foram sobrestimadas, embora fosse possível que as coisas tivessem mudados nos últimos meses no país.


16/11:
O departamento de estado recebeu um comunicado confirmando o irrompimento da revolução no Rio de Janeiro e dos ferimentos do Barão de Ladário, Ministro da Marinha, pelas tropas revoltosas.


Lisboa, 17/11:
A corveta Bartholomeu Dias está pronta para zarpar para o Brasil.


Oporto, 17/11:
O Commércio [jornal português] publica um telegrama do Rio de Janeiro afirmando que o Visconde de Ouro Preto, o antigo premiê, foi intimado a deixar o país e embarcará hoje no vapor Ralilio.

10 agosto 2008

Dia dos Pais - 2008

Meu pai, Luiz Simões, Luiz "Barbeiro", aí onde está não precisará de votos de feliz dia dos pais, pois é sua condição permanente.

Na sua vida de lutas, a balança pendeu fortemente para a recompensa, de modo que não dá para que seja mais feliz do que agora sente, pois aí correm leite e mel.

Dê um abraço apertado no meu avô - seu pai - por mim, mesmo não precisando.
Também no meu bisavô e em todos os meus vôs pelo seu lado que tenha encontrado por aí.

Como não sei se Joaquim Pedro é um meu ancestral pelo lado materno ou se é um pelo seu, de qualquer modo dê-lhe um abraço mais apertado, pois ele é herói da Guerra do Paraguai e nem todo mundo tem um familiar valente assim.

Aproveite, mesmo que ainda exista alguma birra oculta do velho napolitano, e dê um outro abraço no Antônio, pois é também um avô materno, como também em todos os vôs italianos acima dele.

Daqui a alguns anos, quando Deus assim desejar, lhe darei um abraço de saudade pessoalmente e espero que me retribua com um de boas-vindas.

Do seu filho,
Mauro

Rio de Janeiro - Méier

Você poderá ver um video experimental, apenas para teste, mas que, pelo valor histórico do lugar, vale mesmo a pena de vê-lo, mesmo que parcialmente.

15 julho 2008

Geologia Política

O Brasil vive um momento intenso e triste.

Os novos escândalos nos três poderem abafam os anteriores. A República está doente. O cansaço toma conta e os fatos já não causam mais surpresas.

Mas, enganam-se os que pensam que a repetição traz esquecimento pela saturação dos sentidos, pela aparente resignação ao que não tem jeito de melhorar.

Não se esquece; é apenas uma questão de prioridade, de intensidade.
Os novos têm sido cada vez mais fortes e esta escala concentra a atenção nos últimos.

São como terremotos, que são decorrentes de pressões enormes e não pressentidas, mas que liberam energia de uma só vez, de surpresa.

Os terremotos políticos, entretanto, dão avisos e são estes que estamos vendo.

São as placas tectônicas políticas indo de encontro a outras, armazenando energia potencial nas falhas geológicas da impunidade.

Os prédios das instituições estão apresentando rachaduras, mas me parece que são poucos os que vêem.

08 julho 2008

No Brasil nada funciona!

Não é bem verdade, o título do post. Nem sempre.

Temos grandes razões ao criticar, principalmente, as agências governamentais recém-criadas, tais como a Anatel (eu mesmo já critico esta agência há muito tempo, que nos fornece apenas uma tela de chat com as operadoras de telefonia e nada mais), a Aneel, a ANP, a famosa ANAC, que viraram apenas cabides de emprego e advogados dos poderosos, os que deveriam ser fiscalizados.

Dentre todas essas agências, quero ressaltar o bom trabalho da ANTT. Representa o respeito dos órgãos públicos para com os cidadãos. Coisa rara e feliz de se constatar.

O negócio é o seguinte. Eu fiquei p da vida com a Viação Cometa que, numa viagem de Belo Horizonte para o Rio, em ônibus de ar-condicionado, o veículo teve uma quebra na BR-40 e a empresa nos deixou na estrada por três horas.

Eu até deixaria passar o incoveniente das horas, mas o ônibus reserva que nos enviaram era velho (além de antigo), sem ar-condicionado, com um banheiro sujo.

Pus a boca no trombone e denunciei a viação na ANTT.
Passou um tempo e eu já estava pensando que não obteria nada, como nada obtive na Anatel em situações de desrespeito como esta, quando hoje me chega um mail me dando satisfação do meu apelo.

Não vou entrar na Justiça contra a Cometa, pedindo indenização, conforme o último parágrafo da resposta da ANTT, mas já fico satisfeito em ver que contribui para o bem-estar, ou quase isto, dos usuários das empresas de ônibus.

Falta eu ganhar alguma parada agora com as empresas municipais do Rio de Janeiro. Estas eu acho que vai ficar para quando eu tiver tretanetos.

