
Por força de Hollywood, nestes tempos de colonização maciça via cinema e internet, é bem capaz que um aluno do primeiro grau vá dizer que são os americanos, de tanta propaganda que estes fazem.
Mas, ao divulgarem os fatos, os do norte sabem muito bem que não aconteceu como foi contado.
Pressinto que, na calada da noite, também duvidam que foi feito.
Mas como costumam ganhar no grito tudo que é de sua conveniência, seguem a vida assim. Cabe a nós separar o joio do trigo e resistir.
É o que faço. Aqui vai mais uma reportagem passada no tempo exato dos acontecimentos. Não há, mesmo dentro das possibilidades fracamente isentas de qualquer imprensa, interpretações romantizadas pelo tempo decorrido.
Perdão aos amigos, pela péssima tradução, mas estou com preguiça de pesquisar o verdadeiro sentido das frases e expressões. É muito cansativo.
Serve apenas para fazer com que gastem menos tempo, se quiserem ler o artigo abaixo. Se não quiserem, podem ir diretamente para http://archive.timesonline.co.uk/tol/archive/ e fazerem seus cadastros gratuitos lá e lê-lo no original.
Deu no The Times, em 23/07/1908, uma quinta-feira, conforme abaixo, em itálico:
Uma curiosa mudança de opinião é notada na França, em relação aos irmãos Wright. Seus experimentos com o vôo artificial, executados nos Estados Unidos em 1903-1905, foram recebidos com uma dúvida quase universal. Na ausência de testemunhas conhecidas, os céticos não poderiam admitir que um resultado tão espantoso como um vôo de 38956 metros em 38min e 3 segundos pudesse realmente ser feito em 5/10/1905.
Expressam surpresa pelas evoluções aéreas não terem sido fotografadas e mencionam que Springfield, cenário dos experimentos, tem aproximadamente 48000 habitantes, o que parece [muito] estranho [não saberem] o que estava acontecendo em seus arredores. Por outro lado, seria [coisa um tanto] forçado, pelos poucos apoiadores dos Wrights, que não teriam nada a ganhar, impor uma fraude científica ao mundo [comentário meu: a não ser ganhar notoriedade, o que não é pouco]. Até 1903, [ os irmãos Wright] tinham considerado a aviação como esporte, mas desde aquela época têm estado desejosos de tirar dela algum lucro. Naturalmente assim, mantiveram os detalhes de sua máquina secretos até o tempo em que se pudesse vendê-la. Em conseqüência, tendo uma combinação de invenções anteriores, poderia não ser fácil patenteá-la, e estavam justificadamente apreensivos que uma inspeção rápida poderia ensejar a sua cópia por um aeronauta experiente.
Ademais, foi argumentado que os Wrights têm um passado científico. Eles vinham trabalhando no problema do vôo desde 1900, e ninguém duvida de seus vôos planadores. Suas medidas de velocidade e duração de vôo foram feitas com instrumentos de precisão, por métodos que suas registros mostram serem completamente científicos. Se os detalhes precisos são ausentes, a culpa deve cair na natureza prática do caráter americano, que mostra pouco entusiasmo ou curiosidade em assuntos que não podem de imediato tornarem-se objeto de negociação. [Outro comentário meu: é muita forçação de barra acreditar nisto. Eles usavam instrumentos de precisão, mas não fotografavam?] [Ainda pensando em objeção], por que não levaram sua invenção ao governo? A resposta era que o governo poderia não querer comprar uma máquina incapaz de ser patenteada e que poderia ser impossível de se manter sob monopólio.
Finalmente, a atenção foi direcionada aos testemunhos dos fazendeiros de Springfield, sob inquérito promovido pela Scientific American e pelas declarações do Sr. Octave Chanate, que garantia que seus eminentes alunos são homens respeitáveis. [Mais um outro pitaco meu: Ridículo para servir como prova].
Estas discussões poderiam ter continuado, se o senhor Wilbur Wright não tivesse chegado à França, em 31 de maio último, a fim de executar o programa promovido pelo senhor Lazare Weiller.
Em conseqüência, o exército de céticos, com a exceção de poucos são-tomés, aderiu ao grupo dos que acreditavam.
O senhor Wright continuou a trabalhar com seu aeroplano, com o qual fazia experimentos no curso deste mês na presença do Comitê Weiller.
Pode já ter sido dito que num sentido ele tinha autenticado seus resultados em 1905, ao assinar um contrato que estipula que receberá 500.000 francos por suas patentes, se no curso de uma semana fizer dois vôos mecânicos de 50 quilômetros cada um, retornando ao ponto de partida, com o aeroplano transportando duas pessoas, embora uma delas possa ser substituída a sua vontade por um saco de areia de igual peso. Esses vôos serão executados sobre a pista de corrida de Mans.
O piso lá, ainda que reto e aberto, é de feição ondulada, plantado de árvores, medindo 800m em comprimento e 335 de largura.
O senhor Wright, contudo, está bastante satisfeito com o ambiente. Sua máquina, diz confiante, pode voar sob ventos de 18 milhas por hora, enquanto carrega duas pessoas, e o evento é um bom assunto para validar uma patente.
Ele e seu irmão, sustenta, são protegidos por suas patentes, especialmente as relacionadas à manutenção do equilíbrio, e se forem prejudicados saberão como se defender.
