Dezembro; 24.
Um pinheiro no centro de uma sala sustentava, em seus inúmeros braços, vários enfeites e fitas coloridos, com estrelas e bolas reluzentes por todo o cone verde.
Debaixo dos ramos e sobre o carpete, vários pacotes ornados com papéis finos e brilhantes assinalavam os nomes de todos os membros da família.
Um menino olhava a paisagem branca de neve, vislumbrando os galhos secos através da janela congelada e embaçada por seu hálito quente, que o obrigava a, de tempos em tempos, passar a mão enluvada no vidro, mirando o jardim monocromático.
Sua imaginação levava-o a outra terra mais feliz que a sua, com um Natal colorido muito além das duas cores que enxergava.
Num outro lugar de latitude sul, os flamboyants se enfeitavam para a grande noite: dia após dia, misturavam verde, vermelho e laranja contra o azul do céu.
Pela janela fechada e sob o zumbido do ar-condicionado de seu quarto, uma menina olhava as folhas e flores daquela árvore e pensava se, com um pouco de neve, o Natal não poderia se transformar numa festa mais alegre, como naqueles motivos de cartões, que se penduravam no pinheiro de plástico enfeitado por sua mãe lá na sala, a mostrar cenas de anjinhos com bochechas rosadas e neve de algodão. Pela casa, como todos os anos, escondidos por seus pais, vários presentes magicamente apareceriam junto aos enfeites da falsa lareira, à meia-noite.
Talvez no próximo ano ela fosse para Nova Iorque, nessa mesma ocasião: Aí seria um verdadeiro Natal, com trenós e patins no Central Park.
Noutra coordenada sul, uma menina brincava com uma boneca antiga e desmembrada, em um casebre sobre um morro de construções sem telhas, onde os furos no zinco deixavam que o sol redesenhasse no chão batido a Via Látea que ela tanto apreciava nas noites de verão.
Vestia e tornava e despir sua "bruxinha", limpando as gotas de suor que teimavam em escorrer por suas têmporas: "Sueli" fora encontrada por ela mesma na lixeira coletiva da favela dois anos antes, um terço de sua vida inteira - um verdadeiro milagre, um presente de algum Papai Noel extemporâneo. Do nascimento de Cristo ela sabia, mas de árvores de Natal apenas ouvira falar.
A Véspera resumia-se na igreja, lá em baixo no asfalto, quando e onde sua mãe iria orar e pedir a Deus um pouco mais de compaixão.
Num gueto, num lugar incerto e deslembrado, um menino tremia de frio, trazido pelas rajadas de um vento cortante, que entrava pelos vidros quebrados da janela, e que também balançava um galho de pinheiro, do lado de fora.
Pensava ele no quanto seria bom ter um pouco mais de carvão para um antigo e empoeirado aquecedor.
Sentiu-se feliz quando se lembrou que iria ao Templo, onde poderia esconder-se do frio durante a cerimônia, da qual tinha apenas noções. Só sabia que era bom estar lá.
Mas é tempo de alegria. Reflita sobre isto: melhore as coisas, tente tornar o mundo justo, pois seu ato trará em si mesmo a alegria da participação e da contribuição.
E alegria é estar com Deus, a Paz; é tudo que queremos.
Em um outro tempo, numa gruta, um recém-nascido, mais pobre e mais rico que qualquer outro, numa noite fria de mesmo dezembro, em uma manjedoura de estábulo, chegou para mostrar o Caminho.
Um feliz Natal para você; esteja onde estiver.
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Um comentário:
Sensibilidade vinda de um coração muito bonito... Bela forma de colocar.
Que possamos todos entender e viver o verdadeiro sentido do Natal. E, de minha parte, um Natal que toque os corações, acima de fitas, enfeites e presentes, é o que eu desejo.
Que o 'Dono da Festa' possa sorrir, aconchegado dentro de cada um de nós, e ao redor - em nós também à medida em que acolhemos o outro. E que sintamos paz por isto. E esperança. Recebamos luz e sabedoria, e renasça o espírito de solidariedade. Menos egoísmo... O mundo anseia por isto, não é mesmo?
E, a você, querido Mauro, muita paz, fé, amor, e tudo o mais que o faça feliz... Que Ele o abençoe.
Beijos e um abraço carinhoso.
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