Eis a resposta da ANTT:


Em atendimento ao processo administrativo nº. xxx, contra a Viação Cometa S/A, informamos que após análise do bilhete de passagem encaminhado por V.S.ª, verificou-se que a tarifa cobrada pela denunciada não está compatível com a estabelecida nos Quadros de Tarifas dos serviços, que é de R$ 72,65 (aplicando o ICMS de Minas Gerais) e não R$ 76,48. Ressalte-se que no histórico da linha há comunicação de um desconto promocional de 6% à época da emissão do bilhete de passagem.
Esclarecemos, ainda que de acordo com o inciso XIV do Artigo 6º da Resolução n.º 1383/2006, é direito do usuário receber a diferença do preço da passagem, caso a viagem se faça total ou parcialmente em ônibus de características inferiores às daquele contratado, diante disso, comunicamos, que sua reclamação (veículo inferior ao contratado), foi inserida na tabela de fiscalização, e a partir do seu registro, serão averiguadas as irregularidades denunciadas pelos usuários do transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros e realizadas diligências fiscalizatórias em função dos índices atingidos em desfavor de uma única empresa.
Assim sendo, consoante ao bilhete de passagem constante do processo em epígrafe e com amparo no Art. 66 da Resolução/ANTT n.º 442/2004, a empresa será penalizada, conforme os termos da alínea "e", inciso III, art. 1º da Resolução/ANTT nº. 233/2003, código 305: por "cobrar, a qualquer título, importância não prevista ou não permitida nas normas legais ou regulamentos aplicáveis".
Finalmente, esclarecemos que o pedido de ressarcimento ou indenização por danos é um assunto da alçada do Poder Judiciário, que extrapola a esfera administrativa e foge à área de atuação desta Agência. Portanto, faz-se necessário procurar os órgãos com competência sobre a questão, PROCON e/ou Juizado de Pequenas Causas, pois, ainda que seja aberto o processo formal nesta Agência, ele versará sobre os aspectos operacionais da prestação do serviço, não podendo entrar no campo das indenizações.
Agradecemos à colaboração e colocamo-nos à disposição para demais esclarecimentos que se fizerem necessários.
Atenciosamente,
Ouvidoria da ANTT
GECOP/ANTT

06 julho 2008

O instante decisivo

Centro Cultural Banco do Brasil - 100 anos de Japão - 2008

Estive estudando, mais uma vez e sempre, os trabalhos dos grandes fotógrafos.
Cartier-Bresson, Werner Bishof, Rene Burri, Richard Kalvar, enfim a Magnum é minha referência.

Comprei uma câmera compacta para dar de presente a uma menina que entra na adolescência.
Saí, ontem, pelo Rio a fotografar várias cenas, o que aparecesse, mas sempre com os mestres na cabeça, a fim de experimentar a câmera a dar de presente e ter experiência com o equipamento para ensiná-la posteriormente.

Acredito ser a fotografia uma das portas de entrada para o mundo, pois através dela temos de prestar atenção no que é enquadrado pelo visor e dar nossa contribuição ao resultado. Neste esforço, tornamos-nos ativos e não simplesmente viajantes do tempo inútil. Creio ser um bom presente.

Noto que meus preferidos têm uma tendência aos grandes contrastes, no que se refere à parte plástica da produção fotográfica e, sobretudo neste campo, o da qualidade da imagem retratada, o foco mais especificamente.

Mas a qualidade da foto depende não só da habilidade do fotógrafo, mas creio que mais e profundamente à qualidade do equipamento, além de uma boa revelação e cópia, no caso das câmeras de filme. Mais diretamente, uma boa lente, uma boa foto, é o que depreendo.

Bresson preferia a Leica, peça de museu aquela, a do modelo do grande fotógrafo, embora a marca seja ainda fabricada. As primeiras possuíam lente de primeira qualidade, mecânica robusta, montagem esmerada. Hoje, é fabricada pela Panasonic sob o apelido de Lumix e é montada na China e é com esta que testo o presente a ser dado.

Nada a temer da habilidade chinesa, mas os alemães tinham muito cuidado e sendo eles os mais reconhecidos 'mecânicos' do mundo, não há como comparar uma produção artesanal nos tempos dos primeiro trabalhos de Bresson com a de hoje.

O triste disto é que, por exemplo, Gerhard Strauss, um conhecido meu da Alemanha, diz que por lá só compram máquinas japonesas, montadas talvez também na China, e que a Leica não vende mais naquele país: renderam-se ao Japão.

Eu gostaria de ter uma Leica mas, mesmo que tivesse uma jóia do início do século XX, não mais adiantaria, pois seria de filme e isto implica em muito mais coisas além da qualidade da foto capturada: os laboratórios de filme estão desaparecendo e os que existem são todos mecanizados, preparados para a quantidade e longe do melhor resultado.

Resta-nos as novas, digitais, de grande qualidade. Resta-nos desembolsar muito dinheiro para elas, mas isto sempre foi assim, mesmo com as de filme naqueles tempos dourados.

Para os brasileiros, sempre é tudo muito caro. Não fabricamos mas somos punidos com os impostos de importação, que, por esta barreira, deveria estimular a produção, pesquisa, mais tecnologia da indústria óptica brasileira, mas, como sempre, isto não acontece, e os impostos ficam apenas como pretexto de arrecadação, que não é pequena.