Do senhor Wright tem sido dito, em relação ao desempenho das máquinas de voar da França, que as considera como meras brincadeiras de criança, mas isto, diz, não é o caso, e declarou acompanhar os experimentos de seus amigos franceses com admiração, que conseguem voar a despeito dos rudimentares controles para uma estabilidade segura.
Os irmãos Wright acreditam que resolveram o problema da preservação do equilíbrio, que é o ponto crucial do problema da aviação. Sua invenção principal – o mecanismo que permite a inclinação das asas – dá-lhes a estabilidade transversal e, além disto, facilita a ação do leme pelo qual podem mudar o curso. Suas máquinas compõem-se de duas superfícies superpostas. O motor é posto entre essas duas superfícies, um pouco à direita da linha central e se comunica às duas hélices de madeira no nariz [do aeroplano] por uma corrente. O piloto e o passageiro sentam-se perto do motor, contrabalançando o seu peso.
Os lemes que alteram a elevação são postos na frente, e o leme de direção à ré, todos manipulados por meio de alavancas, O motor, que tem quatro cilindros, não difere essencialmente daqueles utilizados em automóveis e pesa 75 kg. Desenvolve 25 HP, com [o cilindro] medindo 108mm, e 100mm [de curso de pistão]. Não tem carburador e o combustível é introduzido diretamente no cilindro por uma bomba.
Ao partir contra o vento, o aeroplano desliza sobre cilindros e por trilhos de madeira de 40m de comprimento, e levanta [vôo] após uma corrida de 25m.
Em atmosfera calma, é lançado por uma série de mecanismos de catapulta. O senhor Wright sustenta que, para um aeroplano voar, não é necessário um motor extraordinariamente leve ou de grande força, e está bastante satisfeito com o motor de 25HP, pesando 3kg/HP. Ele e seu irmão não mais voam deitados sobre a máquina, mas definitivamente na posição sentada.
Em maio ultimo, tentaram novos arranjos em Kill Devil, na Carolina do Norte, perto de Kitty Hawk, onde fizeram seus experimentos planadores de 1900-1903. Estas últimas tentativas foram erroneamente divulgadas pela imprensa americana, que por toda parte espalhou as mais absurdas histórias sobre seus feitos e o senhor Wright condena as declarações fantasiosas dos jornalistas seus conterrâneos, que o descrevem como voando a 1000m acima do mar. Declara enfaticamente que jamais cobriu uma distância maior que 39km, voando a não mais que 35m.
O senhor Orville Wright, seu irmão mais novo, não saiu dos Estados Unidos, onde, em setembro, trará à presença dos delegados oficiais do governo americano uma outra máquina, pela qual pagarão 5000 libras, o que satisfaz as condições contratadas.
As tentativas, que se darão no Fort Myers, na Virgínia, sob a supervisão do Signal Corps, incluem (1) um teste de velocidade média, 5 milhas de ida e 5 de volta, (2) um teste de poder de voar por uma hora à velocidade de 40 milhas por hora, com duas pessoas à bordo. Se fizer menos que 40 milhas em uma hora, o preço pago será reduzido e, se fizer menos do que 36 milhas [por hora] será rejeitado completamente.
Se a potência motora provar-se inadequada,o dinheiro da caução, de 10% ou 500 libras, depositado não será reembolsado. Se, por outro lado, a velocidade exceder-se ao estipulado, o preço será acrescido numa escala tal como próxima ao dobro, caso atinja 60 milhas por hora. O contrato reza uma venda simples da máquina, e não por qualquer licença sob patentes, ou por qualquer monopólio de fabricação.
Será conhecido brevemente durante o presente mês, ou nos primeiros dias de agosto, o que os irmãos Wright podem fazer. As condições de seus contratos são duras, contudo eles têm sido obrigados a aceitá-los. Por quê? Porque as atitudes que tomaram desde 1903 têm sido desnecessariamente misteriosas.
Enganam-se, com referência aos valores intrínsecos de sua invenção, e têm mantido o grande engano de acreditarem estar consideravelmente à frente dos experimentadores franceses, dispensando algumas boas vantagens oferecidas. Ademais, não há o como lutar contra os jornalistas e financiadores, uma vez que as imprensa tem estado desfavorável a eles. Somente pensaram em fazer contatos com diferentes governos, aos quais escreveram: “Aqui está uma máquina uma máquina que é capaz de voar 50km. Será sua por um milhão de francos, pagáveis após um teste de avaliação”. Mas governos desconfiam de patentes que possam facilmente ser copiadas. Não compartilham da confiança dos irmãos Wright e lhes dá apenas uma moderada atenção, que é substituída por indiferença desde a data do memorável experimento de Santos Dumont, em 12/11/1906. Desde aquele dia, a máquina de voar dos irmãos Wright perdeu o valor. Após Santos Dumont, vieram Farman, Delagrange, Blériot, Esnault-Pelterie e outros, os quais demonstraram vezes e mais vezes, à luz do dia, ante uma multidão entusiasmada, que o vôo artificial é um fato consumado. Estes são, pois, a marcha dos acontecimentos que obrigaram os irmãos Wright a baixar suas pretensões. Mas é justo reconhecer que suas atividades estimularam o entusiamo dos investidores franceses e a atenção do público para a aviação. Se seus equívocos lhes foram prejudiciais, para muitos trouxeram boa sorte, notavelmente para o senhor Blériot, que ganhou, no dia 6 deste mês, a primeira vitória moral sobre eles, ao manobrar um monoplano a uma altura de 20m perfeitamente balanceada
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