A luz forte do sol lá fora fazia um grande contraste com o escuro do cômodo.
Poucas pessoas. Móveis rústicos, panelas penduradas e com teias de aranha. Gente magra.
Era um grupo de dez, doze, que mais pareciam estátuas. Desgrenhadas, sem beleza, mesmo entre as mais jovens.
Havia muito que não
tomavam banho e o odor e as moscas também de há muito que haviam deixado de incomodar.
Aprenderam a falar palavras essenciais, num novo dialeto.
Algumas olhavam a luz de fora; outros distraíam-se com coisas miúdas ao alcance da mão.
Ninguém agitava. O silêncio era profundo.
___ Ninguém beber da água arranjei – falou Santiago, enquanto escondia o vasilhame de líquido barrento - com dois dedos de nível - dos olhos dos outros.
Poucas pessoas. Móveis rústicos, panelas penduradas e com teias de aranha. Gente magra.
Era um grupo de dez, doze, que mais pareciam estátuas. Desgrenhadas, sem beleza, mesmo entre as mais jovens.
Havia muito que não

Aprenderam a falar palavras essenciais, num novo dialeto.
Algumas olhavam a luz de fora; outros distraíam-se com coisas miúdas ao alcance da mão.
Ninguém agitava. O silêncio era profundo.
___ Ninguém beber da água arranjei – falou Santiago, enquanto escondia o vasilhame de líquido barrento - com dois dedos de nível - dos olhos dos outros.
Ele não faria como os outros. Ficaria. Até o fim. Se estavam decididos, ele também ficaria firme na própria opinião. E sua firmeza era a de não fazer nada. Estava cansado da luta. Capitulava, mas de modo diferente do dos outros.
___ Covardes! - disse consigo.
E olhou para trás para certificar-se de que todos ouviram, por via das dúvidas.
Escutaram mas permaneceram calados. Santiago tinha a consciência de que escamoteavam a intenção para não despertarem suspeita; todo cuidado era pouco na hora de roubar.
Pura dissimulação.
Santiago pensou mais um pouco e achou que todo pensamento como aquele era de completa inutilidade.
___ Vai morrer último, devagar... – retrucou Pedro molemente, enquanto afiava a faca sem pressa.
___ Pior pra você – continuou Pedro.
___ Sua parte pra outros... – falou ainda mais.
Os homens falaram sem gestos, olhando-se fugazmente nos olhos.
O olhar fixo, aquele do reino animal, deveria ser sempre evitado; disposição de luta; desafio; e luta era, sobretudo, movimento.
O telhado crepitou.
O mais velho, cuja certidão de nascimento apresentava-se na cabeça branca, resmungou qualquer coisa.
___ Lembro água grande... – disse uma mulher, e interrompeu a fala para economizar o todo mais um pouco.
O silêncio veio tomar seu lugar ainda mais.
___ Na cidade hidrantes, fontes espirrando acima...
Uma criança tencionou limpar o suor do rosto, que a mãe não deixou, passando a língua para aproveitar a umidade.
___ Pára! – alguém disse de lugar incerto naquele metro-quadrado.
___ Mamãe... Com sede... - choramingou a criança.
___ Agora não demorar... Só mais pouquinho, meu bem...
___ Lembro desmatamento... – outra voz anônima.
A mãe olhou em volta.
___ Se vamos acabar com isso, porque ainda estamos nessa idiotice de economizar palavras? O que tínhamos de economizar antes eram as nossas florestas, nossos rios... Agora só existe areia... Me dá logo essa caneca! – disse, estendendo a mão para Pedro.
Santiago olhou para ela; queria saber se tinha mesmo coragem de continuar com aquilo.
A mulher deu da caneca, passada pela mão de Pedro, à filha e deixou-a beber metade. A menina fez uma careta.
___ Ruim...
A mãe tomou o resto e também fez uma careta, devolvendo o vasilhame.
___ Não vou ficar por último – falou Pedro, tomando sua parte inteiramente.
Logo os demais quase disputaram a vez, se não fosse o velho hábito de economizar movimentos.
Em poucos minutos, somente Santiago restava vivo.
Fez um gesto despeitado com a mão na direção do grupo, como se espantasse uma mosca incômoda.
Voltou-se para fora.
Do alto do morro, viu o Pão de Açúcar elevar-se imponentemente sobre dunas de areia, a perder de vista por todos os lados.
Santiago pensou mais um pouco e achou que todo pensamento como aquele era de completa inutilidade.
___ Vai morrer último, devagar... – retrucou Pedro molemente, enquanto afiava a faca sem pressa.
___ Pior pra você – continuou Pedro.
___ Sua parte pra outros... – falou ainda mais.
Os homens falaram sem gestos, olhando-se fugazmente nos olhos.
O olhar fixo, aquele do reino animal, deveria ser sempre evitado; disposição de luta; desafio; e luta era, sobretudo, movimento.
O telhado crepitou.
O mais velho, cuja certidão de nascimento apresentava-se na cabeça branca, resmungou qualquer coisa.
___ Lembro água grande... – disse uma mulher, e interrompeu a fala para economizar o todo mais um pouco.
O silêncio veio tomar seu lugar ainda mais.
___ Na cidade hidrantes, fontes espirrando acima...
Uma criança tencionou limpar o suor do rosto, que a mãe não deixou, passando a língua para aproveitar a umidade.
___ Pára! – alguém disse de lugar incerto naquele metro-quadrado.
___ Mamãe... Com sede... - choramingou a criança.
___ Agora não demorar... Só mais pouquinho, meu bem...
___ Lembro desmatamento... – outra voz anônima.
A mãe olhou em volta.
___ Se vamos acabar com isso, porque ainda estamos nessa idiotice de economizar palavras? O que tínhamos de economizar antes eram as nossas florestas, nossos rios... Agora só existe areia... Me dá logo essa caneca! – disse, estendendo a mão para Pedro.
Santiago olhou para ela; queria saber se tinha mesmo coragem de continuar com aquilo.
A mulher deu da caneca, passada pela mão de Pedro, à filha e deixou-a beber metade. A menina fez uma careta.
___ Ruim...
A mãe tomou o resto e também fez uma careta, devolvendo o vasilhame.
___ Não vou ficar por último – falou Pedro, tomando sua parte inteiramente.
Logo os demais quase disputaram a vez, se não fosse o velho hábito de economizar movimentos.
Em poucos minutos, somente Santiago restava vivo.
Fez um gesto despeitado com a mão na direção do grupo, como se espantasse uma mosca incômoda.
Voltou-se para fora.
Do alto do morro, viu o Pão de Açúcar elevar-se imponentemente sobre dunas de areia, a perder de vista por todos os lados.
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