Acresce-se a isto a crítica que fazem os saudosos dos filmes, e entendidos do assunto, que a qualidade da película é ainda a melhor.
Acredito ser questão de tempo a forma digital superar o filme - tudo nesta vida passa -, até uma nova tecnologia no futuro vier substituir o que é novo hoje.

Vou registrar aqui, para futura comparação e curiosidade sobre este momento que um dia será passado distante: as minhas câmeras sonho-de-consumo de hoje são a Nikon D40 ou Canon EOS Rebel. Digitais.


Mas, por outro lado, também quero deixar patente que a Canon A430, compacta, modesta, é uma senhora câmera, melhor que qualquer outra feita por aquela indústria japonesa no seu nicho de mercado. Quer conferir? Acesse o site da Márcia Calixto e veja por si mesmo.

Voltando ao assunto iniciado lá em cima, ontem, andando pelo centro, tentei imitar os fotógrafos citados e fiz algumas fotos, como esta do blog.

À maioria achei que não ficou ruim; não, mas admito que preciso de mais técnica.

Esta foto foi feita com a Panasonic Lumix LS75, de 7,3 megapixels, lente Vario.

Seremos respeitados no futuro

Eu fico imaginando, às vezes, se moro no planeta Terra ou no Marte. Vejo coisas ruins que são inacreditáveis, embora simples, simples de serem evitadas.

Ontem fui ao Maracanã ver meu time do coração jogar. Foi bom. Ele venceu de 3 a 0, e afastou o Náutico dos primeiros lugares, posição que reserva para si há cinco rodadas.
Este ano, o Flamengo vai muito bem na tabela do Campeonato Brasileiro. Acumula 22 pontos, coisa que não via há décadas, se não me falha a memória.

Mas não é inacreditável o Flamengo ganhar e nem de estar na primeira colocação na tabela. É sobre o Maracanã.

Estamos no século XXI e o respeito às pessoas parece, no Rio de Janeiro, não ter chegado ainda por aqui, basta você querer comprar uma entrada para assistir a um espetáculo neste estádio-ícone do futebol mundial.

A primeira coisa, as bilheterias não têm placas avisando o tipo de ingresso que você poderá comprar nelas, pois cada nicho tem sua finalidade. O da esquerda de tudo vende entradas para as arquibancadas de cor branca; o imediatamente à direita deste, só vende arquibancada verde ou amarela.
Não teria grande importância isto, caso o torcedor tivesse a informação no guichê, embora um deles tenha um fila inexplicável e outro apenas com o atendente pressentido por detrás das grades, pois não lhes vemos o rosto. Logicamente, o usuário-torcedor vai, por sugestão, à fila maior, pois imagina que onde há quantidade é maior a vantagem e chega à boca do guichê para descobrir que o que ele pode pagar ou deseja não é ali, mas umas tantas janelinhas à direita ou à esquerda.

Um problema maior, infelizmente, existe e este é o ponto inacreditável: o guichê está, rigorosamente, a 45 cm do chão. Isto mesmo. Você leu certo. Um anãozinho teria de se curvar levemente para comprar sua entrada.

Para se comprar uma entrada, tem de se ajoelhar e penitenciar-se ao escárnio da Suderj (que me perdoe parcialmente a Suderj, se não for com ela isto).

É ridículo e aviltante ver-se homens barbados genuflexarem-se diante do poder público. Mais um, aliás.

É a síntese deste nosso feliz Brasil. Feliz por natureza, mas que, constantemente é vilipendiado, pisado, chacoteado pelos dirigentes, em todos os níveis que o cidadão trata com o estado.

Mas o brasileiro, este sofredor da torcida Brasil, está acostumado com isto. E esta é a tragédia maior.

Uma placa, grande, à entrada do estádio faz a propaganda da final da Copa do Mundo de 2014. Pelas exigências da Fifa, certamente fará obras e, após esta interferência externa, é bem provável e quase certo que aquela organizadora do futebol mundial não irá aceitar tal coisa.

Aí, no futuro, a contragosto da CBF, SUDERJ e não sei de quantas siglas outras mais que compõem o estado brasileiro, seremos cidadãos.


Flamengo 3 x 0 Náutico - 05/07/2008

20 junho 2008

Eliot Beltrame Ness

Uma letra de Raul Seixas diz, em uma de suas músicas, 'Hei, Al Capone Vê se te orienta Assim dessa maneira nego Chicago não aguenta'.

Poderíamos substituir Al Capone por criminosos. Assim, no plural.

Mas somente quando o Rio de Janeiro (nós, na verdade, os cidadãos) se cansar de tropeçar em cadáveres, tal letra não fará mais sentido.

16 junho 2008

Brasil made in Paraguay

Paraguai 2 x 0 Brasil. Paraguai com 10 jogadores.

Desde os tempos de Zagalo, a quem se atribui valores de estrategista dos quais não compartilho, vimos que a dupla Robinho e Diego não rende absolutamente nada.

Robinho é sinônimo de galhofa, desde o tempo em que participou como novato das eliminatórias das Olimpíadas, anos atrás.
Naquele episódio, o clima de descontração no hotel em que se hospedavam foi incompatível com a seriedade que se exige no futebol. Comportamento de todos, mas o que a imprensa flagrou, dentre muitas molecagens, estava lá a tal dupla do vexame nas partidas.

