17 agosto 2009

Cálice de Holanda


De tão gorda a porca já não anda, de muito usada a faca já não corta...

Chico disse isto há muitos anos e muito bem sobre a ditadura militar,sobre o uso intensivo de força.
Não se podia falar, mostrar erros; a lâmina estava sempre pronta.

O senado (assim, em letras minúsculas, e inclua-se nesta pequenez a excelência parlamentar que desejar assumi-la) tem nos proporcionado o que há de mais rasteiro em termos de moral. É a bola da vez, como se diz popularmente. Já outros integrantes do estado tiveram a sua oportunidade de mostrar o lado escuro das negociatas.

Ali forja-se uma nova conduta, que, por vasos comunicantes sem torneiras restritivas, passa o veneno para todo o sistema.
Dizia um camelô com uma visão de negócios muito além da de seus pares: uma pequena colher de veneno num balde de água límpida espalha-se por todo o conteúdo.

Nos tempos do regime de exceção (locução bonita para uma realidade plúmbea), as maiores patentes ocupavam, na lógica vertical militar, os maiores cargos e, por condução automática, descia a ladeira nos (des)mandos. Faltou chegar a sargento o título de algum dirigente de órgão estatal.
Não deu tempo. Se ficassem mais alguns poucos anos no poder, teríamos cabos ou soldados dirigindo o Detran.

A população tem a automática aceitação de que Brasília, por voto ou por golpe, dê a direção do que é certo ou errado. O que se faz no Distrito Federal, repercute nos degraus mais baixos da hierarquia social, de modo que, se os legisladores fazem e se regulam por tais e tais procedimentos, quem seremos nós, a gente comum definida por Lula, para contrariar?

Brasília, entretanto, não gosta muito disto. Acha que seus privilégios passam por uma isolada fruição. Não é possível que todos ajam da mesma forma, segundo eles. A lei escrita, o preto no branco, é para ser seguida por todos (os outros).

É nítido isto nos sarneys, que não são apenas os herdeiros de josé ribamar. Sob este sobrenome, tão emblemático, se abriga o estado (também em letras pequenas) inteiro, pois é uma família apenas.

A imprensa, a cada dia, nos mostra uma nova faceta do congresso, sem que nenhuma providência seja tomada por algum órgão competente. Todos são incopetentes diante do poder do estado, pois também são parte dele. É difícil meter a faca na própria carne e infinitamente mais galhardo espetar-se a de outrem.

De embainhada a faca do estado não o cortará jamais; de muito usada, a faca da opinião pública já não corta; a porca estatal segue e, de tão gorda, não consegue mais dar um passo, a não ser na direção do cocho.

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