06 julho 2008

O instante decisivo

Centro Cultural Banco do Brasil - 100 anos de Japão - 2008

Estive estudando, mais uma vez e sempre, os trabalhos dos grandes fotógrafos.
Cartier-Bresson, Werner Bishof, Rene Burri, Richard Kalvar, enfim a Magnum é minha referência.

Comprei uma câmera compacta para dar de presente a uma menina que entra na adolescência.
Saí, ontem, pelo Rio a fotografar várias cenas, o que aparecesse, mas sempre com os mestres na cabeça, a fim de experimentar a câmera a dar de presente e ter experiência com o equipamento para ensiná-la posteriormente.

Acredito ser a fotografia uma das portas de entrada para o mundo, pois através dela temos de prestar atenção no que é enquadrado pelo visor e dar nossa contribuição ao resultado. Neste esforço, tornamos-nos ativos e não simplesmente viajantes do tempo inútil. Creio ser um bom presente.

Noto que meus preferidos têm uma tendência aos grandes contrastes, no que se refere à parte plástica da produção fotográfica e, sobretudo neste campo, o da qualidade da imagem retratada, o foco mais especificamente.

Mas a qualidade da foto depende não só da habilidade do fotógrafo, mas creio que mais e profundamente à qualidade do equipamento, além de uma boa revelação e cópia, no caso das câmeras de filme. Mais diretamente, uma boa lente, uma boa foto, é o que depreendo.

Bresson preferia a Leica, peça de museu aquela, a do modelo do grande fotógrafo, embora a marca seja ainda fabricada. As primeiras possuíam lente de primeira qualidade, mecânica robusta, montagem esmerada. Hoje, é fabricada pela Panasonic sob o apelido de Lumix e é montada na China e é com esta que testo o presente a ser dado.

Nada a temer da habilidade chinesa, mas os alemães tinham muito cuidado e sendo eles os mais reconhecidos 'mecânicos' do mundo, não há como comparar uma produção artesanal nos tempos dos primeiro trabalhos de Bresson com a de hoje.

O triste disto é que, por exemplo, Gerhard Strauss, um conhecido meu da Alemanha, diz que por lá só compram máquinas japonesas, montadas talvez também na China, e que a Leica não vende mais naquele país: renderam-se ao Japão.

Eu gostaria de ter uma Leica mas, mesmo que tivesse uma jóia do início do século XX, não mais adiantaria, pois seria de filme e isto implica em muito mais coisas além da qualidade da foto capturada: os laboratórios de filme estão desaparecendo e os que existem são todos mecanizados, preparados para a quantidade e longe do melhor resultado.

Resta-nos as novas, digitais, de grande qualidade. Resta-nos desembolsar muito dinheiro para elas, mas isto sempre foi assim, mesmo com as de filme naqueles tempos dourados.

Para os brasileiros, sempre é tudo muito caro. Não fabricamos mas somos punidos com os impostos de importação, que, por esta barreira, deveria estimular a produção, pesquisa, mais tecnologia da indústria óptica brasileira, mas, como sempre, isto não acontece, e os impostos ficam apenas como pretexto de arrecadação, que não é pequena.

Acresce-se a isto a crítica que fazem os saudosos dos filmes, e entendidos do assunto, que a qualidade da película é ainda a melhor.
Acredito ser questão de tempo a forma digital superar o filme - tudo nesta vida passa -, até uma nova tecnologia no futuro vier substituir o que é novo hoje.

Vou registrar aqui, para futura comparação e curiosidade sobre este momento que um dia será passado distante: as minhas câmeras sonho-de-consumo de hoje são a Nikon D40 ou Canon EOS Rebel. Digitais.


Mas, por outro lado, também quero deixar patente que a Canon A430, compacta, modesta, é uma senhora câmera, melhor que qualquer outra feita por aquela indústria japonesa no seu nicho de mercado. Quer conferir? Acesse o site da Márcia Calixto e veja por si mesmo.

Voltando ao assunto iniciado lá em cima, ontem, andando pelo centro, tentei imitar os fotógrafos citados e fiz algumas fotos, como esta do blog.

À maioria achei que não ficou ruim; não, mas admito que preciso de mais técnica.

Esta foto foi feita com a Panasonic Lumix LS75, de 7,3 megapixels, lente Vario.

Um comentário:

Anônimo disse...

O texto, como sempre, muito bem colocado.
Realmente, a câmera ajuda bastante
no resultado final, mas o domínio
dela é quase tudo, não é?
Meu sonho de consumo.. ter o equipamento e o domínio. Um dia chego lá.

E sua foto no CCBB ficou ótima!
Márcia