Diego parece ter aprendido, amadurecido, mas seu futebol ainda não se tornou rosado, indicativo de boa fruta para consumo, mesmo que o pomar do futebol produza apenas frutos para o deleite dos olhos; Robinho está longe disso, no espectro da brilhante cromatologia do bom futebol. Continua moleque.

Na Copa do Mundo de 2006, em Neuchatel, colônia de férias aclimatadora de nossos milionários 'craques', novas brincadeiras. De marcante, Ronaldinho Gaúcho foi 'atacado' por uma torcedora, que se embolou com ele no meio do gramado, durante um treino-show da seleção brasileira. O resultado foi o que vimos e o sonho do hexacampeonato parou nas meias do Roberto Carlos.
Robinho? Estava lá, apareceu rindo no campo do treino-show, na desconcentração de Neuchatel.


Até gostaria de saber o porquê da convocação de Robinho.
Você aí, que me lê, me diga um lance que tenha ficado na sua memória, que justifique a contratação desse projeto de jogador. Se me disser apenas um já ficarei satisfeito.
Se você me disser que foi uma pedalada consagradora que ele deu em cima do Rogério, naquele tempo no Corinthians, em um jogo contra o Santos, não acha que é muito pouco?

Acho que você acha sim.

Mas, embora eu tenha dito que não sabia o porquê da convocação, retifico e digo que sabemos.

Tudo se chama patrocínio.
A CBF recebe um bom dinheiro da Nike, que patrocina o Ronaldo, por exemplo.
E se lembram da copa de 1998, quando Ronaldo teve aquela 'convulsão' e foi escalado mesmo assim, o garoto-propaganda?
A reciprocidade exigida da CBF fez-se valer.

Adivinhe agora por que Robinho joga na seleção brasileira.

11 junho 2008

Para anotar junto ao título de eleitor no Rio de Janeiro

Do blog do Ancelmo Góis, de O Globo, relação dos deputados do Rio de Janeiro que votaram a revogação da prisão de Álvaro Lins, ex-delegado, ex-chefe de polícia do Rio de Janeiro, acusado de ser mandante de crimes:

Votaram a favor da libertação:

1 - Alessandro Calazans PMN
2 - Anabal PHS
3 - Aparecida Gama PMDB
4 - Atila Nunes DEM
5- Audir Santana PSC
6 - Beatriz Santos PRB
7 - Chiquinho da Mangueira PMDB
8 - Coronel Jairo PSC
9 - Délio Cesar Leal PMDB
10 - Dica PMDB
11 - Dionisio Lins PP
12 - Domingos Brazão PMDB
13 - Dr. Wilson Cabral PSB
14 - Edino Fonseca PR
15 - Edson Albertassi PMDB
16 - Fábio Silva PMDB
17 - Geraldo Moreira da Silva PMN
18 - Gerson Bergher PSDB
19 - Glauco Lopes PSDB
20 - Graça Matos PMDB
21- Iranildo Campos PTB
22 - João Pedro Figueira DEM
23 - João Peixoto PSDC
24 - Jorge Babu PT
25 - Jorge Picciani PMDB
26 - Luiz Paulo PSDB
27 - Marcelo Simão PHS
28 - Marco Figueiredo PSC
29 - Marcus Vinicius PTB
30 - Mario Marques PSDB
31 - Natalino DEM
32 - Paulo Melo PMDB
33 - Pedro Paulo PSDB
34 - Rafael Aloisio Freitas DEM
35 - Rogerio Cabral PSB
36 - Ronaldo Carlos de Medeiros PSB
37 - Sheila Gama PDT
38 - Sula Do Carmo PMDB
39 - Tucalo PSC
40 - Waldeth Brasiel PR

Votaram contra:

1 - Alcides Rolim (PT)
2 - Alessandro Molon (PT)
3 - Cidinha Campos (PDT)
4 - Comte Bittencourt (PPS)
5 - Fernando Gusmão (PCdoB)
6 - Flavio Bolsonaro (PP)
7 - Gilberto Palmares (PT)
8 - Inês Pandeló (PT)
9 - Marcelo Freixo (PSOL)
10 - Nilton Salomão (PMDB)
11 - Olney Botelho (PDT)
12 - Paulo Ramos (PDT)
13 - Rodrigo Neves (PT)
14 - Sabino (PSC)
15 - Wagner Montes (PDT)

Faltaram à sessão:

1 - Alair Correa (PMDB)
2 - Altineu Cortes (PT)
3 - Alvaro Lins (PMDB)
4 - André Corrêa (PPS)
5 - André do PV
6 - Armando José (PSB)
7 - Graça Pereira (DEM)
8 - Jodenir Soares (PTdoB)
9 - José Távora (DEM)
10 - José Nader (PTB)
11 - Marcos Abrahão (PSL)
12 - Nelson Gonlçalves (PMDB)
13 - Pedro Augusto (PMDB)
14 - Roberto Dinamite (PMDB)
15 - Zito (PSDB)

04 junho 2008

Dessegurança pública

O Coronel Jairo, deputado estadual do Rio de Janeiro, vice-presidente da ALERJ, segundo a imprensa, está sendo acusado pela polícia de ter, entre seus assessores, alguém de apelido Betão, que estaria diretamente envolvido no seqüestro e tortura de jornalistas do jornal O Dia na favela do Batan, em Realengo, em 14/05/2008.

O deputado nega, como fazem todos os culpados e inocentes e como de costume na política brasileira. É direito deles dizerem o que bem entendem.

Como defesa, Coronel Jairo diz que não tem tal assessor e que também nem vai à comunidade de Batan, pois 'é perigoso', embora grande parcela de seus votos tenham vindo de lá, segundo também a imprensa.

Esta fala do deputado me lembra a de um outro representante do povo, há muitos anos. Um general reformado, secretário de estado de segurança pública de um governo de que já não me lembro mais.
Naquela vez, o assunto era o assassinato de vários torcedores paulistas que, ao quererem voltar à rodovia Presidente Dutra, erraram o caminho e entraram numa favela na Avenida Brasil, onde foram mortos por traficantes, que imaginavam uma invasão de outros.

Como desculpa, o de triste memória general, disse palavras tais - não exatamente - como:

- Todos sabemos que não se pode entrar lá... Como foram entrar assim?

Naquele dia, há mais de dez anos possivelmente, percebi que o estado brasileiro havia perdido o controle sobre a aplicação de leis. Naquele dia, instituía-se um poder político paralelo, sem constituição escrita, mas com uma carta-magna fundida em chumbo.

Hoje, lá, as milícias expulsaram os traficantes, mas somente para tomar o poder territorial.
Nada mudou, a não ser a mão que aplica a violência.

Como dantes, os representantes do povo continuam a respeitar o novo país criado pela ausência do estado brasileiro, cujas fronteiras políticas, limítrofes ao Brasil, são traçadas com uma linha vermelha, coagulada pelo tempo.

Um dia acaba. Não há mal que sempre dure.

03 junho 2008

O valor das coisas

Eu passei pela porta de um dos poucos cinemas que ainda existem fora das quatro paredes de um 'shopping' e fiquei pensando há quanto tempo eu não ia a um cinema. Não soube dizer quando; só sei que faz mais de ano. Talvez mais de dois.

E eu, que gosto muito de cinema desde que me entendo por gente a ponto aspirar ser um profissional da área, por que esse aparente desinteresse?

Uma das possibilidades era o preço do ingresso; outra, a segurança, a favor e contra, avaliando-se os cinemas em 'shoppings' e os de 'porta de rua'; uma outra, a qualidade dos filmes.

Fico com esta última.

Nas leis econômicas, há o conceito de preço e o de valor. Preço é quanto se deseja cobrar por alguma coisa, ou pagar, dependendo de sua posição como um dos intervenientes no negócio; valor, é o que as forças econômicas dão como resposta à satisfação desejada por ambas as partes.

Suponhamos que haja apenas três pessoas no mundo: você, uma outra pessoa física e uma pessoa jurídica.
No nosso cenário, o objeto de desejo das pessoas físicas é um automóvel. Você deseja adquirir um automóvel, por exemplo, por R$ 1,00. A montadora quer vendê-lo por R$ 100.000,00; o mesmo veículo material.

Seu concorrente, entretanto, se dispõe a pagar R$ 30.000,00, o que lhe tiraria da competição.

Pelo outro lado, a montadora, à falta de outros interessados, baixa seu preço para R$ 30.000,00 e, assim, estabelece-se o valor.

Ou seja, valor depende de duas ou mais pessoas; depende do mercado. Preço? É somente um referencial, um ponto de apoio sobre o qual o consumidor/fornecedor se candidata à satisfação de seus anseios consumistas.

Portanto, valor é o preço que satisfaz a todos os agentes do negócio.

Mas, para que tudo isto?

A causa de minha ausência das salas de cinema, e a de muitos, na minha percepção, é o valor dos filmes.
O preço é caro, pois não traduz o valor que deveria satisfazer a ambas as partes; atenderia, possivelmente, a Hollywood, mas não a mim. E acho que a muita gente. Parece-me evidente que os cinemas não andam lotados. Já, já, terão de, pelo menos no Brasil, baixar o preço, a fim de satisfazer a vontade de faturar e a vontade de consumir.

E por quê?

A verdade é que a qualidade dos filmes não justifica o preço de entrada.

Antes, os filmes tinham encanto. Neles, buscava-se o sonho, a ilusão ou a diversão às durezas da vida. Transportávamos-nos à tela e nos vestíamos de personagens fascinantes.

Com o advento das técnicas voltadas exclusivamente à plástica móvel, os tão-falados efeitos especiais, os grandes estúdios retiraram, à revelia dos expectadores - e hoje apenas espectadores -, a essência da magia, que era o desnude do personagem, o de nossa empatia onírica.

Através da construção, dedução, do anseio, da busca pelo eco de nossa própria personalidade em comparação à do protagonista do filme escolhido, tínhamos o prazer detetivesco de nos descobrirmos.

O moderno detalhamento de efeitos, de precisão sub-atômica na qualidade da imagem, fez com que os produtores se sentissem descompromissados com a qualidade emocional das novas películas, de tocar o nosso espírito, roçar nossa sensibilidade através de uma obra emocionante do ponto de vista humano.
Há robôs amiúde, máquinas demais, monstros em excesso; e humanidade de menos.

Não obstante, como novidade, valeram bastante as pirotecnias iniciadas com Guerra nas Estrelas, de George Lucas, em 1977, mas o ciclo terminou com Titanic, de James Cameron, exatamente vinte anos após a trilogia espacial.

Poderíamos pensar que o cinema perde em interesse diante das facilidades de se ver um filme sob as cobertas com a amada - vizinha de cotovelo -, com pipoca e guaraná - além da facilidade de se congelar o DVD para fazer otras cositas más...

Mas não é.
Seria, caso o sabor que se obtém de um bom filme fosse determinado pelo meio de reprodução, se em celulóide ou pelo hermético plástico da mídia circular, digital.

Não. Por sua natureza gregária, o homem precisa de mais.

A sala de cinema é um evento social e, portanto, multiplicador de sensações. Se riem, nos perguntamos o que foi que perdemos para não acharmos tanta graça; se rirmos e eles não, por que pagamos mico por sermos simplórios?; se acharmos graça todos juntos, que satisfação por estarmos integrados e convivas!

Há muito que não nos oferecem isto.

Infelizmente, não é uma doença apenas da sétima-arte, não; vejam os livros em profusão que falam da gente da ásia central.
A maioria trata de temas que prometem a mística do oriente, mas nem de longe trazem à luz inovações que possam raspar os contos das mil e uma noites. São, via de regra, imediatistas, superficiais, verdadeiras máquinas caça-níqueis.

Cá, em terra brasiliensis, há os livros de auto-ajuda que, por excesso, não mais ajudam quem os escreve, pois fica difícil vender quando há a quantidade absurda de títulos sobre o tema. Todos querem ganhar dinheiro facilmente, inclusive quem compra os que tratam de conselhos financeiros.

Nas diversas faces da literatura, acho que por volta de 2000, Paulo Markun, por exemplo, publicou uma pseudo-biografia de Anita Garibaldi. Por falta de material e por excesso de interesse financeiro, Markun publica a biografia de Giuseppe Garibaldi e diz que é de Anita, para nos enganar. Me enganou pela metade, pois outra pessoa comprara o livro. Ruim para ambos, entretanto.

Paulo Coelho, por sua vez, segue ganhando muito: bom para ele.

Enfim, meus amigos, digam-me: encontraram arrebatamento a preço mesmo irreal? Degustaram um bom filme nos últimos anos? Um bom livro? Emocionaram-se com alguma obra cinematográfica? Leram algo que realmente, ao fechar a última página, lhes deixassem com o olhar perdido, ainda vagando nas pradarias das folhas deixadas para trás?

Se tiveram tais momentos, ótimo! Espero estar errado aqui, de cabo a rabo.

E, por favor, me informem!

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28 maio 2008

Nostradamus


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Manhã amazônica.

O rio e o céu olhavam-se; dois Narcisos perdidos da Grécia a intercambiar olhares e suspiros apaixonados; o céu na água e o rio no céu, traduzidos em torvelinhos e nuvens; remansos e correntes, entrelaçamentos discretos, enlevados, embevecidos numa assexuada fusão de seus corpos naturais até a linha do horizonte.

Àquela hora da manhã, apenas os remos do barco fendiam o silêncio manso e preguiçoso das primeiras horas. Algumas poucas nuvens altas, e suas réplicas flutuantes na correnteza sutil da obesidade grávida das chuvas recentes, refletiam a luz do sol com a intensidade de poderosos a ter, nos primeiros movimentos estudados e avaliadores de estratégia de ataque, intenção preguiçosa de luta; eram dois gigantes a se medirem sem empenho.

As sombras das árvores, agora mais próximas, lançavam tintas - negras de luz - na água, reforçando, por contraste, a qualidade, a limpidez do rio em época de cheia generosa.

John Mackenzie embicou a canoa de alumínio para a margem mais próxima; lançou a garatéia, fixou-a num galho baixo e puxou o conjunto para a imobilização completa.
Saltou para a água rasa, chapinhou na direção da terra firme; arquejou sob o peso da mochila.

Vistoriou o terreno, desceu o volume no chão, desenlaçou o cordões que o fechavam e retirou a carga explosiva. Ativou o aparelho GPS, reviu as coordenadas e tornou a fechar a tampa. Destravou o visor, pressionou os botões de controle e marcou o tempo de explosão para dali a duas horas, tempo suficiente para se afastar com segurança.

Voltou ao barco e digitou no telefone de tecnologia espacial os números da base.

- Na posição! - disse, desligando.

Afastou-se, remando firme e ritmadamente.

Duas horas decorreram-se até que as primeiras fumaças manchassem o céu azul e, mesmo àquela distância, as primeiras labaredas apareciam no ar e ocultavam-se por detrás das grandes árvores como línguas rápidas e vermelhas.
Fogo a floresta enfrentara, desde a criação do mundo, muitos por ação do homem ao aplicar técnicas agrícolas primitivas para plantio de soja. Mas desta vez era diferente.

Mackenzie pensava no que ajudara a começar trinta anos antes. Muita coisa acontecera depois daquela primeira bomba incendiária.

Tomou um gole de água cristalina e refrescante. Fazia muito calor naquele mês de janeiro. Deu um suspiro longo.

...

- Eih! Acorda, Mackenzie... Dormindo acordado?

Paul Strudd, colega de Mackenzie, acabara de chegar sem fazer ruído. Agente de longa data na CIA (Central Intelligence Agency, dos Estados Unidos) como ele, não se importava senão com o cumprimento das ordens, sem entrar no espírito sobre a justiça das missões.
Obedecia, como todo bom soldado. Pago para ser apenas braços e pernas a serviço de vários cérebros remotos.
Paul também estivera naquela ação e também pusera outras bombas, coordenadas pelo Centro de Inteligência.

Mackenzie ignorou Strudd momentaneamente, embora tenha feito um sinal quase imperceptível para que se sentasse.

...

Aquele incêndio fora o primeiro de muitos a levar o caos à independência política do Brasil do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eleito anteriormente - duas vezes! - com milhões de votos por uma população ávida por mudança no sistema político arcaico, medieval, de sucessões verticais, familiares, hereditárias.

Tempos depois, o presidente viria a ser alvo de muitos críticas por aqueles que o elegeram e que se sentiram traídos, acusando-o de bandear-se para o lado dos conservadores.

Uma das razões pelas quais a CIA e outras agências coligadas tiveram sucesso na empreitada deveu-se ao excesso de confiança que, sem base na realidade, o Brasil daquele presidente reservara para si.

Para a CIA, o trabalho de desestabilizar o poder constituído não fora grande, diante dos improvisos e do amadorismo com que o sangue quente latino estava acostumado a tratar as coisas de ressonância internacional, negligenciando os movimentos crescentes e declarados das carências de energia e de água, preferindo o ufanismo às ações concretas para despontamento como um novo fornecedor mundial. E o Brasil poderia ter sido esse provedor independente.

O Congresso brasileiro, atuando contra seus próprios interesses, lutara entre si pelo poder interno, favorecendo por esta divisão a entrada de forças estrangeiras - primeiramente através do capital especulativo via Bolsa de Valores - com a vantagem de juros astronômicos que nenhum outro lugar no mundo retribuía. Assim, adquirindo ativos em território brasileiro, o BAN pôde consolidar-se em vários ramos da indústria, paralisando-a quando julgou necessário para sufocar as iniciativas de construção e reposição de material bélico.

De fato, uma bomba-relógio fora armada ao longo dos séculos por uma humanidade perdulária, inconseqüente, e posta ao colo dos brasileiros.

Sem perceber o perigo, as lutas internas, partidárias, desviaram a atenção dos integrantes do estado brasileiro para fatos distantes do próprio interesse nacional, da soberania e precipitaram os acontecimentos a favor do Bloco Atlântico Norte (BAN), que invadiu o território brasileiro num piscar de olhos, como os Estados Unidos fizeram no Iraque em março de 2003.

O BAN surgira na esteira filosófica da Comunidade Econômica Européia e do NAFTA (Tratado de livre comércio da América do Norte), criados anos antes, mas o novo centro político não se restringia a nenhum dos continentes de origem.
Constituíra-se numa Pangea política, drenando influência do hemisfério Norte e irradiando-a para o mundo inteiro.

Como antes na História, o plano invasor orquestrado pelas agências de inteligência governamental do bloco, o apoio internacional estava concentrado em um único quartel-general; muitos contra um. Como entre o Tigre e o Eufrates, coisa ainda recente na memória de todos, os fatos se repetiam.


Seguindo as primeiras e muitas outras ações incendiárias que mostraram ao mundo por esta medida artificial a inépcia dos governantes sul-americanos em controlar o que de súbito fora requisitado como patrimônio da humanidade - e pleiteado principalmente pelos países do BAN -, tropas infiltraram-se pouco a pouco ao longo dos limites do lençol dágua subterrâneo - o famoso Aqüífero Guarani - recurso mineral tal como o petróleo, de origem única e não renovável, de água doce, límpida, de excelente natureza, muitíssimo mais importante -, que se estendia por todo o Brasil central e meridional.

A movimentação das tropas através dos anos foram, primeiramente, disfarçadas em intercâmbio técnico militar nos países limítrofes ao Brasil, enquanto alguns integrantes permaneciam nos territórios com documentos falsos após os supostos exercícios.

Os homens treinados foram assim mantidos nos lados paraguaio, argentino e uruguaio, prontos para entrar em ação à primeira ordem do BAN, em perfeita sincronia entre os grupos para não despertar suspeitas ao Brasil.

Quando a incursão militar irrompeu, as largas fronteiras brasileiras, principalmente as desenhadas junto ao Paraguai e Bolívia, cujos governos litigiavam as questões energéticas hidráulicas e de gás natural, nas pessoas dos presidentes Fernando Lugo e Evo Morales, respectivamente, forneceram os pontos de acesso que surpreenderam as tropas desatentas brasileiras, carentes de recursos financeiros, técnicos e de material de guerra atualizados, contaminadas e dispersivas pela politização dos militares que jamais engoliram o fracasso de sua administração no campo político após o golpe apoiado pelos Estados Unidos, em 1964.

Do outro lado do mundo, paulatinamente e definindo-se claramente na década de 2030, esgotados os óleos fósseis para queima após sucessivas desacelerações industriais na criação de veículos movidos à gasolina e diesel, a tensão no mundo árabe deixou de vez a questão sionista-palestina para concentrar-se nas lutas internas pela necessidade de uma saída para a inutilidade daquela terra para a agricultura em grande escala.

A falta do óleo natural, dadivoso e explorado à exaustão, que não mais lhes davam condições de existirem como nações independentes e auto-suficientes no tradicional método de produção despreocupado e centenário, fê-los 'acordar para um pesadelo'.

Por um tempo, às primeiras privações, as populações do norte da África e da Ásia central migraram quase que como opção individual; mais tarde, massiva e descontroladamente, amontoaram-se nos países vizinhos, para o leste e para o sul, perturbando os históricos e precários equilíbrios geopolíticos das regiões.

Alterado dezenas de anos antes, o mundo percebeu claramente o que já sabia: o valor incalculável da água.

No início das migrações, a dessalinização das águas do mar veio como uma solução desesperada e sofrível, passando a requerer progressivos e massivos recursos financeiros,

que, drenando rapidamente os tesouros governamentais, fizera o método perder a eficicência e a razão de ser, o que ensejou o abandono de sua utilização.

As nações receptoras, hospedeiras forçados e incapazes de controlar sua própria gente, recebiam grandes grupos esfaimados, os quais as levaram ao vórtice iniciado quase que silenciosamente - embora perfeitamente marcado - na alta dos preços do petróleo trinta anos antes, por volta de 2008.

O mundo árabe sucumbiu definitivamente e seus povos juntaram-se aos africanos do norte e centro-africanos, tradicionalmente combalidos pelas guerras tribais da cobiça por petróleo e diamantes, dezenas de anos a fio, formando uma grande massa desesperada a vagar em trapos e macilentas pelas cidades inchadas.

Como gafanhotos ávidos, repelidos e sem saída, mudaram sua jornada para o Norte, do outro lado do Mediterrâneo, de onde foram rechaçados pelas armas dos países industrializados, que, por sua vez e de muito tempo antes, haviam limitado a entrada de estrangeiros que já não mais lhes serviam nas tarefas consideradas menos importantes.

Os conflitos se espalharam. Na vizinhança do sul da Europa, após alguns graves embates entre imigrantes e cidadãos, o alarme soou e o BAN nasceu de um dia para outro.
O bloco, percebendo a crescente deterioração da ordem mundial, teve a iniciativa de tomar para si o Aqüífero Guarany e também a Amazônia, a fim de garantir para os povos do Atlântico Norte a última reserva natural.

O mundo mudara para sempre e o centro político agora tinha o seu foco na América do Sul.


O etanol de cana-de-açúcar rapidamente forneceu energia do movimento ao mundo e a antiga OPEP - organização dos produtores de petróleo -, naturalmente sem ter do que tratar, desapareceu, substituída pela WEO - World Ethanol Organization - com sede no Rio de Janeiro e controlada pelo BAN.

Embora os confrontos bélicos não tivessem exigido todo o poder de fogo tecnológico do bloco, houve milhares de mortos no lado dos brasileiros, levando o país a transformar-se numa república vigiada, parlamentarista, onde o presidente era um brasileiro para efeitos apenas cosméticos e o primeiro-ministro indicado pelo bloco.

Os americanos e ingleses iam e vinham sem a necessidade de vistos em seus passaportes, o que não era concedido às demais origens. O controle alfandegário era severo.

À Venezuela, antigo produtor mundial de petróleo, foram enviados vários contingentes militares como grupo de paz, a molde do Haiti nos primeiros anos do século XXI, na verdade para evitar a entrada no país via fronteira de gente não desejada.
A fome alcançara Caracas, assim como a praticamente todos as outras capitais do Cone Sul.

O Aqüífero Guarani passou a fornecer água para o mundo inteiro, tanto in-natura quanto como veículo a cervejas, refrigerantes e outras apresentações alimentares, fazendo com que a linha dos lucros no gráfico do bloco disparasse ao vértice superior.

Enriquecendo-se rapidamente, o BAN entraria num novo projeto de irrigação no norte da África, aplicando técnicas desenvolvidas em laboratórios a céu aberto do Nordeste brasileiro a custo mínimo, pela oferta generosa de mão de obra nacional e também da importada dos demais países sul-americanos.

- Vamos? - disse Mackenzie.

John Mackenzie pôs o paletó e deu passagem ao amigo Paul Strudd.
Deixou alguns ethano-dólares na mesa e ambos atravessaram as pistas da Avenida Atlântica em Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil, em direção às instalações de banho com chuveiros de água mineral do Aqüífero Guarani.

Mais tarde, conversariam sobre o que fazer com a Antártica.

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